“Alexandre, você mexer comigo, é uma coisa. Você mexer com a minha esposa, você ultrapassou todos os limites, Alexandre de Moraes”, disse ele, porque o ministro atendeu ao pedido da PF para investigar o caso
Jair Bolsonaro (PL) ficou nervoso com a investigação feita pela Polícia Federal de seu ajudante de ordem, Mauro Cesar Barbosa Cid, depois que o Coaf apontou movimentações financeiras suspeitas conduzidas por ele no gabinete do presidente da República para pagar contas pessoais da família presidencial e também de pessoas próximas da primeira-dama, Michelle Bolsonaro.
AGRESSÕES A ALEXANDRE MORAES
Em sua live desta terça-feira (27), Bolsonaro deu chilique e disse que a quebra de sigilo é uma “covardia”. Ele acusou Moraes de vazar a informação para o jornal Folha de S. Paulo, que revelou o caso com fontes na Polícia Federal. “Já está errado porque o Alexandre de Moraes vazou. Foi o Alexandre de Moraes quem vazou. Não vem com papinho de que foi a PF, não. Porque esse pessoal da PF, Alexandre de Moraes, come na tua mão. Então foi você que vazou”, disse Bolsonaro.
“Eu não vou adjetivar aqui, porque eu tenho vergonha de falar o adjetivo que merece o Alexandre de Moraes. Ele vaza para a imprensa para constranger a mim. Movimentação atípica. Olha, segundo eu sei, quem fala em movimentação atípica é o Coaf, e geralmente são movimentações acima de R$ 10 mil. O total [das transações feitas pelo Cid] deve dar R$ 12 mil. […] Alexandre, vou fazer um pedido para você: esqueça a minha esposa. Esqueça a minha esposa. Isso é comportamento de pessoas vis”, acrescentou Bolsonaro.
E, e, tom de ameaça, ele prosseguiu: “Alexandre, você mexer comigo, é uma coisa. Você mexer com a minha esposa, você ultrapassou todos os limites, Alexandre de Moraes. Todos os limites. Tu tá pensando o que da vida? Que você pode tudo? E tudo bem? Você um dia vai dar uma canetada e me prender? Isso que passa pela tua cabeça? É uma covardia.”
DINHEIRO VIVO
A investigação identificou um problema que é comum na família Bolsonaro: pagamentos em dinheiro vivo. Os pagamentos fracionados para uma tia de Michelle, que cuida da filha do casal, Laura, de 11 anos, quando a primeira-dama está em compromissos ou em viagens, caiu nas malhas da Polícia Federal. Realizações de depósitos fracionados e saques em espécie chamaram a atenção da polícia, que desconfia da tentativa de ocultar a procedência do dinheiro.
A família Bolsonaro já está envolvida num grande escândalo envolvendo a compra de 51 imóveis pagos total ou parcialmente em dinheiro vivo. Esse número é uma parte de um total de 107 imóveis adquiridos por membros da família desde que Bolsonaro entrou para a política. Só o seu filho, Flávio, adquiriu uma mansão de luxo em Brasília por R$ 6 milhões, sendo que seus ganhos como parlamentar não justificam esses gastos. Ele foi acusado pelo MP-RJ de desviar R$ 6 milhões no esquema criminoso de rachadinha quando era deputado estadual.
QUEBRA DE SIGILO
A quebra de sigilo bancário foi solicitada pela Polícia Federal no âmbito do caso que apurava o vazamento de uma investigação sobre um hacker no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Moraes compartilhou a apuração, que agora tramita no inquérito das milícias digitais. A PF investigava o vazamento do caso do ataque ao TSE. O ajudante virou alvo por ter atuado no episódio e teve o sigilo telemático (e-mails, arquivos de celular e nuvem de armazenamento) quebrado por ordem de Moraes. Na análise desse material, a PF se deparou com as movimentações financeiras que considerou suspeitas.
Conversas por escrito, fotos e áudios trocados pelo tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid, ajudante de ordens, com outros funcionários da Presidência sugerem a existência de depósitos fracionados e saques em dinheiro. Há um inquérito policial analisando as transações sob suspeita, mas ainda não há acusação formal. A PF quer descobrir a origem do dinheiro e investigar se há uso de verba pública.