Por unanimidade, o Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, presidido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), declarou nesta quinta-feira (28) o Choro Patrimônio Cultural do Brasil. A decisão atende às reivindicações do Clube do Choro de Brasília, responsável por formalizar em 2012 o pedido de registro ao Iphan, ao qual se somaram o Instituto Casa do Choro, o Clube do Choro de Santos e todos os apaixonados pelo ritmo, genuinamente brasileiro.
Em 2019, a Associação Cultural Amigos Museu Folclore Edison Carneiro (Acamufec) foi selecionada para conduzir a pesquisa e documentação sobre o bem, mas a pandemia de Covid-19 atrasou o processo, que foi retomado meses depois no formato virtual. Em 2020, se iniciaram reuniões abertas aos chorões em encontros que reuniram pesquisadores, representantes do Iphan e outras instituições para organização e produção do acervo.
“Antes de enviarmos para a avaliação final do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, também vamos receber as manifestações da sociedade civil sobre o processo e os resultados a que chegamos”, disse à EBC em novembro do ano passado, a coordenadora-geral de identificação e registro, Diana Dianovsky.
“O Choro, continuou Diana, “é uma expressão artística e musical que nos conecta, enquanto brasileiros, nos diversos territórios do país e nos diferentes tempos históricos também”. Assim, “foi considerado uma forma de expressão que constrói identidade” que “comunica memórias coletivas tanto de músicos iniciantes e amadores, como dos admiradores e grandes instrumentistas”, avaliou a coordenadora.
A partir do reconhecimento, o gênero será registrado no Livro das Formas de Expressão do Instituto, que reúne as manifestações artísticas em geral. “Significa que é um bem que dá orgulho, que representa a nação”, disse à Agência Brasil o presidente do Clube do Choro de Brasília, o músico Henrique Lima Santos Filho, o Reco do Bandolim.
“É a primeira manifestação genuinamente brasileira anterior ao samba e que faz o nosso perfil, da alma profunda”, continuou o músico à EBC. “Reúne influências da Europa, da África, cada região uma riqueza. Tudo isso se mistura e se transforma nesse ritmo”, completou.
Para a ministra da Cultura, a decisão do Iphan, que é subordinado à pasta, eleva o gênero a um patamar importante. “É o Choro chegando em um lugar de patrimônio importante”, disse Margareth Menezes. “Ele é uma construção do povo brasileiro, amado pelo povo brasileiro”, avalia. “Eu acho que o Brasil precisa, cada vez mais, se apropriar do chorinho”, defendeu Margareth. “O chorinho é nosso, é uma coisa linda e, agora como, patrimônio será um momento muito especial para todos nós”, completou a ministra.
O presidente do Iphan, Leandro Grass, explicou que a política da atual gestão do órgão é de direcionar maior atenção aos bens que representam os territórios e as comunidades do país, num processo estratégico de retomada da valorização das expressões culturais brasileiras.
“Isso não é apenas um status, não é apenas um prestígio que aquele bem adquire. Tem a ver com um compromisso estatal, com o compromisso do governo de adotar políticas para a promoção daquele bem”. Então, “na medida que a gente reconhece o choro como um bem tombado, a gente adota uma estratégia de preservação, de promoção para que a população conheça mais esses bens, interaja mais com eles e ajude a preservar”, disse Leandro.
De acordo com o Dicionário Cravo Clabin da Música Popular Brasileira, o gênero teria nascido em 1870, na cidade do Rio de Janeiro, especificamente, em rodas de música nos bairros da Cidade Nova, Catete, Rocha, Andaraí, Tijuca, Estácio e nas vilas do centro antigo. Segundo o Iphan, o termo choro viria da maneira chorosa de se tocar as músicas estrangeiras no final do século XIX e seus apreciadores chamavam a manifestação cultural de música de fazer chorar.
Chiquinha Gonzaga, Pixinguinha, Jacob do Bandolim e Ernesto Nazareth são alguns dos principais nomes que em mais de 100 anos marcaram a história do Choro. Entre outros nomes famosos por trás das melodias estão Waldir Azevedo, Altamiro Carrilho e os contemporâneos Paulinho da Viola, os irmãos Hamilton de Holanda e Fernando César, além do já citado Reco do Bandolim.
As composições de canções atemporais do choro, com alma brasileira, incluem Carinhoso, de Pixinguinha e João de Barro, e Brasileirinho, de Waldir Azevedo, Um a Zero e Corta Jaca.
Atualmente, além do choro, o Brasil tem outros 52 bens imateriais registrados como Patrimônio Cultural pelo Iphan, entre eles o frevo, a roda de capoeira e o maracatu.