
Foi cassado vítima de uma ‘Fake News’ da revista Veja
Morreu na sexta-feira (24), aos 84 anos, Ibsen Pinheiro, ex-presidente da Câmara dos Deputados durante o processo de impeachment de Fernando Collor de Melo. Seu corpo foi velado na Assembleia Legislativa, em Porto Alegre, no sábado (25).
Filiado ao MDB do Rio Grande do Sul, foi deputado federal por quatro legislaturas, entre 1983 e 2011. Ibsen também foi integrante da Assembleia Nacional Constituinte, responsável pela Constituição de 1989. Ele foi, junto com Ulysses Guimarães, o comandante da redemocratização.
No futebol, ele foi presidente do Internacional. Além da trajetória na política e no jornalismo, Ibsen foi procurador de Justiça, promotor e advogado.
No início da década de 1990, Ibsen Pinheiro foi um dos nomes mais importantes da política nacional, presidindo a Câmara dos Deputados em Brasília, entre 1991 e 1993. No ano seguinte, acabou afastado da vida política por uma notícia falsa durante o escândalo dos anões do Orçamento.
Ele teve o mandato cassado por 296 votos a favor e 139 contra.
Dias depois a revista responsável pela “denúncia” desmentiu o que tinha publicado. A ação criminal foi arquivada por falta de provas.
“A morte de Ibsen Pinheiro priva o país de um dos homens de espírito público mais agudos e aguçados que conheci e com os quais tive o privilégio de conviver…Ele foi vítima de um processo político sobre o qual perdeu o controle em 1993 e terminou injustamente cassado por seus pares na Câmara dos Deputados”, disse o jornalista Costa Pinto, ex-repórter da revista Veja.
A declaração de Costa Pinto, cujo apelido era “lula”, poderia ser mais uma em homenagem, entre tantas, a Ibsen, mas é um testemunho histórico. Costa Pinto foi o autor da reportagem de capa de Veja intitulada ‘Até tu, Ibsen? Um baluarte do Congresso naufraga em dólares suspeitos’, publicada em 18/11/1993. Foi, na época, o texto decisivo para influenciar na cassação de Ibsen, que meses antes presidia a Câmara Federal.
Costa Pinto recebera do então assessor da CPI do Orçamento, Waldomiro Diniz, a informação de que Ibsen transferira US$ 1 milhão de uma conta da Caixa Econômica Federal para outra, também sua, do Banrisul. O dinheiro (cerca de R$ 4 milhões em valores corrigidos) era incompatível com o padrão de vida do deputado gaúcho, e ele foi acusado de ter recebido repasses de outros parlamentares.
A revista Veja não foi a única a publicar a informação, mas foi o meio de comunicação mais importante a veiculá-la. Acontece que o valor não era de US$ 1 milhão. Costa Pinto foi alertado por um checador de dados da revista de que, convertido o valor em dólares, a transferência era de cerca de US$ 1 mil e não US$ 1 milhão. Era uma Fake News.
Costa Pinto confirma o erro, mas assegura: avisou a revista a tempo, mas a revista Veja optou por manter a capa condenatória a Ibsen e não alterou o texto internamente, porque já estava rodando. “O grito do checador: ‘Lula, essa soma não dá US$ 1 milhão. Dá US$ 1.000’, ecoava até há pouco em minha consciência”, descreveu Costa Pinto a colegas, ao falar sobre o episódio. “O Ibsen nunca foi corrupto. Tinha uma vida pessoal absolutamente dentro dos patamares salariais recebidos por ele”, disse Costa Pinto.
Em uma rede social, o presidente da Câmara do Deputados, Rodrigo Maia, lamentou a morte de Ibsen e disse que ex-deputado comandou a casa em um dos momentos mais importantes da democracia brasileira, além de ser um exemplo.
“Ibsen foi um exemplo para mim, tive a oportunidade de conviver e aprender muito com ele. Perdemos um homem público diferenciado”, escreveu Maia.
O Sport Club Internacional também prestou homenagem ao político e ex-presidente do time. “Nossos caminhos estarão ligados para sempre. A paixão e o trabalho de Ibsen Pinheiro levaram o Clube do Povo ao topo do Brasil”, postou o clube.
O presidente nacional do MDB, Baleia Rossi, assinou nota oficial do partido, lamentando a morte do emedebista histórico. O ex-governador Tarso Genro também homenageou o político. “Faleceu Ibsen Pinheiro, homem do diálogo, da inteligência e da cordialidade. Que descanse em paz!”, escreveu.
No mesmo sentido, o senador Paulo Paim (PT) lembrou também da trajetória de Ibsen como homem do futebol. “Minhas sinceras condolências e solidariedade aos familiares e amigos do ex-presidente da Câmara dos Deputados Ibsen Pinheiro. Sua trajetória de homem público e desportista é digna de nossos aplausos. Vida longa aos seus ideais.”
O governador Eduardo Leite (PSDB) lamentou a morte e decretou luto oficial de três dias no Rio Grande do Sul. “Recebi com tristeza a notícia do falecimento do deputado Ibsen Pinheiro. Ibsen foi homem público incansável na luta por um país melhor. Sua trajetória política, marcada pelo diálogo e pelo respeito, deixa grande legado ao Brasil”, escreveu Leite.
O Ministério Público emitiu nota oficial. “O MPRS lamenta, com extremo pesar, o falecimento do procurador de Justiça aposentado e ex-deputado federal Ibsen Pinheiro, que exerceu importante papel na construção do Ministério Público como instituição permanente e indispensável à democracia”, manifestou-se.