Segundo o presidente do sindicato, Thiago Tanji, “nossa atuação amenizou parte da tragédia provocada pelo governo Bolsonaro”. Encontro marcou o aniversário de 85 anos do Sindicato
Na última terça-feira (12), o Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP) retomou as atividades presenciais em sua sede para comemorar o Dia do Jornalista e os 85 anos de vida da entidade. Para comemorar, o sindicato organizou o mês para a realização de atividades que tem como tema central: Jornalistas Salvam Vidas, Defendem a Democracia e Fazem a Diferença!
O SJSP realizou um debate sobre a importância do trabalho jornalístico na cobertura da pandemia e discutiu como a categoria deve resistir à epidemia de fake news e ataques à democracia em pleno ano eleitoral.
O debate contou com a presença de Thiago Tanji, presidente do Sindicato; Mariana Kotscho, colunista do Universa, do portal UOL; Guilherme Balza, repórter da Globonews e diretor do SJSP e também responsável pela divulgação do escândalo da Prevent Sênior – que utilizou indiscriminadamente medicamentos ineficazes contra o coronavírus em seus pacientes; além dos diretores da entidade e representantes de partidos políticos e dos movimentos sociais.
Thiago Tanji iniciou sua fala em referência aos dois anos da pandemia de Covid-19, a decisão de organizar o evento “Jornalistas salvam Vidas” e a valorização da categoria.
“Esses dois anos jamais serão esquecidos, com milhares de mortes, com todos os ataques realizados por Bolsonaro, as vítimas desta pandemia jamais serão esquecidas. Os responsáveis por esse desastre sanitário, social e econômico serão devidamente punidos, punidos não apenas pela história, mas que paguem por tudo o que cometeram em um espaço de tempo bastante breve”, disse.
Ele destacou o papel de resistência desempenhado pelos jornalistas ao governo Bolsonaro que amenizou parte da tragédia ocorrida no país.
“Está claro que nos últimos dois anos, nossa profissão passou por um verdadeiro resgate de autoestima, porque nossa atuação foi o que amenizou parte da tragédia provocada pelo governo Bolsonaro. Foi a nossa resistência diária que permitiu continuar a divulgar e fazer circular informações essenciais mesmo diante de todo o tipo de ataques, ameaças e agressões e porque foi a nossa disposição para lutar, se unir e se entender como classe trabalhadora que possibilitou a resistência mesmo durante a pandemia para garantir direitos e lutar por salários e por dignidade afinal, o governo Bolsonaro nos odeia e nos têm como inimigos, isso é certo”, disse.
“Infelizmente nossos patrões, que fazem parte da classe dominante, que tanto mal fez a nosso país nesses últimos anos, também nos impõem demissões, precarização e tentativas de arrocho e, diante disso, nós levantamos a cabeça e fomos para a luta e foi na luta que fizemos uma paralisação histórica, depois de décadas, e reunimos a categoria de jornais e revistas da capital para uma vitória pela recomposição dos nossos salários”, complementou Thiago.
JORNALISMO E A LUTA PELA DEMOCRACIA
Para Mariana Kotscho, é fundamental que o jornalista defenda a democracia e lute contra os desmandos que acontecem no país. Em tempos de disseminação de notícias falsas, fake news, negacionismo e ataques à democracia, ir contra esses ideais forja um comunicador nas lutas para a construção de uma sociedade mais justa e progressista.
“Quando a gente fala em se posicionar, a gente tem que se posicionar, pois é necessário para defender a democracia, para defender a vida, pra defender o que é a verdade. Quem hoje não se posiciona por uma sociedade antirracista se declara racista, então de que lado você está? Lembrando que racismo não é opinião, não é liberdade de opinião, porque hoje em dia tentam manipular até isso. Racismo é crime, assim como em tantas outras questões. Também, ao defender as mulheres lutamos contra o fascismo. É preciso fazer o jornalismo que a gente acredita, o certo, o que luta pela democracia, para que assim prevaleça”, disse.
“E quero falar para o Bolsonaro, para os comparsas dele, que quando ele se dirige ao jornalista com desrespeito, ele está desrespeitando toda a sociedade. As pessoas precisavam entender isso, porque o jornalista está ali como representante da sociedade também pra fazer a ponte entre o que é notícia, o que é a realidade pra informar, para denunciar e conscientizar. Então quando um político, seja lá quem for, trata mal jornalista, olha quando ele está tratando mal o eleitor, ele está dizendo que ele não está nem aí pra ninguém. Então é um hábito péssimo, horroroso e burro”, continuou Mariana.
