
A foto do G7 com todos sorridentes e acenando mal durou 24 horas, e não foi possível mais difarçar o rotundo fracasso da cúpula após o presidente norte-americano Donald Trump, que saíra antes do final, tuitar no sábado (9) chamando o anfitrião, o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, de “desonesto e fraco”e anunciar que tinha mandado retirar o endosso ao comunicado final. Antes, Trump dissera aos repórteres que os EUA não iam ser mais “o cofrinho que todos estão roubando”.
Até esse momento, o presidente francês Emmanuel Macron, acreditava que havia conseguido algum nível de acerto com Trump, graças à sua ‘civilidade’ no trato com o bilionário.
Assim, a verdadeira foto da cúpula no Canadá é aquela em que a primeira-ministra alemã, Angela Merkel, e Trump se encaram na maior tensão, com todos os demais líderes em torno, o primeiro-ministro japonês completamenteb consternado – talvez quando Trump voltou a ameaçar de sobretaxar os carros importados, o que atingiria em cheio tanto a Alemanha quanto o Japão.
O pano de fundo para esse confronto foi a imposição de sobretaxas sobre aço (25%) e alumínio (10%) por Trump, que afetam a União Europeia e os dois ‘parceiros’ do Nafta, Canadá e México, alegando “razões de segurança nacional”, tarifas que já recaem também sobre Japão, China, Brasil e outros países. E há ainda a extraterritorialidade das sanções dos EUA, reinstauradas após rompimento de Trump do Acordo Nuclear com o Irã, com as empresas europeias na mira se fizerem negócios com Teerã – a que em breve devem se somar as sanções contra o gasoduto Nord Stream-2, que liga campos de gás na Rússia à Alemanha pelo leito do Mar Báltico.
Tudo o que Trudeau fez foi dizer que a imposição de sobretaxas por ‘segurança nacional’ – quando o Canadá é quase um apêndice dos EUA – é “intolerável”, e que os canadenses eram “muito amáveis e razoáveis, mas não seremos avassalados”. Ele também confirmou as medidas de retaliação contra as sobretaxas e afirmou que o Canadá não aceitará uma cláusula de revisão do Nafta que Trump exige. “Nós não podemos assinar um tratado comercial que expira a cada cinco anos”.
Trump disse que os comentários de Trudeau, após sua saída antecipada, tinham sido “insultantes”. Há quem diga que ele não gostou de ter vindo a público que Trudeau resolveu começar os trabalhos da cúpula, “sem esperar os retardatários”, no caso Trump e sua gente, que só apareceram 17 minutos depois. No encerramento, Trudeau havia dito aos repórteres que considerava um “sucesso” as conversas “francas” entre os líderes do G7. O estreante, o primeiro-ministro italiano Giuseppe Conte, agradou aos demais dirigentes europeus pela discrição e moderação. As divergências entre o governo Trump e os demais seis países eram tantas que, antes do comunicado conjunto, que acabou deixando de ser conjunto, Macron havia sugerido um comunicado dos seis, com a cúpula sendo apelidada de G6 + 1.
A.P.