Após bombardear centros de distribuição de mantimentos da Agência da ONU para Refugiados Palestinos (UNRWA), escolas e postos de saúde das Nações Unidas, atacar veículos e assassinar centenas de trabalhadores de centros humanitários, proibir entrada de comissários da entidade internacional, Israel agora declara o próprio secretário-geral, Antonio Guterres, “persona non grata”
O ministro das Relações Exteriores de Israel, Israel Katz, declarou o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, “persona non grata” e o proibiu de entrar no país, em novo lance da reiteração, pelo próprio regime supremacista, da condição de Estado pária de Israel.
“Esta decisão foi tomada à luz da resposta de Guterres ao hediondo ataque do Irã a Israel”, afirmou o insano comunicado. Katz acusou Guterres de não ter condenado o ataque com mísseis iranianos e, portanto, “não merecer pôr os pés em solo israelense”. Apesar de ser ministro do Estado terrorista de Israel, ele ainda acusou Guterres de apoiar os que resistem ao genocídio, denominando aos supostamente apoiados pelo secretário-geral da ONU de “terroristas, estupradores e assassinos”.
Até aqui, a guerra de Israel contra a ONU vinha consistindo principalmente de bombardeios de escolas e instalações da entidade em Gaza, além da execução a tiros ou bombas de funcionários das agências da ONU que prestam assistência aos civis palestinos.
Em julho, o parlamento israelense já havia banido o funcionamento da agência da ONU para os refugiados (UNRWA) e em março proibira a entrada do chefe da agência, Philippe Lazzarini.
Para vermos o disparate das declarações de Israel Katz, basta ver a reação do próprio Guterres no dia de ontem. O moderadissimo secretário-geral, depois do Irã exercer o legítimo direito de defesa, nos termos da Carta das Nações Unidas, disparando centenas de mísseis contra alvos militares de Israel, condenara a “ampliação do conflito no Oriente Médio com escalada após escalada. Isso deve parar. Precisamos absolutamente de um cessar-fogo.”
Aliás, vários países fizeram apelos semelhantes, temendo por uma conflagração generalizada no Oriente Médio. Na sexta-feira passada, após o assassinato do líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, Guterres pedira a todos os lados que “recuassem da beira do abismo”, dizendo que a região não poderia se dar ao luxo de “uma guerra total”.
Mas na concepção do regime supremacista no poder em Tel Aviv, Israel ele pode perpetrar genocídio em Gaza como investigado pela Corte Internacional de Justiça, (42 mil mortos, na maioria crianças e mulheres); assassinar líderes estrangeiros à posse do presidente iraniano em Teerã, como fez com Ismail Hanieh; cometer atentados no Líbano mutilando centenas de pessoas e assassinar o líder do Hezbollah; bombardear os vizinhos, como faz contra o Líbano, Síria, Palestina e Iêmen; assaltar terras e promover pogroms na Cisjordânia, além de anexar o Golã sírio à revelia da lei internacional, e ninguém pode reclamar ou sequer exercer o direito de defesa ou de combate ao ocupante.
E se o secretário-geral da ONU eleva sua voz – timidamente, diga-se – contra a escalada e contra uma guerra total no Oriente Médio, como Guterres fez, é “persona non grata”, e provavelmente mais um nome a ser acrescido à depravada lista dos “antissemitas” pelo distorcido critério dos pogromistas empoleirados na Terra Santa.
Não se pretendem apenas imunes à lei internacional e às leis morais, em última instância exigem de todos – até de Guterres – submissão pusilâmine à sua criminalidade, que vem empurrando inapelavelmente Israel para aquele beco sem saída em que o regime do apartheid sul-africano se viu nos anos 1980. E atirando pela janela o tesouro de empatia do mundo para com as vítimas da bestialidade do nazismo durante a II Guerra Mundial.
Katz, que anteriormente declarara persona non grata ao presidente brasileiro Lula por se opor ao genocídio em Gaza e compará-lo ao Holocausto sob o nazismo, destilou seu fel contra Guterres, a quem chamou de “mancha na história da ONU perante as gerações vindouras”.
Contra Guterres, Katz e sua claque tem entalado na garganta que, diante da ‘ofensiva do Tet’ palestina no 7 de outubro passado, ele haja percebido que o que havia movido a resistência havia sido “os 57 anos de ocupação sufocante” de Gaza, aliás, um local que é uma ferida aberta da Nakba original, de 1948, e que Sharon transformou na maior prisão a céu aberto do mundo.
O ataque do Irã foi inteiramente legítimo sob a Carta da ONU e, na verdade, Teerã demonstrou uma grande contenção ao sofrer, em plena posse de seu presidente, em 31 de julho, a violação de sua soberania com o assassinato, por Israel, do líder do Hamas e principal negociador para se alcançar um cessar-fogo, Ismail Haniyeh, tendo adiado a reciprocidade no interesse de não prejudicar as negociações e declarado que não exerceria o direito de represália caso fosse assinada a interrupção dos combates em Gaza.
Mas o regime segregacionista israelense se recusou a assinar o cessar-fogo e, ao contrário, dobrou a aposta, assassinando estúpida e provocativamente o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, além de explodir bipes e walkie-talkies, ferindo milhares de libaneses, estendendo assim, ao Líbano, o extermínio em curso em Gaza.
O Irã responsabilizou o Conselho de Segurança da ONU, imobilizado pelos vetos norte-americanos a qualquer condenação a Israel, pelo agravamento da crise no Oriente Médio. O que, como afirmou a missão do país junto à ONU, permitiu a Israel cruzar todas as linhas vermelhas e não deixou outra escolha à República Islâmica. Em 1º de outubro, o Irã fez disparos massivos de mísseis contra alvos militares israelenses.