
Alta dos alimentos, energia e transportes consomem a renda dos mais pobres
Dados divulgados pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) mostram que, em fevereiro deste ano, a inflação – medida pelo IPCA – segue com o pé no acelerador para todas as faixas de renda, comparativamente ao mês anterior. O que se sobressai nos dados é o efeito desigual da inflação, impactando especialmente as faixas de renda mais baixas.
Colocando em números, a inflação para a faixa de renda muito baixa variou de uma deflação de 0,17% em janeiro para uma inflação de 1,59% em fevereiro, enquanto para o setor de renda alta (última faixa da pesquisa) o indicador passou de 0,54% para 0,90%. Além disso, os mais pobres foram os mais impactados pela inflação (1,59%) e os mais ricos, os menos (0,90%).
Para os mais pobres quem puxou a inflação foi o reajuste de 16,8% das tarifas de energia elétrica, os aumentos dos preços do ovo (15,4%), do café (10,8%) e das passagens dos ônibus urbanos (3,0%) e dos trens (3,5%).
Já para as classes média e alta, o reajuste de 5,7% das mensalidades escolares gerou pressões inflacionárias significativas. No topo, a classe alta foi beneficiada com a deflação de 20,5% das tarifas aéreas, amenizando a inflação.
O IPEA destaca que “na comparação com fevereiro de 2024, os dados indicam que, em fevereiro deste ano, a inflação acelerou para todas as faixas de renda, com um impacto mais significativo nas classes de rendas mais baixas” e aponta que “o desempenho menos favorável dos bens em 2025 também contribuiu para essa aceleração inflacionária, ainda que em menor grau”.
Os dados da inflação, mês após mês, refletem a realidade dos brasileiros e sua indignação cotidiana na frente das prateleiras dos supermercados. A alta dos preços dos alimentos vem comprometendo itens essenciais da cesta de consumo dos brasileiros, especialmente o café, a carne e o ovo. Neste começo de ano, os reajustes das tarifas do transporte público ao redor do país é outro algoz que se soma para castigar a classe trabalhadora.
As respostas do governo, entretanto, seguem insuficientes, tímidas e acomodadas. O novo aumento da taxa básica de juros, para 14,25% ao ano, anunciado pelo Banco Central na semana passada, não será capaz de frear a aceleração inflacionária vigente, e muito menos estimular o investimento, o crescimento e a geração de empregos. Na verdade, é uma vã de tentativa da política monetária de desacelerar a economia – leia-se diminuir a produção e aumentar o desemprego – para assim “controlar” a inflação.
Por outro lado, no campo da política fiscal, a isenção de impostos de importação sobre produtos que o país não importa (ou importa pouco), como o café e a carne, é até difícil de entender e, infelizmente, não será a solução mágica para a inflação, como o governo tenta vender.
LUCAS SANTOS MARÇAL