
O governo do Rio Grande do Sul recebeu no dia 31 de agosto o primeiro aviso do risco em potencial dos temporais que atingiram o estado e causaram enchentes, destruição e mortes em 93 cidades. Houve, no total, quatro alertas.
O primeiro veio durante uma reunião, conforme o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), órgão vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.
“Tomamos conhecimento de uma situação de risco dia 30 de agosto para a Região Sul, em especial para todo o Rio Grande do Sul e Sul de Santa Catarina. Para o dia 31, foi marcada uma reunião com a Defesa Civil com os três estados da região (RS, SC e PR) mais o Mato Grosso do Sul. Foi durante a reunião que passamos a previsão”, conta o coordenador-geral de operação e modelagem do Cemaden, Marcelo Seluchi.
Seluchi conta que a previsão indicava 200 milímetros de chuva entre os dias 1º e 4 de setembro, com a maior quantidade para o dia 4, afetando principalmente as regiões Norte, Central e dos Vales. Poderia chover menos ou poderia chover mais, no entanto, havia convicção de que a situação era de alerta.
Todas essas informações foram expostas na reunião para as defesas civis estaduais e para o Ministério do Desenvolvimento Regional, com a presença de representantes do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).
Em 31 de agosto, o próprio Inmet começou a trabalhar com o Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres (Cenad). O segundo aviso veio no dia 1º, quando o CENAD convocou uma reunião de alinhamento com a presença de representantes do RS, SC, PR e MS, em que o Inmet apresentou a previsão de chuva.
O terceiro aviso veio no dia 3, quando o Inmet emitiu um alerta vermelho, de grande perigo, o maior da escala.
O quarto aviso ocorreu no dia 4, quando a Companhia Energética Rio das Antas (Ceran) comunicou que “devido às fortes chuvas ocorridas nos últimos dias, a vazão do Rio das Antas ultrapassou os níveis máximos históricos desde a construção”.
De acordo com o Serviço Geológico do Brasil, o Rio Taquari – que cobriu cidades como Muçum e Santa Tereza, por exemplo – é conectado ao Rio das Antas e recebe água de diversos afluentes vindos das regiões mais altas, do Norte e da Serra.
O gerente de hidrologia e gestão territorial do órgão, Franco Buffon, explica que todas essas áreas recebiam chuva forte desde o dia 4, com precipitação intensa e simultânea nas nascentes e bifurcações dos cursos d’água.
“Além disso, a região serrana do RS tem uma característica de formação de solo e relevo que contribui para que chuva em excesso se transforme em inundação com potencial destrutivo”, diz. Entre os dias 4 e 5, houve as enchentes.
Três municípios atingidos pelas enchentes que foram consultados por uma reportagem do portal g1, sendo Muçum, Santa Tereza e Nova Roma do Sul, onde afirmam que foram alertados no domingo, dia 3, do risco dos temporais, sendo três dias depois da reunião do Cemaden com a Defesa Civil estadual.
A prefeita de Santa Tereza, Gisele Caumo, conta que o município “antes mesmo de receber o alerta da Defesa Civil, já estava acompanhando”.
“O rio Taquari aumentava 35 centímetros por hora, o que é normal. Em seguida, foi para 1 metro e 60 centímetros. Depois, 2 metros e 20 centímetros por hora. Em duas horas, a cidade estava tomada pela água”, conta.
Gisele conta que eram 2h do dia 5 quando a última família foi retirada de casa. Ela diz que, por se tratar de uma cidade pequena, a comunicação ocorre principalmente por grupos de WhatsApp. Foi por meio dele que a população reuniu cerca de 20 caminhões para fazer os resgates.
A responsável pela Defesa Civil em Nova Roma do Sul, Rafaela Tariga, também disse que o governo do estado “emitiu alerta sobre chuvas intensas ainda no domingo”. “Mas não era esperada essa enchente histórica”, conta.
Em Muçum, o relato é o mesmo: o aviso da Defesa Civil estadual chegou no domingo, de acordo com Douglas Pessi, da Defesa Civil municipal. No dia seguinte, um alerta enviado por WhatsApp pelo município projetava que o Rio Taquari subiria até a cota de 15 metros – 4 metros abaixo do limite de transbordo. Mais tarde, também por celular, a informação era de que o rio chegaria a 21 metros, alcançando o topo das casas de um andar.
“Não existe mais a cidade de Muçum como existia”, diz o prefeito Mateus Trojan.
O governo do estado afirma que fez dezessete alertas meteorológicos preventivos, via mensagens de texto de celular, entre os dias 1º e 5 para a população. No entanto, os avisos não deram conta da dimensão dos transtornos que poderiam ser registrados.
TRAGÉDIA
O último balanço da Defesa Civil do Rio Grande do Sul, divulgado na noite do último domingo (10) apontou que aumentou o número de moradores fora de casa após fortes chuvas atingirem dezenas de municípios gaúchos no início de setembro. De acordo com o documento, são 4.794 desabrigados, sendo pessoas que necessitam de abrigo público e 20.490 desalojados, sendo pessoas que estão em outras residências.
Os municípios onde cada um dos desalojados e desabrigados estão localizados não foram divulgados.
Além disso, o último levantamento apontou um crescimento no número de municípios atingidos pelas chuvas, passando de 88 para 93, além de um aumento no número de moradores atingidos e de feridos.
A Defesa Civil também confirmou a morte de mais três pessoas em consequência das enchentes causadas pelo ciclone extratropical que passou pelo Rio Grande do Sul. Elas aconteceram em Colinas, Bom Retiro do Sul e Roca Sales, que agora contabiliza 11 óbitos e é o segundo município com o maior número de vítimas. Com isso, o total de mortos no estado chega a 46.
As identidades das vítimas não foram informadas. Tanto Bom Retiro do Sul quanto Colinas, dois municípios banhados pelo rio Taquari, ainda não haviam registrado óbitos em decorrência das inundações que atingiram o Vale do Taquari.
Com a última atualização da Defesa Civil, foram quatro mortes registradas apenas no domingo; durante a manhã, um óbito havia sido registrado em Cruzeiro do Sul, o quinto deste município.
A Defesa Civil também confirmou que o número de desaparecidos continua o mesmo. Desaparecidos: 46, sendo em: Arroio do Meio 8 pessoas, Lajeado 8 pessoas e Muçum 30 pessoas.