“O crime do Daniel Silveira, e os juristas podem confirmar, não pareceu para nós da sociedade passível dessa medida”, afirma Horácio Lafer Piva, ex-presidente da Fiesp
Os crescentes ataques de Bolsonaro às instituições, que chegou ao extremo com o perdão concedido ao deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ), condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), é, para o empresário Horácio Lafer Piva, sócio da Klabin, “uma ferida de morte” que afeta os negócios e a imagem do Brasil.
Em entrevista à Folha de São Paulo, Lafer, que é presidente da Klabin e já dirigiu a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), disse que a notícia do “indulto” concedido por Bolsonaro – em uma clara afronta à Constituição e o Estado de Direito – “é um acinte e um escândalo” que colocam em evidência a fragilidade institucional da República sob o comando do atual presidente.
“A questão institucional é uma ferida de morte. Isso afeta negócio, afeta a vida das pessoas, a imagem do Brasil lá fora”, afirma o empresário, que diz que os fatores econômicos podem ser revertidos, mas que somados à herança de fragilidade das instituições deixada por Bolsonaro, faz da situação ainda mais preocupante.
Silveira foi condenado por 10 votos a 1 a cumprir pena oito ano e nove meses, multa, perda do mandato e direitos políticos por coação em processo judicial e tentativa de impedir o livre exercício dos poderes da União. O deputado usava o seu mandato para promover uma série de postagens em que ele injuriou e ameaçou ministros do STF.
“Essa é uma notícia [do indulto] que deve preocupar o empresariado e toda a sociedade. O indulto não é inconstitucional, mas o crime do Daniel Silveira, e os juristas podem confirmar, não pareceu para nós da sociedade passível dessa medida”, opinou Piva, que foi, em 2021, um dos articuladores de um manifesto de empresários contra Bolsonaro e em favor da democracia e das eleições.
“O Supremo Tribunal Federal está se colocando, e eu acho que ele tem de ser rápido, porque o que aconteceu é um acinte, é um escândalo. Quem se preocupa com o país está muito impactado e está, inclusive, assustado”, disse.
“E, obviamente, pensando como empresário, afeta decisão de investimento. Você sempre fica muito temeroso”, expôs o empresário. Segundo ele, toda vez que uma medida desastrada é tomada, “que é uma característica quase diária desse governo”, a informação circula muito rapidamente entre o empresariado.
“Mas desta vez, as pessoas ficaram claramente assustadas. E essa notícia correu tanto aqui quanto lá fora. Um altíssimo grau de espanto. Ficaram todos espantados com a coragem de um STF ser enfrentado. E, obviamente, isso está gerando uma avaliação muito grande do que de fato significa. E não só nos aspectos jurídicos, mas, principalmente, na questão do equilíbrio institucional do país”, ressaltou.
Questionado sobre o que espera das eleições, Piva disse que aguarda um movimento importante após o dia 18 de maio, com o anúncio formal de uma candidatura da chamada “terceira via”. Sobre as perspectivas dos eleitores, ele diz:
“Não podemos ter a pretensão de achar que temos mais poder do que de fato temos. Boa parte do eleitorado está preocupada com o que, na minha opinião, é o mais grave neste momento, que é a inflação…mas acho que o pessoal vai se preocupar só muito pouco antes das eleições”.