
O reverendo Jesse Jackson, líder da luta pelos direitos civis, principal seguidor do Dr. Martin Luther King, integrou-se à campanha pela indicação do senador Bernie Sanders como candidato do Partido Democrata à Casa Branca.
Ao declarar seu apoio em um comício realizado na cidade de Grand Rapids, no Estado do Michigan, Jackson rejeitou a plataforma dita “moderada” de Joe Biden em favor da “agenda progressista” de Sanders, “que busca ir ao encontro das necessidades e exigências de nossas comunidades e é a mais adequada e nos dá a melhor chance de superar este fosso”.
Ele afirmou que “à exceção dos indígenas, nativos norte-americanos, os descendentes de africanos são as pessoas sob a maior desigualdade do ponto de vista social, do ponto de vista econômico nos Estados Unidos e nossas necessidades não podem ser moderadas. Por isso decidi declarar meu apoio a Bernie Sanders”.
O apoio de Jackson, que buscou a nomeação democrata em 1984 e 1988, veio um dia depois de um outro comício do senador que reuniu 15,000 pessoas na cidade de Chicago.
Os eleitores registrados no Partido Democrata vão votar na terça-feira, dia 10, nos Estados de Michigan, Idaho, Mississippi, Missouri, Dakota do Norte e Washington. Uma semana depois, dia 17, acontecem as primárias de Illinois, Arizona, Flórida e Ohio.
“A campanha de Biden não me procurou nem pediu meu apoio”, destacou Jackson, “a campanha de Sanders o fez, eles responderam às questões e preocupações que expressei”.
Jackson apresentou 13 comentários e compromissos assumidos por Sanders a seu pedido, incluindo a luta contra a supressão do voto dos negros; reforma tributária; medicina para todos; educação pública gratuita e de qualidade e promoção da paz acabando com as infindáveis guerras.
De acordo com Jackson, no Dia Internacional da Mulher, Sanders assumiu o compromisso de levar mulheres negras para postos-chave na Casa Branca.
A seu pedido, vai criar um mercado capaz de absorver os produtos produzidos pelos camponeses negros, “que enfrentaram discriminação histórica”.
Também vai “investir nas necessidades educacionais específicas dos negros, mulatos e das comunidades pobres; se compromete com financiamento especial para centros de saúde no meio rural e nos locais habitados por pessoas destas formações sociais”.
Também vai promover “mais comércio, um comércio justo com os países da África e do Caribe”.
O jornalista Ryan Grim, do portal The Intercept, informou que toda a direção da organização que Jackson preside, a Rainbow Push, também se posicionou a favor da candidatura de Sanders.
Bernie Sanders, então prefeito da cidade de Burlington, a maior do Estado de Vermont, em 1988, declarou apoio à candidatura de Jackson à Presidência pelo Partido Democrata, logo depois de sua vitória no Michigan.
Ao contrário da atitude de Sanders, o establishment democrata se voltou contra a candidatura de Jackson.
À época, Sanders declarou: “Enquanto, de fato, a candidatura de Jesse Jackson pode trazer a perda de alguns votos conservadores dos brancos, de alguns eleitores brancos racistas, penso que é uma oportunidade real para fazer o que a de Walter Mondale não conseguiria fazer em um milhão de anos que é trazer milhões e milhões de pessoas pobres, trabalhadores para uma participação nunca havida antes na arena política”.
UM CICLO
Para o jornalista Grim, “o apoio de Jackson, agora, fecha um ciclo na política norte-americana”.
Ao declarar seu apoio a Sanders, Jackson lembrou as atitudes de Abraham Lincoln que “salvaram os Estados Unidos”:
“Quando o presidente Abraham Linccoln estava com as costas contra a parede lançou uma proposta significativa – a Proclamação de Emancipação. Ao emitir essa proclamação permitiu a libertação dos ‘soldados de cor’ para que lutassem para salvar a Nação. E depois da Guerra Civil, esses soldados, ao ajudarem a salvar a União permitiram que a União libertasse os escravos e afirmasse sua cidadania através das emendas 13, 14 e 15” e, ao lembrar o momento de tensão internacional e nos Estados Unidos acrescentou: “São os compromissos agora assumidos por Sanders que podem vencer esta crise – o que inclui necessários esforços para uma paz justa entre israelenses e palestinos e em todo o Oriente Médio -, e é por isso que declaro meu apoio entusiástico à candidatura de Sanders”.
PARTICIPAÇÃO DE SANDERS NO MOVIMENTO PELOS DIREITOS CIVIS

Ao se referir ao apoio de Jesse Jackson à campanha de Sanders, o escritor e ativista Shaun King enfatizou que, a confiança dos líderes do movimento civil a ele não se deve apenas a atitudes ou compromissos atuais.
Enquanto a maioria dos estudantes brancos se acomodavam diante da agressão policial ao movimento dos direitos civis e a Martin Luther King, ao linchamento de negros, lembra Shaun, Bernie Sanders, em 1963, então com 21 anos, foi preso em uma das manifestações a favor do movimento do Dr. King. Ele encabeçou o apoio a este movimento na Universidade de Chicago, onde liderou a sucursal do Congresso pela Igualdade Racial (CORE).
Shaun acrescenta que a modéstia de Sanders, que acredita ter feito isso tudo a partir de sua obrigação, o impede de usar isso nos comícios de hoje. Ele conta que “Bernie odeia contar estas histórias e resiste a usá-las para capitalização política ao longo dos anos. Mesmo quando seus assessores e outros insistem que ele deveria fazê-lo para incrementar seu perfil, ele tem recusado. Ele fez isso porque se importa e se importava. Quando eu apresentei Bernie em um comício em Los Angeles e compartilhei muitas de suas histórias, seus familiares vieram me dizer, em lágrimas, que nem eles tinham ouvido estes relatos. Ele sempre sentiu que aquilo que fez durante os anos 1960 era pálido diante dos que foram surrados ou perderam suas vidas e por isso guarda estas histórias para si”.
“Hoje é bonito para certas pessoas dizer ‘Eu marchei com o Dr. King’ – e Bernie de fato o fez, quando participou da Marcha a Washington, mas ele fez muito mais que isso. O que estou relatando não é nenhum mito exagerado, é a história original de um político revolucionário”, finaliza Shaun King.