“O massacre da nação palestina ocupada é sem precedentes na História humana”, afirmou Vera Baboun, embaixadora da Palestina no Chile e ex-prefeita da cidade de Belém na Cisjordânia, em entrevista ao HP durante a realização do 11º Congresso da Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal)
Nathaniel Braia – Embaixadora, como vê a atual situação vivida pelo povo palestino?
Vera Baboun – Primeiramente quero ressaltar a satisfação de estar presente a este importante 11º Congresso dos palestinos no Brasil. Vim a convite do presidente da Fepal, Walid Rabah e do embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Al Zeben.
Na Palestina estamos vivendo uma situação sem precedentes, não apenas na história da Palestina, mas na história da Humanidade.
A pressão sobre o povo palestino tem décadas, mas o que temos visto neste último ano é sem precedentes, mas não posso deixar de ressaltar que os acontecimentos de hoje são reflexo de um fator muito grave: a Palestina é a única nação sob ocupação nos dias de hoje. São 76 anos de ocupação e dor. Essa ocupação, um processo de limpeza étnica, resultou que hoje somos 6 milhões de palestinos na condição de refugiados em países vizinhos, como Líbano, Síria, Cisjordânia e também na Cisjordânia, em Gaza e Jerusalém Leste… 70% da população de Gaza é de refugiados de 1948.
Gaza, onde os palestinos estão morrendo sob bombardeio israelense, sob cerco que faz os palestinos passarem fome e lutarem pela sobrevida sem remédios, sem acesso a água tratada, com a maior parte dos lares destruídos, com uma maioria de mulheres e crianças perdendo a vida.
N.B. – O que isso significa para os palestinos enquanto nação?
V. B. – Do ponto de vista histórico, é natural que toda nação que viva sob ocupação necessite de sua libertação.
Nós palestinos, por muitos anos, com nossa esperança, com nossos sonhos, com nossos direitos humanos, necessitamos deste momento, desta libertação.
Mas o que tem se passado este ano em Gaza, é totalmente uma inversão. Vemos a destruição de infraestruturas, de vidas palestinas. É impossível que isso persista. E o que acontece na Cisjordânia também é muito grave. São 700 mil colonos judeus na Cisjordânia, colonos armados que agridem cotidianamente civis palestinos. Uma situação muito difícil para nós que vivemos cercados por um muro de grandes dimensões que divide nossas famílias, enfim o que os palestinos passam não pode ser classificado de vida normal e é disso que os palestinos necessitam.
N.B. – O que é necessário fazer já?
V.B. – Diante da inaceitável gravidade da situação atual, necessitamos de um cessar-fogo imediatamente. A comunidade internacional precisa não apenas de aprovar resoluções, mas encetar ações para deter aquilo que ocorre na Palestina hoje.
No mundo atual, temos leis, os povos, as nações são governadas por leis. E o que acontece com a agressão aos palestinos por parte de Israel, é o total desrespeito a essas leis internacionais e de convivência entre os povos. Israel não respeita lei nenhuma e descamba para os crimes de guerra.
Israel agride abertamente o nosso povo, um povo que foi formado ao longo de milhares de anos de história, um povo que tem sua própria cultura, que desenvolveu sua forma de vida, e que precisa de sua independência, que tem o direito a uma vida digna. Os palestinos almejam viver com dignidade e em paz com os demais povos. Mas tem que ficar claro que é impossível haver paz na região, sem que haja paz e segurança para os palestinos.
E se o governo israelense pensa que é possível continuar com todo esse massacre, com as agressões aos palestinos e, ao mesmo tempo, ter segurança e ter paz, isso é uma ilusão, é impossível. Somente com uma solução que signifique a paz para os dois povos, segurança para as duas nações, dignidade para as duas nações é possível almejar a paz.
N.B. – Qual a consequência, em sua opinião, dessa agressão beligerante do governo de Netanyahu?
V.B. – Não é possível haver glória para uma nação enquanto há a penalização de outra, enquanto segue o sofrimento imposto a outra nação.
Da mesma forma, não pode haver paz sem a criação do Estado da Palestina com todos os seus direitos como rege a Carta das Nações, com seus direitos humanos e seu direito à autodeterminação, como já reconhecido pela grande maioria das nações do Planeta. Não pode haver paz sem o cumprimento, por parte de Israel, das resoluções da ONU, em especial as mais recentes: a primeira que determina a saída das forças israelenses de todos os territórios ocupados e a segunda que apoia a criação do Estado da Palestina. E, sem, como já disse antes, com um imediato cessar-fogo antes que a situação adquira gravidade maior ainda.