“Explorar o 31 de março”, diz em artigo o ex-ministro da Secretaria de Governo na gestão Bolsonaro
O general Carlos Alberto dos Santos Cruz, da reserva do Exército, publicou um artigo no jornal Estadão denunciando que Jair Bolsonaro decidiu voltar dos Estados Unidos nesta quinta-feira (30) para explorar o “embuste” do dia 31 de março, referente ao golpe militar de 1964.
O militar aponta que Jair Bolsonaro “manteve silêncio inaceitável” diante de atentados terroristas e de uma tentativa de golpe, “como que esperando o ‘circo pegar fogo’ para ver como se beneficiar”.
Santos Cruz é um dos mais respeitados militares do Brasil, sendo prestigiado internacionalmente após ter comandado a maior missão de paz da ONU, chefiando mais de 23 mil capacetes azuis na República Democrática do Congo entre 2013 e 2015.
Leia o artigo na íntegra, que foi publicado no Estadão:
Populista, aproveitador. Nesta quinta-feira, 30, volta ao Brasil o ex-presidente fujão, que desavergonhadamente fugiu do Brasil ainda durante seu mandato, mostrando ao mundo inteiro o Brasil como republiqueta com um governante medíocre. Vergonhoso para o País!
Durante quatro anos tentou encobrir seu despreparo com fanfarronices e shows de besteiras. Embusteiro que destruiu a direita e o conservadorismo no Brasil, se apresentando como “de direita-patriota-conservador” e explorando dísticos de nacionalismo e a religiosidade. Deixou um Brasil doente e em conflito permanente por conta de fanatismo político. Desgastou as instituições (FA, MRE, PF, PRF, RF, Saúde, Educação etc). Teve a seu favor uma milícia digital, uma máfia na internet, manipulando parte da opinião pública e alguns seguidores com uma verdadeira indústria de fake news.
Na campanha para a reeleição não foi capaz de sair do nível rasteiro de briga de rua e apresentar realizações e projetos. Ficou à vontade no seu padrão político, fazendo uma campanha xingatória do mais baixo nível. Com a perda das eleições, se fez de vítima, com “trauma eleitoral”, numa omissão absurda e encenações ridículas.
“Desgastou as instituições (FA, MRE, PF, PRF, RF, Saúde, Educação etc). Teve a seu favor uma milícia digital, uma máfia na internet, manipulando parte da opinião pública e alguns seguidores com uma verdadeira indústria de fake news”
Não cumpriu suas obrigações mínimas de se pronunciar sobre os assuntos e acontecimentos nacionais. Manteve silêncio inaceitável, como que esperando o “circo pegar fogo” para ver como se beneficiar (claro que sem a responsabilidade pelo desastre). Não teve nenhuma consideração e respeito com os acampados manipulados pelo bombardeio de desinformação da milícia digital, que exploraram suas aparições patéticas como fantásticas mensagens enigmáticas.
Nem ele nem seus seguidores mais próximos investidos de funções ministeriais ou legislativas apareceram uma única vez para dizer para os acampados voltarem para suas casas, que decisão política é própria dos políticos, que decisões políticas não seriam tomadas pelas Forças Armadas. Teve até emissário que foi levar um pen drive ao sheik no Qatar (em dia de jogo do Brasil na Copa do Mundo, claro), mas não teve um para ser honesto com os seguidores manipulados nos acampamentos na frente dos quartéis.
“A transferência de responsabilidade, a falta de coragem de assumir as consequências das suas obrigações como presidente da República, foi uma das maiores traições, uma das maiores covardias já feitas às FA, ao Exército em particular”
A decisão política tinha que ser do poder político, do presidente da República. A transferência de responsabilidade, a falta de coragem de assumir as consequências das suas obrigações como presidente da República, foi uma das maiores traições, uma das maiores covardias já feitas às FA, ao Exército em particular.
Nenhum presidente da República cometeu um ato de traição desse nível contra as FA. Dois meses sem trabalhar após as eleições; fuga; três meses passeando nos Estados Unidos, tudo com um enorme gasto público. E volta tentando mais um embuste: explorar a data de 31 de março.
“O Brasil não merece, no seu quadro político, de embusteiros consagrados, de populistas irresponsáveis e aproveitadores, de um “imbrochável” para brincar de motociata e jet ski”
O Brasil precisa é de um governo honesto, transparente, que não diga besteiras, que solucione os graves problemas da desigualdade social, que extinga os privilégios, que reduza a corrupção, que promova desenvolvimento. Precisa também de uma oposição séria, com propostas. O Brasil não merece, no seu quadro político, de embusteiros consagrados, de populistas irresponsáveis e aproveitadores, de um “imbrochável” para brincar de motociata e jet ski.
(*) General Santos Cruz foi ministro da Secretaria de Governo de Bolsonaro no primeiro semestre de 2019.