PREVENT SENIOR
Em seguida, o repórter da GloboNews e diretor do SJSP, Guilherme Balza, abordou em sua fala a denúncia sobre como a operadora Prevent Senior distribuiu indiscriminadamente remédios do chamado “kit covid” durante a pandemia. As apurações feitas pelo repórter geraram diversas matérias jornalísticas, um documentário e foram parar na CPI da Covid no Senado. “[O jornalista precisa] Não naturalizar os processos e ter a capacidade de se indignar; ter um desejo de contar direito essa história porque a pandemia foi um grande trauma das gerações que estão vivendo isso e o que estará nos livros de história é o que nós produzimos com o jornalismo”, aconselhou Balza.
O jornalista ressaltou que, mesmo sem ter sofrido graves ameaças após revelar o escândalo da Prevent, passou a se expor menos e a tomar certos cuidados. “Recebi ofensas nas redes sociais e sempre achei que meu telefone estava grampeado, mas tem a questão de ser homem e o nível de ameaças é diferente. Claro, homens também sofrem ameaça de morte, mas a agressividade contra a mulher é maior pelo machismo estrutural”, concluiu. Para ele, o fato de as grandes redes de ódio não terem se mobilizado em favor da Prevent contribuiu para que ele não tivesse sofrido represálias ainda maiores.
Para Guilherme Balza, jornalistas podem salvar vidas, mas para tanto é preciso que cada profissional se questione individualmente a respeito do trabalho que desenvolve. “A gente tem sempre que se fazer a pergunta se o nosso trabalho enfrenta questões estruturais do país, se está posicionado e preocupado com quem mais precisa. Mas acho que sim, nessa pandemia, o trabalho do jornalista foi fundamental para que não houvesse, por exemplo, um milhão de mortos”, disse.
Ele também se atentou à necessidade do jornalista se ver como parte da classe trabalhadora, que vem sofrendo ataques e a desvalorização da categoria.
“O nosso ofício é apurar e não colocar uma informação errada no ar. É o nosso método da nossa ciência, é apurar. É fundamental que o jornalista se reconheça como parte de uma classe trabalhadora, eu acho essa a maior dificuldade hoje pros jornalistas que estão começando agora é a gente se ver como trabalhador, de ver o cara que está do lado dele ali no ônibus como um igual. A gente fica muitas vezes num limbo, mas a gente é classe trabalhadora cada vez mais, então é pra gente desatar esse nó, a gente tem que começar a se reconhecer como esse, como parte dessa classe trabalhadora. Nossa categoria vem sendo muito desvalorizada, muito atacada, é preciso lutar”, disse.
A diretora Joane Motta destacou que é preciso retomar o coletivo de mulheres do sindicato, um fórum importante e necessário para a luta, acolhimento e formação das jornalistas.
“O jornalismo tem o papel de contar história e tem o papel de denunciar o que vem acontecendo no país. É preciso reativar o coletivo de mulheres, para se aproximar mais das jornalistas e entender como é que elas estavam se sentindo durante o período pandêmico, o que elas esperavam e como o sindicato poderia participar mais, para ajudar neste enfrentamento. Nós estamos no caminho para poder fazer valer o papel desse sindicato”.
Carina Vitral, ex-presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE) e membro do comitê central do PCdoB, participou também da discussão, parabenizando o evento e conclamando a defesa da democracia no país.
“Em nome do PCdoB saúdo a instituição, como um instrumento de luta que continua vivo nos dias de hoje. Quando a gente está aqui, depois de dois anos de pandemia se reencontrando, mantendo o sindicato vivo, a gente mostra que o sindicato vai ter futuro. A esquerda está voltando pras ruas, se fortalecendo com a possibilidade de nós virarmos o jogo. A gente tem esperança de que o Brasil vai andar pra frente, vai voltar a caminhar pra frente e o papel dos jornalistas é fundamental para a democracia.Em tempos de fake news torna-se ainda mais necessário essa luta pela democracia e pela informação”, disse.