Em entrevista à CNN no último sábado (11), o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, afirmou que o ataque ao assentamento Olga Benário, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), em Tremembé, no Vale do Paraíba, interior de São Paulo, foi realizado pelo crime organizado. O ataque resultou na morte de duas pessoas e deixou seis feridos.
Segundo o ministro, a disputa por um lote envolvido na reforma agrária e utilizado pelo movimento foi a motivação do crime. “Um dos lotes virou uma cobiça do crime organizado, que queria aquele lote para si. Na supervisão ocupacional, o lote foi destinado a uma agricultora, mas os criminosos queriam utilizá-lo para práticas ilícitas”, declarou.
Teixeira revelou não ter conhecimento prévio de ameaças contra os assentados. Ele citou uma carta de Valdir do Nascimento, conhecido como Valdirzão, uma das vítimas fatais do ataque, na qual o líder manifestava satisfação com o processo de supervisão ocupacional.
“Não há registros de ameaças. Temos um sistema que aciona a Polícia Federal e programas de proteção para lideranças ameaçadas. A carta de Valdirzão demonstrava felicidade com o resultado da supervisão”, afirmou o ministro.
Enviado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para acompanhar as investigações da Polícia Federal (PF), Teixeira destacou a necessidade de punição exemplar para os responsáveis pelo crime. “Trouxemos nossa solidariedade às famílias e exigimos punição rigorosa aos culpados”, enfatizou.
O Ministério da Justiça e Segurança Pública determinou à PF a instauração de um inquérito para investigar o ataque, considerando a violação de direitos humanos. Uma equipe especializada foi enviada ao local.
PRISÃO DE SUSPEITOS
O Tribunal de Justiça de São Paulo manteve preso Antônio Martins dos Santos Filho, conhecido como “Nero do piseiro”, suspeito de liderar o ataque. Ele foi detido após ser identificado por testemunhas e passou por audiência de custódia no último domingo (12), quando a Justiça determinou sua prisão preventiva por 30 dias.
De acordo com o delegado Marcos Ricardo Parra, Nero foi reconhecido por não ter coberto o rosto durante o ataque. Em depoimento, ele negou ter disparado tiros, embora tenha admitido estar presente.
A polícia investiga a motivação relacionada a divergências internas sobre a negociação de terrenos. “O conflito envolvia discussões sobre a permissão para negociar lotes do assentamento”, explicou o delegado.
PROTEÇÃO
O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) anunciou a coordenação de ações de proteção aos assentados por meio do Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, Comunicadores e Ambientalistas (PPDDH). A equipe do programa oferecerá atendimento individualizado às famílias para identificar medidas preventivas e de segurança, como a instalação de câmeras de monitoramento.
Durante visita ao velório das vítimas em Tremembé, a ministra Macaé Evaristo afirmou: “Queremos compreender melhor o ocorrido e garantir a proteção coletiva da comunidade”.
As vítimas fatais foram Gleison Barbosa de Carvalho, de 28 anos, e Valdir do Nascimento, de 52 anos. As seis vítimas feridas foram levadas ao Hospital Regional de Taubaté, onde a ministra também realizou uma visita.
Macaé Evaristo confirmou que a comunidade integrará o PPDDH. “Não havia registro prévio de ameaças ou do grupo de atiradores, mas agora eles passam a ser monitorados pelo programa”, explicou.
O coordenador-geral do PPDDH, Igo Martini, ressaltou a necessidade de estabelecer um canal de diálogo com a comunidade e os órgãos competentes para conflitos agrários. “Nossa prioridade é ouvir todas as famílias envolvidas para identificar possíveis riscos e definir soluções”, afirmou.
O MDHC aguarda o desdobramento das investigações policiais para determinar se houve ação coordenada de um grupo criminoso. “Neste momento, buscamos apuração rigorosa e responsabilização dos envolvidos”, concluiu a ministra.