
O vice-presidente Hamilton Mourão disse, em entrevista, nesta sexta-feira, que “é necessário que o presidente dê um jeito nos seus filhos”
O ex-advogado de trambiqueiros de Miami e presidente licenciado do PSL, Gustavo Bebianno, chamado de mentiroso pelo “pitbull” da família, Carlos Bolsonaro, permanecerá no cargo de Secretário-Geral da Presidência. A decisão foi tomada nesta sexta-feira (15) por Jair Bolsonaro e informada a Bebianno por Onyx Lorenzoni.
Bebianno havia tentado obter algum respaldo da Presidência da República para enfrentar as acusações de comandar um esquema de laranjas do PSL, envolvendo fraudes em Pernambuco e Minas Gerais, e disse que havia conversado com o presidente por três vezes na terça-feira (12). Nesta ocasião Jair Bolsonaro ainda estava internado em São Paulo.
A afirmação foi negada pelo filho mais novo do presidente, Carlos Bolsonaro, que divulgou um áudio do pai e chamou Bebianno de mentiroso. O filho de Bolsonaro diz na sua mensagem:
“Ontem estive 24h do dia ao lado do meu pai e afirmou: ‘É uma mentira absoluta de Gustavo Bebbiano que ontem teria falado 3 vezes com Jair Bolsonaro para tratar do assunto citado pelo Globo e retransmitido pelo Antagonista”.
O assunto, no caso era o escândalo das candidatas laranjas do PSL.
Minutos depois, Carlos Bolsonaro acrescentou outra postagem dizendo: “Não há roupa suja a ser lavada! Apenas a verdade: Bolsonaro não tratou com Bebianno (sic) o assunto exposto pelo O Globo como disse que tratou”. E postou um áudio de Bolsonaro para Gustavo Bebianno em que seu pai se recusa a falar com o secretário-geral da Presidência:
“Gustavo, está complicado eu conversar ainda. Então não vou falar, não vou falar com ninguém a não ser estritamente o essencial. E estou em fase final de exames para possível baixa hoje, tá ok? Boa sorte aí”.
Bolsonaro não escondeu que esperava que Bebianno já tivesse pedido demissão quando saísse do hospital onde esteve internado em São Paulo e chegasse à tarde a Brasília com trunfo para conter o terremoto do escândalo. Em entrevista ao Jornal da Record, concedida no hospital e exibida na noite de quarta, o presidente disse ter determinado a abertura de inquérito da Polícia Federal sobre o esquema de candidaturas laranjas de seu partido e que, “se Bebianno – que coordenou sua candidatura – estiver envolvido, o destino não pode ser outro a não ser voltar às suas origens”.
O cambaleante ministro bateu o pé e, apesar de torrado pelo escândalo do laranjal, literalmente mordido pelo filhote bolsonarista e desprezado pelo antigo chefe, afirmou que não pediria demissão. E que, se fosse obrigado a sair, levaria muita gente com ele. Defensores do ataque à Previdência Social ficaram em polvorosa com a lambança criada.
A “crise do laranjal” estava ameaçando colocar por terra os planos de Paulo Guedes e seus capangas de assaltar a Previdência. Pressionaram para que o ministro não fosse exonerado e, nestas circunstâncias, Bebianno acabou sendo mantido no cargo. Mais como um cala-a-boca do que como uma recomposição dele com a família bolsonaro. Assim como abafou a investigação de Flávio Bolsonaro, o presidente, que havia mandado a PF investigar, terá que dar meia volta e tentar abafar também as investigações de Bebianno.
Na reunião desta sexta-feira (15) com ministros no Palácio do Planalto, o ministro Gustavo Bebianno ouviu do também investigado Onyx Lorenzoni (Casa Civil) que ele ficará à frente da Secretaria-Geral da Presidência da República. Pessoas próximas aos ministros confirmaram que Jair Bolsonaro (PSL), mesmo a contragosto, havia pedido a suspensão da exoneração de Bebianno do governo federal.
Bolsonaro e Bebianno se reuniram no final desta sexta-feira, mas interlocutores afirmam que o impasse ainda permanece. O encontro foi organizado por ministros palacianos. Participaram, num primeiro momento, o vice-presidente Hamilton Mourão e os ministros Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e Onyx Lorenzoni (Casa Civil). Depois, num dado momento, Bolsonaro e Bebianno tiveram uma conversa reservada.
Integrantes do governo dizem que Bebianno está muito sentido pela maneira como foi tratado pelo presidente e seu filho, Carlos. Ministros e os presidentes da Câmara e do Senado, preocupados com os estragos que e demissão do ministro provocará na chamada base aliada do governo, tentaram colocar panos quentes na crise.
O vice-presidente, Hamilton Mourão disse, em entrevista no Mato Grosso, também nesta sexta-feira, que “é necessário que o presidente dê um jeito nos seus filhos. “Eu tenho filho e sei como isso funciona. Tem que dar um jeito na rapaziada”, afirmou Mourão.
“O que ocorre é que compete ao presidente chamar os filhos e dizer: ‘olha, fulano atua no Senado, sicrano na Câmara dos Deputados e o outro na Câmara de Vereadores. Façam lá esse trabalho de apoio às ideias do governo’”, prosseguiu o vice-presidente.
No domingo (10), o jornal Folha de São Paulo publicou uma reportagem com denúncias de que o grupo do atual presidente do PSL, Luciano Bivar (PE), recém-eleito segundo vice-presidente da Câmara dos Deputados, criou uma candidata laranja em Pernambuco que recebeu do partido R$ 400 mil de dinheiro público na eleição de 2018. O dinheiro foi liberado por Gustavo Bebianno.
Maria de Lourdes Paixão, 68, que oficialmente concorreu a deputada federal e teve apenas 274 votos, foi a terceira maior beneficiada com verba do PSL em todo o país, mais do que o próprio Bolsonaro e a deputada Joice Hasselmann (SP), essa com 1,079 milhão de votos.
O dinheiro do fundo partidário do PSL foi enviado pela direção nacional da sigla para a conta da candidata em 3 de outubro, quatro dias antes da eleição. Na época, o hoje ministro da Secretaria-Geral da Presidência era presidente interino da legenda e coordenador da campanha de Jair Bolsonaro (PSL), com foco na demagogia de que defendem a ética e iriam combater a corrupção.
Na quarta (13), outra revelação. Bebianno havia liberado R$ 250 mil de verba pública para a campanha de uma ex-assessora, que repassou parte do dinheiro para uma gráfica registrada em endereço de fachada – sem maquinário para impressões em massa. O ministro tentou, sem sucesso, negar as irregularidades. Bebianno tentou também, de novo sem sucesso, empurrar a responsabilidade para o então presidente licenciado da sigla, o deputado federal Luciano Bivar (PSL), que é o dono do PSL.
O presidente nacional do PSL, Luciano Bivar, eleito deputado federal por Pernambuco, complicou ainda mais a situação ao negar que Maria de Lourdes foi candidata laranja. Sem explicar o porquê de tanto dinheiro investido na campanha da candidata, ele creditou o fraco desempenho dela nas urnas ao fato de ser mulher e que a culpa é das cotas para mulheres. “[A política] não é muito da mulher. Eu não sou psicólogo, não. Mas eu sei isso”, disse.
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