A Itália da coalizão Liga-5 Estrelas começa a mostrar a que veio. O vice-primeiro-ministro (há dois, para compor a aliança e não cansar o primeiro-ministro Giuseppe Conte), afirmou em Roma que deseja uma revisão da “reforma trabalhista”, já que o monstrengo imposto pelo então governo Renzi não resolveu nada e, ao invés de criar empregos, só aumentou os empregos precários, os empregos temporários, por tempo determinado. Ainda não se sabe o que sairá daí.
Di Maio assumiu, também, o comando do ministério do Desenvolvimento Econômico e do Trabalho, de onde espera viabilizar a “renda-cidadã”, uma espécie de bolsa-família bem mais parruda, de 780 euros, sujeita à condição, no intervalo de dois anos, de o beneficiado ter que aceitar um emprego que lhe seja oferecido (três chances), e se não o fizer, perderá o benefício. Os críticos dizem que isso acabará por reproduzir os chamados “minijobs” alemães, de baixos salários e quase sem direitos.
Já a “revisão da lei de aposentadoria” parece saída do caderninho da presidenta Dilma, com a fórmula tempo de contribuição mais idade tendo que igualar 100 (60 anos de idade e 40 de contribuição, no exemplo dado por Di Maio). Fala-se em restauração da idade mínima, esticada por Renzi. Também há planos para acabar com a “aposentadoria dos deputados” – proposta sobre a qual há questionamentos quanto à constitucionalidade.
Enquanto isso, o líder da Liga, Matteo Salvini, que além de vice-primeiro-ministro, assumiu a Pasta do Interior, não esperou para fazer o que considera mais inadiável para sua Itália dos italianos, isto é, dos italianos xenófobos. Foi até a Sicília, onde funciona um campo de acolhimento dos refugiados que cruzaram o Mar Mediterrâneo, Pozzallo, e declarou que “aqui é a fronteira da Itália” e que “o passeio” dos imigrantes “acabou”.
O médico Pietro Bartolo, que se tornou conhecido no mundo inteiro pelo socorro prestado em Lampeduza aos imigrantes, disse ao HuffPost edição italiana, esperar que Di Magio e Salvini se dêem conta de que não estão mais em campanha eleitoral e que acudam “os mais indefesos dos indefesos”.
Sobre a declaração de Salvini, ele apontou que, claro, “o passeio livre tem que acabar, mas para aqueles que lucram com as vidas de milhares de desesperados, para as organizações criminosas que prosperam no tráfico de pessoas, concentre-se nesses criminosos, ministro, e deixe aqueles que só pedem para viver uma vida digna para si e seus filhos”.
Bartolo lembrou como foi a intervenção imperial, colonizando, matando de fome, saqueando os países de origem, que forçou toda essa gente a fugir. O médico acrescentou que não se deve ter orgulho das “reduções” no número de refugiados – resultado dos “acordos” de Renzi com as “autoridades líbias”, quando isso acarretou “gente vendida como escravo”. E se dirigindo a Di Magio e Salvini, indagou: “pretendem renovar esses acordos ou mudar de rumo e, em caso afirmativo, qual seria esse caminho?”