
Drone norte-americano que invadiu o espaço aéreo iraniano foi derrubado na quinta-feira (20) pela defesa antiaérea iraniana e o Irã pediu em carta ao secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, e ao Conselho de Segurança, que cessem as ações “ilegais e desestabilizadoras” de Washington na região do Golfo Pérsico. Teerã também divulgou as coordenadas GPS que colocam o drone a oito milhas da costa, dentro das 12 milhas náuticas que são legalmente águas territoriais iranianas.
“O Irã condena, nos termos mais fortes possíveis, esse ato ilícito irresponsável e provocativo dos Estados Unidos, que implica sua responsabilidade internacional”, escreveu Majid Ravanchi, embaixador do Irã na ONU, na carta à ONU.
Stephane Dujarric, porta-voz de Guterres, declarou que o secretário-geral da ONU “apela a todos os lados para que exerçam o máximo de contenção e evitem qualquer ação que possa agravar a situação já tensa”. O incidente ocorreu no Estreito de Ormuz, por onde passa um quinto do petróleo vendido no mundo.
“Os Estados Unidos impõem seu terrorismo econômico ao Irã, levaram adiante ações clandestinas contra nós e, agora, avançam sobre nosso território”, denunciou o ministro das Relações Exteriores do Irã, Mohammed Javad Zarif.
Sobre a alegação do Pentágono de que seu drone-espião estava “sobre águas internacionais”, Zarif afirmou que o Irã irá levar “esta nova agressão à ONU e mostraremos que os Estados Unidos estão mentindo”. “Não buscamos a guerra, mas defenderemos com zelo nossos céus, terras e águas”, advertiu.
BLOQUEIO TOTAL E ILEGAL
O agravamento da tensão no Oriente Médio é decorrência da decisão unilateral do governo Trump de romper há um ano o acordo multilateral com o Irã, negociado e assinado por Obama três anos antes, e que Teerã vinha respeitando estritamente.
A que se seguiu uma declaração extraoficial de guerra econômica total contra o Irã, com Trump proibindo o Irã de exportar seu petróleo, de que depende para comprar tudo o que não produz, e chantageando o mundo inteiro para que obedeça à proibição, ou também entra na lista negra de sanções (e sabotagens).
Para reforçar sua meta de “zero de exportação de petróleo iraniano”, Trump enviou para o Golfo Pérsico um grupo naval de ataque encabeçado por um porta-aviões nuclear, um esquadrão de bombardeiros B-52 de ataque termonuclear, e há dias, anunciou mais 1.000 soldados.
Ao mesmo tempo, ocorreram incidentes em que há troca mútua de acusações, seis petroleiros foram atacados no Golfo Pérsico em cerca de um mês, enquanto a mídia dos EUA relatava planos dos maníacos de guerra que encabeçam a política externa norte-americana, para atacar o Irã, o que também vinha sendo insuflado pelo governo de apartheid israelense e pela ditadura feudal saudita.
O conselheiro de segurança nacional do regime Trump é John Bolton, um dos artífices da invasão do Iraque em 2003, e o responsável por tirar o brasileiro José Maurício Bustani da presidência da Organização pela Proibição das Armas Químicas (OPAQ), por querer continuar com as inspeções que atrapalhavam os planos bélicos norte-americanos.
Após a derrubada do drone espião pelos iranianos, o lúmpen-bilionário Trump correu a tuitar que o Irã tinha cometido “um grande erro”. Perguntado por repórteres se os EUA iriam contra-atacar, respondeu que “vocês vão ver”.
PROVOCAÇÃO
Conforme o comunicado da Guarda Revolucionária Iraniana (IRGC), o avião-espião não-tripulado foi derrubado quando entrou no espaço aéreo iraniano perto da região do Monte Mobarak, na província costeira de Hormozgan, depois de decolar de uma das bases norte-americanas ao sul do Golfo “com seus identificadores de identificação em violação de todas as regras da aviação internacional”.
“O drone continuou furtivamente na rota do Estreito de Ormuz em direção à cidade portuária de Chabahar, no Irã”, afirmou. “Ao retornar para o oeste do Estreito de Ormuz, o drone violou o espaço aéreo territorial do Irã e começou a coletar informações”, sendo abatido por um míssil terra-ar. O drone abatido é uma versão para a Marinha dos EUA do modelo RQ-4 Global Hawk, que pode voar por 30 horas ininterruptas.
“Este não é o primeiro ato provocativo dos Estados Unidos contra a integridade territorial do Irã”, afirmou o embaixador Ravanchi. Na carta à ONU, o Irã ressaltou não buscar a guerra, mas, de acordo com o artigo 51 da Carta das Nações Unidas, se reserva o direito de “tomar todas as medidas necessárias contra qualquer ato hostil que viole seu território e está determinado a defender vigorosamente suas terras, mares e ar.”
A televisão estatal iraniana mostrou o comandante-chefe do IRGC, Hossein Salami, alertando que “as fronteiras são nosso limite, e qualquer inimigo que violar nossas fronteiras não voltará ileso”. Ele aconselhou os afoitos a “respeitarem a soberania das fronteiras do Irã e seus interesses vitais”. O abate foi feito com o sistema de projeto e fabricação iraniana Khordad 3.
“POR ENGANO”
Mais tarde, ao receber na Casa Branca o primeiro-ministro canadense Justin Trudeau, o presidente Trump disse suspeitar que o Irã derrubou o drone norte-americano por engano. “Eu acho que, provavelmente, o Irã cometeu um erro – eu imagino que um general ou alguém cometeu um erro ao abater aquele drone”, Trump a jornalistas . “É difícil acreditar que foi intencional, se você quer saber a verdade. Eu acho que pode ter sido alguém que estava solto e estúpido naquele dia”, acrescentou. Por sua vez, a presidente da Câmara, deputada Nancy Pelosi, afirmou que não há apetite nos EUA por nova guerra no Oriente Médio.
Em Moscou, durante sessão anual de perguntas e respostas na tevê, o presidente Vladimir Putin afirmou que um ataque militar dos EUA contra o Irã seria uma catástrofe para o Oriente Médio e poderia provocar uma onda de violência e um êxodo de refugiados. Ele acrescentou que a Rússia acredita que o Irã está em conformidade com seus compromissos referentes a atividades nucleares e que as sanções contra o país são infundadas.
A.P.