O presidente peruano, Martín Vizcarra, frustrou um golpe dos deputados herdeiros do ditador Alberto Fujimori, que tencionavam substituir os juízes do Tribunal Constitucional por fujimoristas e, assim, soltar Keiko Fujimori, filha do tirano, presa desde 31 de outubro de 2018, em meio ao escândalo de lavagem de dinheiro entregue à sua campanha pelo esquema da Odebrecht (detalhes sobre os delitos de Keiko podem ser vistos na matéria, “Keiko Fujimori é presa por lavagem de dinheiro”, cujo link é: https://horadopovo.com.br/peru-keiko-fujimori-e-presa-por-lavagem-de-dinheiro/ ).
Os congressistas fujimoristas que, em uma campanha lastreada em dinheiro ilícito entregue pela Odebrecht, fizeram maioria parlamentar, procuravam indicar as substituições dos juízes quando o presidente, com o apoio de seu Conselho de Ministros, enviou decreto impedindo a substituição.
Em um primeiro momento, tais parlamentares tentaram usar a segurança da Casa Legislativa peruana para impedir a entrada em plenário do primeiro-ministro, Salvador Solar que conseguiu adentrar o plenário junto com todos os ministros que o acompanhavam. Ele apresentou o memorando presidencial, que foi rejeitado pelos parlamentares.
O presidente Vizcarra, usando suas prerrogativas constitucionais que lhe permitem a suspensão do Congresso sempre que este negue apoio a duas questões de Estado ou políticas, suspendeu o parlamento e convocou eleições gerais para 26 de janeiro de 2020. A primeira questão negada, anteriormente, foi a sua iniciativa de antecipar as eleições, previstas para 2021, para o próximo ano.
Na verdade, a antecipação já se justificava uma vez que o partido majoritário, o fujimorista Força Popular, tem, além de Keiko, os principais líderes investigados por corrupção no caso Odebrecht-eleições e agiam sistematicamente para bloquear todas as medidas do governo do país.
Assim que a notícia foi conhecida pela população, através de mensagem do presidente, multidões em júbilo tomaram as ruas da capital Lima e ainda das cidades de Huancayo, Cusco, Airequipa, Puno, Trujillo e Tacna, para celebrar a medida e apoiar Vizcarra.
Os fujimoristas (86 dos 130 parlamentares) o desafiaram, declarando vaga a Presidência e indicando a vice-presidente, a congressista Mercedes Aráoz, para o cargo, numa deliberação ilegal, pois realizada com o parlamento já dissolvido.
Logo após o anúncio da medida, o presidente Vizcarra se dirigiu ao Palácio de Governo, onde recebeu o chefe do Comando Conjunto das Forças Armadas (CCFFAA), Cesar Astudillo, junto com os comandantes do Exército Jorge Celis, da Marinha, Fernando Cérdan, e da Força Aérea, Rodolfo García.
Logo após o encontro, foi emitido um comunicado presidencial informando que o “Chefe do CCFFAA do Peru e os comandantes gerais do Exército, Marinha, Força Aérea e Polícia Nacional reafirmam, desde o Palácio do Governo, seu pleno respaldo à ordem constitucional e ao presidente Martín Vizcarra, como Chefe Supremo das Forças Armadas e da Polícia Nacional do Peru”.
A congressista Verónika Mendoza, eleita pela coalizão Frente Ampla, que encabeçou a marcha em Lima, declarou: “Estamos aqui celebrando essa vitória que nos custou muita luta. É o primeiro passo para que o povo peruano seja atendido”.
“Me emociono com as mudanças que as novas eleições possibilitam”, afirmou o cidadão Miguel Márquez, de 60 anos, presente à manifestação de apoio ao presidente.
Em seu comunicado, a Confederação Geral dos Trabalhadores do Peru (CGTP) informa que convocou os trabalhadores e a população em conjunto com a Assembleia Nacional dos Povos (ANP) e a Coordenação Nacional de Direitos Humanos, entre outros coletivos, a se concentrarem na Praça San Martín, em Lima e em todo o país. Para a CGTP, é fundamental “apoiar a dissolução do Congresso pois pretendia impor um Tribunal Constitucional com magistrados questionados e suspeitos de respaldar a corrupção e facilitar a liberação de Keiko Fujimori”, atualmente presa por corrupção.