
A encenação de Jair Bolsonaro sobre os preços dos combustíveis já havia sido contestada pelo presidente do Senado, David Alcolumbre, que aconselhou o presidente a não falar “sem embasamento técnico ou jurídico”, e, agora, nesta terça-feira (11), 22 governadores, reunidos em Brasília com o ministro da Economia Paulo Guedes, também obrigaram o ministro a admitir que Bolsonaro faz demagogia contra o ICMS. Por unanimidade os governadores condenaram a postura do presidente e classificaram sua fala como irresponsável.
Bolsonaro quis tirar o corpo fora sobre sua responsabilidade pela política de preços do combustíveis. Aumentos sucessivos da gasolina foram causados pela vinculação do preços dos combustíveis ao mercado internacional e ao dólar. Esta política, que levou ao caos na economia e à greve dos caminhoneiros em 2018, não foi alterada por Bolsonaro.
Além disso, ele acabou com qualquer controle dos preços praticados pelas distribuidoras de combustíveis. Isso faz com que reduções de preços nas refinarias não sejam repassados para o consumidor. Bolsonaro sabe disso mas joga a culpa nos governadores.
Ago faz demagogia sobre redução do ICMS. “Eu zero o [imposto] federal hoje se eles zerarem o ICMS”, disse ele.
Os governadores, que dependem do ICMS para manter escolas, hospitais, creches, delegacias e outros serviços públicos, condenaram a irresponsabilidade do presidente pela demagogia e exigem retratação. O primeiro a criticar Bolsonaro foi o governador de Brasília, Ibaneis Rocha (MDB) que chegou a bater boca com Guedes, que tentou impedi-lo de falar durante a reunião. “Algumas coisas têm que ser tocadas de forma mais responsável”, disparou Ibaneis. “Nós governadores estamos apanhando há 15 dias, de todo mundo, inclusive do senhor e do presidente”, prosseguiu o governador.
“Essa questão de imposto é uma questão tributária, é uma questão muito séria. Então o presidente da República deveria ter reunido primeiramente sua equipe econômica antes de entrar num debate tão criminoso como esse, que é o debate de quebrar todos os Estados, inclusive a Federação, prejudicando aqueles que são mais pobres”, afirmou ele. Então, o senhor presidente da República deveria ter se reunido com a equipe econômica antes de entrar num debate de forma tão criminosa de quebrar todos os estados”, disse Ibaneis.
O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB) também criticou a postura de Bolsonaro na questão dos combustíveis. “Uma fala curta do presidente deflagrou em uma parcela da população uma compreensão equivocada que há a possibilidade de zerar o ICMS, mas só no Rio Grande do Sul temos R$ 6 bilhões em arrecadação com o tributo. Não tem como se falar em zerar o ICMS do combustível”, afirmou. O governador de São Paulo, João Dória, considerou irresponsável o que Bolsonaro fez.
O governador Paulo Câmara, de Pernambuco (PSB) interpelou Guedes e cobrou serenidade para se discutir essa questão. “Hoje, infelizmente, estamos vivendo um debate sobre a questão dos combustíveis que é fora do necessário e não tem saída rápida, Se implantou no imaginário popular uma saída rápida que não existe”, disse Câmara. “O senhor sabe disse”, acrescentou o governador, dirigindo-se a Guedes.
Flávio Dino, governador do Maranhão, ironizou asa falas de Bolsonaro. “Como o Bolsonaro já declarou várias vezes que não entende nada de economia e tudo tem que ser tratado com Guedes, a gente realmente só leva a sério quando for o Paulo Guedes propondo”, afirmou. “Isso que Bolsonaro fala na porta do Palácio não dá para levar a sério porque o governo dele só dura 15 minutos por dia, que é o tempo que ele dá aquela entrevista, depois não tem mais governo, depende do Paulo Guedes, quando ele propuser a gente vai debater no âmbito da reforma tributária, que é o único lugar possível”, disse o governador Dino.