Manifestantes partidários do candidato oposicionista Salvador Nasralla transbordaram as ruas da capital e das principais cidades de Honduras no último domingo para denunciar a “fraude governamental” nas eleições presidenciais, realizada há 15 dias.
Nasralla vencia nas urnas por uma margem de 5% dos votos quando uma “pane” tirou o sistema de apuração do ar. Quando voltou a funcionar, o presidente Juan Orlando Hernández (JOH) havia sido dado como “reeleito” com 42,98% a 41,39% do oposicionista.
“Isso é um assalto ao poder pelos que já nos roubavam, há uma continuidade do golpe de Estado de 2009. Aqui há uma ditadura montada e sustentada por Washington”, afirmou o ex-presidente Manuel Zelaya, coordenador da Aliança Opositora contra a Ditadura, coalizão eleitoral de apoio a Nasralla.
Ao longo dos cinco quilômetros de caminhada do Hospital Escola Universitário à embaixada dos Estados Unidos, onde permaneceram três horas, a palavra de ordem mais ouvida foi “Fora JOH”, ao lado do massivo repúdio ao envolvimento norte-americano. Outro protesto semelhante ocorreu no sábado.
Bastante aplaudido, Nasralla denunciou à multidão que “nos roubaram os votos” e advertiu que “este país será ingovernável a partir de agora”. “Há um roubo descomunal para favorecer o narcotráfico do partido Nacional (do governo), que quer que seu candidato continue no poder”, acrescentou.
“Nós estamos exigindo que todas as atas e todos os votos sejam contados porque temos detectado, com provas, uma contaminação dos servidores, das bases de dados, das transmissões, dos registros. Tudo isso está contaminado. Então se pede a averiguação de todas as atas, voto por voto. Honduras é um país pequeno e isso pode ser feito em três dias, é algo rápido”, sublinhou Zelaya.
Com 57% dos votos apurados, o Tribunal Superior Eleitoral indicou inicialmente Nasralla como ganhador. No entanto, a versão mudou no terceiro dia, depois de interrupções “suspeitas” no sistema de contagem, quando a votação resultou favorável a JOH.
O presidente eleito – e roubado nas urnas – acusou de “cúmplices na fraude” e na armação o governo dos Estados Unidos, a Organização dos Estados Americanos (OEA) e a União Europeia (UE).
Três dias após a apuração, os observadores da OEA e da Europa lançaram um comunicado tentando mascarar a fraude e abafar os protestos. Segundo a OEA e a UE, “a estreita margem dos resultados, assim como as irregularidades, os erros e os problemas sistêmicos que rodearam estas eleições não permitem à Missão ter certeza sobre os resultados”.
LEONARDO SEVERO