Quase todo o lucro da Petrobrás em 2021, de R$ 106 bilhões, principalmente pelos elevados preços dos derivados que fizeram explodir nos aumentos da gasolina, diesel, gás de cozinha, entre outros, foram para os acionistas, na maioria estrangeiros, transferindo renda da sociedade brasileira
“Eis por que a gasolina está cara. Porque Bolsonaro foi eleito para redistribuir a renda do povo brasileiro para os ricos do Brasil e do exterior”, criticou o economista e professor do Departamento de Economia da UnB José Luis Oreiro, ao comentar o anúncio pela direção da Petrobrás de mais uma distribuição de dividendos, no valor de R$ 37,3 bilhões, a ser paga em maio.
A notícia veio com a divulgação do balanço da estatal do ano 2021, com um lucro recorde de R$ 106,668 bilhões. “Lucros obscenos da Petrobrás de R$ 106 bilhões, fruto do aumento dos preços dos derivados. Se não fosse pouco, a empresa distribuiu de lucros e dividendos em 2021 cerca de R$ 101,4 bilhões”, ressaltou Oreiro. “Isso é devido à política de preços da Petrobrás que está privilegiando a distribuição de lucros a acionistas – a geração e distribuição de lucros – e portanto transferindo renda da sociedade brasileira para os acionistas da Petrobrás, que são tanto domésticos como estrangeiros”.
Pelos resultados atingidos no ano passado, os acionistas receberão R$ 101,4 bilhões, o maior patamar da história da petroleira. Deste montante, apenas 28,67% irão de fato para a União. A direção informou ainda, que o valor dos dividendos complementares será atualizado pela variação da taxa básica de juros (Selic) de 31 de dezembro de 2021 até a data do pagamento, previsto para o dia 16 de maio.
O lucro recorde de 2021, que é 15 vezes superior aos ganhos de 2020, foi atribuído, principalmente, pela alta do preço do barril do petróleo no mercado internacional. Foram arrecadados no ano R$ 3,7 bilhões com a extração de óleo e gás e mais R$ 272,97 bilhões com a comercialização de derivados de petróleo.
“R$ 106,7 bilhões no acumulado de 2021. É um número bastante superior ao que vimos em 2019 (R$ 40 bi), 2010 (R$ 35 bi), 2008 e 2011 (R$ 33 bi, cada), os melhores resultados até então. Atualizado pela inflação, o ano de 2008 é o que chega mais próximo, R$ 72 bilhões em valor atual”, destacou o economista Eric Gil Dantas, do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Sociais (Ibeps), no site da Aepet (Associação dos Engenheiros da Petrobrás. “Parte disso, R$ 23,4 bilhões, veio de receitas “não recorrentes”. Principalmente devido a um impairment (R$ 18,8 bilhões) e a dinheiro recebido pelas privatizações (R$ 10,9 bilhões). Mesmo assim, o lucro recorrente da companhia ainda ficou em R$ 83,9 bilhões”.
Entraram também no balanço, a privatização da Refinaria Landulpho Alves (Rlam), na Bahia, entregue ao fundo Mubadala dos Emirados Árabes Unidos, por apenas US$ 1,6 bilhão, e uma parcela relativa à venda do campo Carcará.
Em 2021, os preços dos combustíveis explodiram em todo o país por conta da política de Preço de Paridade de Importação (PPI), com aval do governo Bolsonaro, política que atrela os preços internos da gasolina, diesel, gás, e demais produtos produzidos pela Petrobrás, às cotações internacionais e ao dólar. Uma alta nas refinarias que de cerca de 70% no ano passado,
Para os consumidores, em doze meses (até janeiro de 2022), os preços dos combustíveis no Brasil acumulam alta bem acima da inflação oficial de 10,38%: Etanol (54,95%), Óleo Diesel (45,72%), Gasolina, (42,71%), Gás de botijão (31,78%).
No quarto trimestre de 2021, a Petrobrás lucrou R$ 31,5 bilhões, 47,4% a menos que o registrado em igual período de 2020 – época em que a direção da estatal inflou o balanço da estatal por meio de manobras contábeis, como a reversão de impairment (deterioração de ativos na contabilidade), ganhos cambiais, e reversão de gastos passados do plano AMS (plano de saúde da Petrobras). Devidos a essas manobras, os acionistas da Petrobrás conseguiram levar R$ 10,3 bilhões em dividendos, num ano em que a estatal teve seu desempenho operacional prejudicado pela pandemia de Covid-19 e os brasileiros ficaram mais pobres.