O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PSC), afirmou que a chacina ocorrida no Jacarezinho, na Zona Norte da capital fluminense, que deixou 24 civis e um policial mortos, foi pautada pela inteligência: “a ação foi pautada e orientada por um longo e detalhado trabalho de inteligência e investigação, que demorou dez meses para ser concluído”.
Na nota, o governador se colocou incondicionalmente ao lado da polícia, ignorando excessos, exatamente como Bolsonaro gosta. Castro considerou trabalho de inteligência a ação mais letal da história do Estado do Rio de Janeiro.
Para Castro, a morte de 24 pessoas, sejam elas criminosas, ou não, é sinônimo de inteligência na lógica do ‘bandido bom é bandido morto’, defendida por Bolsonaro e seus apoiadores. Para eles, um policial morto e dois civis baleados são o efeito colateral de uma ação de sucesso.
O aliado de Bolsonaro em momento algum falou sobre a necessidade de frear a letalidade policial ou defender a apuração de eventuais excessos, o que é comum em casos como esse, mesmo que da boca pra fora.
Ele se limitou a dizer ser “lastimável que um território tão vasto seja dominado por uma facção criminosa que usa armas de guerra”.
A atuação de Castro em nada difere do realizado por seu antecessor, Wilson Witzel, que defendeu, já como governador, o uso de atiradores de elite para executar à distância pessoas nas comunidades do Rio de Janeiro com um “tiro na cabecinha”. Witzel, que sofreu um processo de impeachment no mês passado, também comemorou aos gritos de “Vitória”, quando um homem com uma arma de brinquedo seqüestrou um ônibus na ponte Rio-Niterói.
Segundo a polícia, a operação teve como alvo uma organização criminosa que atua na comunidade, que seria responsável por homicídios, roubos, sequestros de trens da SuperVia e o aliciamento de crianças para atuarem no tráfico.
A ação, considerada inteligente pelo governador do Rio, nem ao menos, conseguiu cumprir os 21 mandados de prisão que estavam expedidos. Apenas três prisões foram realizadas, enquanto outros três acusados foram mortos durante a ação policial.
DESRESPEITO AO STF
O deputado federal Alessandro Molon (PSB) criticou a operação e relembrou que sua execução desrespeita a determinação do Supremo Tribunal Federal (STF) que proíbe a realizações de operações em favelas no Rio de Janeiro.
“Foram 25 mortos no Jacarezinho, entre eles um policial, além de moradores atingidos dentro de casa e passageiros do metrô feridos a caminho do trabalho. Mais uma vez, o Estado falha em planejar ações, desrespeitando a decisão do STF que o obriga a fazer operações com base em inteligência para, assim, garantir que vidas de civis e agentes de segurança sejam preservadas. Até quando?”, questionou Molon.
A deputada federal Jandira Feghali (PCdoB) cobrou explicações do governador. “Governador Claudio Castro e o Secretário Dr Alan precisam dar explicações sobre a operação no Jacarezinho. Quem é o responsável pela ação policial proibida pela DPF no STF em função da pandemia?”, questionou.
Para a deputada, “o que aconteceu ontem no Jacarezinho precisa ser lembrado para não mais acontecer. A política de segurança pública no Rio de Janeiro não pode continuar da forma que está”.
Já o deputado federal Marcelo Freixo (Psol) contou que, quando foi relator da CPI dos Autos de Resistência, denunciou “que 98% dos inquéritos sobre mortes em ações policiais no RJ foram arquivados a pedido do MP ou pelo próprio Tribunal de Justiça. Há uma licença para matar institucional que estimula chacinas como a do Jacarezinho”.
Freixo afirmou que, em conjunto com a deputada Benedita da Silva (PT) e a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), acionou o Ministério Público do Rio de Janeiro e o governo do Estado para darem explicações sobre a operação.
“Não há vencedores nessa guerra insana, que é A ÚNICA política de segurança pública do RJ. Temos a polícia que mais mata e mais morre, e em que avançamos até aqui? Reduzimos o poder do narcotráfico? Diminuímos a quantidade de homicídios? O Rio está mais seguro? Não vamos tirar os nossos jovens do crime na base do tiro. Eles estão morrendo, gerações estão se perdendo e famílias sendo destruídas. O Rio de Janeiro precisa mudar e ter uma política de segurança inteligente e eficaz, que respeite a vida dos moradores das favelas e dos policiais”, afirmou o parlamentar.