“Falam de golpe. Isso está totalmente fora de propósito, fora de ordem e fora de foco”, disse o vice-presidente da República, Hamilton Mourão.
“Outros períodos da nossa história não podem ser repetidos atualmente, porque o mundo mudou, o país mudou”, comentou Mourão em entrevista ao jornal Valor Econômico.
“Enquanto as atribuições dos Poderes estiverem sendo respeitadas, as decisões das autoridades acatadas e a disciplina das Forças Armadas mantida, como vem acontecendo, não há qualquer ameaça ao Estado de Direito Democrático no Brasil”, afirmou.
“É preciso respeitar a liberdade de expressão, opinião e pensamento no país e, muito particularmente, não usar a defesa da democracia para suprimir direitos e causar instabilidade”, continuou.
Mourão minimizou a ameaça de “consequências imprevisíveis para a estabilidade nacional” feitas pelo ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, caso o celular de Bolsonaro fosse apreendido.
“Não me preocupo com isso. Acho que muita coisa é só retórica inflamada”. “Esse caso do Heleno já passou. Na sexta-feira [dia 22] ele fez um desabafo com aquele encaminhamento do [ministro do STF] Celso de Mello”.
Para Mourão, as ameaças de Bolsonaro à democracia também são apenas “desabafos”. “O presidente se irrita. Essa é uma característica pessoal dele. A gente procura conversar com ele para ele não se irritar porque quem te irrita te domina. Ele compreende, mas tem hora que ele faz os desabafos dele”
“É retórica inflamada de ambos os lados. Existe um clima de torcida organizada para tudo, desde o remédio [a cloroquina] até decisão…”.
Hamilton Mourão também comentou a entrega de cargos para indicações de partidos como PP, o PL, de Valdemar Costa Neto, o Republicanos (antigo PRB) e o PSD, de Gilberto Kassab, em troca de apoio no Congresso. “‘Ah, mas vai ter cargos!’ Isso faz parte, sempre fez”, justificou.
“Agora o presidente mudou a forma de se relacionar com o Congresso e está buscando formar uma base. Aí sentam o dedo em cima nele: ‘Ah! Você está se unindo com o Centrão’. Com quem ele vai se unir? Aí todos criticam. Você fica entre a cruz e a espada. Se não faz está errado e se faz está errado também. O que acontece, eu vejo, é que a relação entre Executivo e Legislativo vai se harmonizar”.
Para ele, essa aproximação com o chamado ‘centrão’ afasta a possibilidade de um impeachment. “Quanto ao impeachment, não vejo clima no Congresso para isso e, a partir do momento em que estiver azeitado o relacionamento com os partidos políticos do chamado centrão, dificilmente evolui”.
Bolsonaro entregou, na segunda-feira (1), a chefia do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) para o chefe de gabinete do senador Ciro Nogueira (PP-PI). Nogueira é réu no STF por um esquema de desvio de dinheiro da Petrobrás.
No mesmo dia, Bolsonaro indicou um aliado do condenado por corrupção, Valdemar da Costa Neto, Alexandre Borges Cabral, para o comando do Banco do Nordeste. Valdemar da Costa Neto já foi condenado e preso (em regime semiaberto) pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
O vice-presidente disse que a “questão das fake news é choro de perdedor e isso virou moda no Brasil”.
O STF autorizou, na semana passada, a PF a fazer uma operação com 29 mandados de busca e apreensão em endereços ligados a apoiadores de Bolsonaro, como Roberto Jefferson e o empresário Luciano Hang, das lojas Havan.
O inquérito conduzido pelo ministro Alexandre de Moraes investiga o financiamento, a produção e a disseminação de textos mentirosos, caluniosos e ofensivos (fake news) na internet.
Bolsonaro reclamou da operação contra seus aliados, ameaçando o ministro Alexandre de Moraes e o STF.