
Um homem foi morto na noite de quinta-feira (19), após ser perseguido por seguranças do supermercado Muffato, no bairro Portão, em Curitiba. A vítima, suspeita de furtar uma barra de chocolate, foi imobilizada com um mata-leão e agredida por ao menos três homens, entre eles funcionários do mercado e um motociclista que auxiliou na captura.
A situação veio a público após um motoboy, que passava pelo local por volta das 21h, notar uma movimentação estranha: três homens carregando outra pessoa com as calças caídas. Desconfiado, ele se posicionou num terreno baldio com melhor visibilidade e começou a gravar a cena com o celular. Sem saber, registrava um possível crime.
Mesmo à distância, a testemunha conseguiu ouvir trechos da conversa. Em certo momento, um dos homens questionava se a vítima estaria morta, enquanto outro acreditava tratar-se apenas de um desmaio. Diante da dificuldade para carregar o corpo, um dos agressores, já exausto, pediu ajuda e um quarto homem chegou para auxiliar. Todo o deslocamento foi filmado pelo motoboy, que acionou a Polícia e, diante da demora, procurou o Corpo de Bombeiros — onde a morte foi oficialmente constatada.
Segundo a Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Curitiba, a vítima foi identificada como Rodrigo da Silva Boschen, de 22 anos.
As autoridades chegaram a atender uma ocorrência de furto na unidade do Muffato pouco depois do chamado sobre o corpo. A ligação entre os dois casos foi sendo construída à medida que as investigações avançavam. Segundo os depoimentos colhidos na audiência de custódia, dois dos envolvidos – Bryan Gustavo Teixeira e Henrique Moreira Alves Pinheiro do Carmo – eram segurança do supermercado. O terceiro suspeito ainda não havia sido localizado até a manhã de sábado.
Conforme os relatos, após o furto, a vítima foi abordada por Bryan, que tentou convencê-la a devolver o item e seguir seu caminho. No entanto, o homem teria resistido e fugido, iniciando uma perseguição. Um motociclista que passava pelo local, Henrique, foi recrutado informalmente para interceptar o suspeito. Ele o alcançou e o conteve, aplicando dois socos antes de deixar o local.
Em seguida, os seguranças assumiram a situação e um deles aplicou um mata-leão na vítima, imobilizando-a. Durante essa ação, as calças do homem começaram a cair. Segundo Bryan, até vizinhos protestaram contra a forma como a vítima estava sendo carregada, parcialmente nua.
Os envolvidos decidiram então levar o homem desacordado para uma área mais afastada, onde o corpo foi deixado. Um dos seguranças teria recebido ordens de “colocar mais para o canto”, segundo relato da testemunha.
A Polícia Civil identificou e localizou dois dos suspeitos com a ajuda do sistema de segurança do Muffato e da empresa terceirizada Rota. Um terceiro envolvido segue foragido. Segundo os registros oficiais, a polícia esteve no endereço repassado pela empresa, mas foi recebida por uma mulher que se apresentou como ex-esposa do suspeito e informou que ele não mora mais no local.
Durante a audiência de custódia, a juíza Fernanda Orsomarzo converteu as prisões temporárias de Bryan e Henrique em preventivas. Um terceiro funcionário, Luiz Eduardo Alves, conseguiu a liberdade provisória por não ter se envolvido diretamente na morte.
Em nota oficial, o Grupo Muffato tentou se isentar da responsabilidade direta, afirmando que repudia qualquer ato de violência e que os funcionários agiram fora dos protocolos da empresa. A rede disse estar colaborando com as investigações. Apesar de manifestar solidariedade à família da vítima, a empresa não comentou sobre possíveis falhas na condução da abordagem que terminou em morte. O caso segue sob investigação.