O presidente da França, Emmanuel Macron, afirmou que seu governo está ao lado da Itália e da Espanha e que não quer ver uma “Europa egoísta e dividida” por conta de um enfrentamento econômico causado pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2).
“Não vamos superar essa crise sem uma solidariedade europeia forte em nível sanitário e financeiro. A União Europeia, a zona do euro, se resumem a uma instituição monetária e a um conjunto de regras que permitem que cada Estado aja por conta própria? Ou todos agem juntos para financiar os nossos países, as nossas necessidades nessa crise vital?”, manifestou Macron em entrevista para vários jornais italianos, na sexta-feira, 27.
No debate sobre as soluções aos problemas colocados pela pandemia, o presidente francês defendeu os chamados “coronabonds” ou “eurobonds”, uma proposta que cria títulos de dívida comum para a zona do euro e que foi fortemente defendida por italianos e espanhóis no Conselho Europeu, em reunião extraordinária realizada por teleconferência na quinta-feira, 26, que teve a participação de representantes dos 27 integrantes do bloco econômico.
O primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, conclamou os dirigentes europeus a uma postura solidária ao assinalar que a União Europeia (UE) não deve cometer “erros trágicos” na gestão do coronavírus, em uma entrevista ao jornal Il Sole 24. “A inércia deixaria para nossos filhos a imensa carga de uma economia devastada”, afirmou o primeiro-ministro ao jornal econômico italiano.
Macron disse que “dez países da Zona do Euro, representando 60% do PIB, explicitamente defenderam a ideia do ‘coronabond’ […], de uma capacidade de endividamento comum, seja qual for o nome escolhido e de um aumento do orçamento da União Europeia para permitir um apoio real aos países mais atingidos por essa crise”.
“Temos que evitar que a Europa cometa erros trágicos. Se a Europa não estiver à altura deste desafio sem precedentes, o edifício europeu em sua totalidade poderia perder a razão de ser”, advertiu o primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, propondo que “apresentemos um grande plano que apoie e recupere a economia europeia em sua totalidade”.
O ministro das Relações Exteriores da Itália, Luigi Di Maio, afirmou no sábado, 28, que é “importante” ver que todas as forças políticas, “até aquelas que antes estavam tentadas a sair da União Europeia”, estão debatendo a criação dos “eurobonds”. “Os eurobonds são uma grande oportunidade para a Europa demonstrar que sabe reagir a uma crise como essa. É verdade que hoje todos precisamos compartilhar os riscos com os eurobonds, mas podemos também dividir as grandes oportunidades do amanhã”, ressaltou Di Maio em uma entrevista à “EuroNews”.
A Itália registrou na sexta-feira, 27, o recorde de mortes por coronavírus no intervalo de 24 horas, com 969 vítimas. O número total de mortes agora é de 9.134. É o país mais afetado da Europa e o que registra o maior número de vítimas fatais no planeta.
“Alguns países, como a Alemanha, expressaram suas reticências. Nós decidimos continuar com esse debate fundamental, no mais elevado nível político, nas próximas semanas. Não podemos abandonar essa batalha. Prefiro uma Europa que aceite as divergências e debates do que uma unidade de fachada que conduz à imobilidade”, declarou.
A Alemanha questionou a criação dos chamados ‘coronabônus’ e defendeu o uso do Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEDE), o fundo de resgate da zona do euro.
Uma posição questionada pela Itália porque, segundo Conte, “não é o que precisamos agora”.
“O MEDE é um instrumento adotado para socorrer os Estados membros que enfrentam tensões financeiras relacionadas com choques assimétricos. O coronavírus, ao contrário, está provocando um choque simétrico, que pode levar à depressão, ao mesmo tempo e de maneira inesperada, nossos sistemas econômicos e sociais”, destacou o primeiro- ministro italiano.
“É uma coisa completamente diferente da crise de 2008. Estamos em um momento crítico da história europeia”, concluiu Conte
Os líderes da UE anunciaram na quinta-feira um prazo de duas semanas para alcançar uma resposta comum para conter o impacto econômico do coronavírus.