“Nesta eleição, o que nos deu a vitória é a ideia de uma região que volte a ser produtiva e não especulativa. Que volte a ser solidária e não egoísta, com um Estado presente, comprometido e próximo do povo. Não é uma forma de falar. É o enorme desafio que temos pela frente. Pediram-nos um Estado que dê a mão aos bonaerenses [os de Buenos Aires]”, assinalou em seu primeiro discurso o novo governador da província de Buenos Aires, Axel Kicillof, na quarta-feira, 11.
O ex-ministro de Economia dos últimos anos do governo de Cristina Kirchner teve uma vitória contundente na eleição para o governo da província de Buenos Aires, um dos mais importantes cargos políticos do país. Nas eleições de 27 de outubro passado, Axel alcançou a marca de 52,53% dos votos, contra apenas 38,39% de Maria Eugenia Vidal, candidata macrista à reeleição.
As ruas que cercam o Congresso Nacional ficaram tomadas pelo povo que comemorava a nova etapa que se abriu com o retorno do peronismo ao poder, após os quatro anos do governo de destruição neoliberal de Mauricio Macri.
Acompanhado no palco principal pelo presidente Alberto Fernández e sua vice, Cristina Fernández de Kirchner, em seu discurso de posse, Kicillof diagnosticou na província de Buenos Aires, onde vive 38,8% da população do país, um desastre econômico similar ao da Nação.
Kicillof anunciou que anulará o último aumento da tarifa elétrica que Vidal havia imposto, e convocou os empresários do setor que foi privatizado a iniciar um diálogo. “Se uma tarifa não pode ser paga por um aposentado não é tarifa, é saque”, afirmou. Anunciou também o envio de projetos para declarar a emergência produtiva, educativa, em saúde e econômica.
Fazendo uma avaliação do estado em que recebeu a província, expôs dados como o fechamento de três mil pequenas e médias empresas industriais e 9.500 comércios. Kicillof destacou que “não se trata de números. São pessoas, homens e mulheres, empresários, produtores, gente de carne e osso”. A sub-execução do orçamento em quase todas as rubricas, a falta de obras, e fundamentalmente a perda de empregos foram pontos centrais de sua denúncia.
“As políticas neoliberais conduzem fatalmente à desindustrialização, à exclusão social e ao sobre-endividamento. Para a produção nacional o coquetel é fatal. A política de repressão salarial e o ajuste fiscal reduzem a demanda interna e, portanto, o faturamento e as vendas. Os tarifaços, por sua parte, elevam os custos, e a elevada taxa de juros encarece o crédito até fazê-lo inacessível. Deste modo, os ingressos baixam e os custos aumentam, comprimindo os lucros. Mas, além disso, o aluvião de importações tira mercado à produção nacional. Para a indústria é, em efeito, uma tormenta perfeita, mas não se trata de um fenômeno casual, da natureza, senão que a tormenta está integralmente gerada pelas políticas que Macri adotou”, já havia declarado o novo governador em outubro, dias antes das eleições, mostrando que é possível outra política.
“Hoje é o dia em que venho me comprometer diante de vocês a trabalhar sem descanso e com honestidade para reconstruir a província, para recuperar os direitos perdidos, mas também para transformar, a fundo e em sua estrutura, essa política. É o primeiro dia de uma etapa diferente, uma etapa aberta por Alberto Fernández”, indicou Kicillof.
A chegada de Fernández e Cristina foi muito comemorada dentro do Congresso e muito mais nas ruas próximas. Acompanhados pelos novos ministros de Relações Exteriores Felipe Solá, do Interior, Eduardo Wado De Pedro, e pelo presidente da Câmara dos Deputados, Sergio Massa, foram recebidos pelos cantos de “Alberto presidente” e “Obrigado Cristina pela unidade”.
“A região e o mundo vivem uma situação convulsionada. São épocas de guerras comerciais, e das outras. É ameaçador. Há que valorizar aquilo que a província aprendeu e nos trouxe de maneira democrática e pacífica. Sem desqualificações pessoais, sem perseguições”, manifestou Kicillof.
“Na prática fechou-se um ciclo. É uma etapa nova, na qual temos que construir. Espero estar à altura. Não pretendo ser governador de um espaço político nem de um setor, mas de todos e todas as bonaerenses”, concluiu.