Serviço de inteligência produziu 11 informes sobre extremistas, militares da reserva, ônibus fretados e vinculação do agro nos ataques em Brasília. Todos estão em posse do STF e agora da CPI do Golpe
A ABIN (Agência Brasileira de Inteligência) enviou à CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito), que investiga os ataques contra as sedes dos Três Poderes em Brasília, relatórios mostrando que grupos golpistas se preparavam para provocar tumultos, sabotagens, bloqueio de rodovias após os terríveis acontecimentos do 8 de janeiro.
Esses planos fracassaram diante da atuação firme do novo governo, que decretou intervenção na segurança do Distrito Federal e desmontou acampamentos incubadores de golpistas, e da Justiça, que mandou prender centenas de golpistas.
A ABIN produziu até dia 2 de março, pelo menos 11 relatórios de inteligência exclusivos sobre o quebra-quebra provocado pelos bolsonaristas.
Os documentos de acesso restrito foram encaminhados à CPI Mista do Congresso e reúnem informações sobre personagens militares de baixa patente, grupos reservados de mensagens que pregavam a tomada do poder pela força, hipóteses de que tresloucados atentaram para instituir o caos no País e planos de arrecadação para que os vândalos pudessem deixar a cidade depois da missão cumprida.
Em parte desses relatórios, a agência é clara ao afirmar que certos grupos ainda precisam ser monitorados para que novos episódios como os de 8 de janeiro não se repetissem.
AVALIAÇÃO DE CONFLITOS
Dentre os 11 relatórios produzidos pela inteligência do governo há dois que tratam sobre explosões ou explosivos e sabotagens para desestabilizar o governo que havia sido recém-empossado, em 1º de janeiro, em festa popular e apoteótica no gramado do Congresso e na Praça dos Três Poderes.
A ABIN monitorou diferentes grupos sociais para medir o risco de tumulto em protestos após o 8 de janeiro. Ao longo de 7 dias, analisou convocações, adesão, recursos, impactos, incidentes e ameaças.
No informe, atribuiu selo de alerta alto – designado por tarja vermelha – a descobertas como protestos que miravam atingir torres de transmissão de energia, mochila com explosivos encontrada na Bahia e atos de sabotagem que poderiam interromper o fornecimento de luz.
SABOTAGENS PARA DESESTABILIZAR O GOVERNO
Os bolsonaristas planejavam ataques às torres de transmissão de energia. Depois dos atos violentos em Brasília, a Abin identificou ataques a torres de linhas de transmissão de energia em pelo menos 4 Estados.
Houve cabos propositadamente rompidos em Rondônia, a queda de torre no Paraná, prováveis tentativas de sabotagem em cidades do interior paulista e danos a estruturas em Pernambuco.
Às vésperas da posse presidencial, registra a agência, foram encontrados botijões de gás prontos para serem explodidos em torre de energia no Maranhão.
Diante das ameaças, a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), o Ministério de Minas e Energia e o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) criaram grupo de acompanhamento contra potenciais ataques.
OBJETIVO DOS ATOS EXTREMISTAS
Circula nas redes digitais bolsonaristas e faz parte da defesa dos vândalos que invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes — Executivo (Planalto), Legislativo e Judiciário — que é “absurdo acusar senhoras, que carregavam bíblias debaixo dos braços, de tentativa de golpe de Estado. Trata-se da “tese” de defesa dos golpistas.
Todavia, esta é uma “cortina de fumaça”. Na verdade, os atos extremistas de 8 de janeiro tiveram o objetivo de provocar tumulto, desordem e terror, com objetivo de estimular ou atiçar o governo a convocar GLO (Garantia da Lei e da Ordem) dispositivo que intima o Exército a intervir no conflito, a fim de restabelecer a normalidade.
A ideia dos golpistas, então, era fazer com que o Exército saísse dos quartéis e não mais voltasse.
Provocação que, a rigor, o Alto Comando nunca topou e que, portanto, não permitiu intervenção militar e fez fracassar o plano golpista de Bolsonaro. Mas era isso que o ex-presidente queria e estimulou os apoiadores todo o tempo em que esteve na Presidência da República, em particular, dia 8 de janeiro.
AÇÃO DA ABIN
Responsável por municiar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com relatórios sensíveis e confidenciais sobre ameaças, convulsões sociais, políticas estratégicas e até potenciais inimigos externos, a ABIN encaminha ao Palácio do Planalto desde os primeiros dias do ano informes sigilosos, em particular, os referentes aos atos extremistas de 8 de janeiro.
Nesses, há dados que podem levar a potenciais autores, financiadores e artífices das depredações provocadas por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) dia 8 de janeiro, na Praça dos Três Poderes, cujas sedes foram invadidas e destruídas por apoiadores do ex-presidente.
A produção do material, conjunto de imagens, avaliações de campo e cruzamento de dados que possam explicar o principal ato antidemocrático da história recente começou ainda no governo passado, quando integrantes do órgão de inteligência monitoraram grupos de WhatsApp.
Eles também se misturaram a manifestantes que protestavam contra o resultado das eleições, vasculharam relações empresariais de pretensos alvos e trocaram informações com setores de inteligência, mas mudou de patamar quando a agência acabou convocada para abastecer a equipe à frente da intervenção na Segurança Pública do Distrito Federal.
M. V.