
Reclamaram de “cárcere privado” e deixaram a cerimônia antes do horário
A gentileza e a atenção do cerimonial de posse de Bolsonaro atingiram também jornalistas estrangeiros credenciados para cobrir a posse presidencial.
Um grupo estrangeiro de jornalistas que estava no Palácio do Itamaraty revoltou-se contra a impossibilidade de circular livremente para cobrir a posse. Os jornalistas ficaram impedidos de transitar entre os prédios da Esplanada e da Praça dos Três Poderes.
Na chegada ao Palácio do Itamaraty, os correspondentes credenciados foram conduzidos ao piso inferior e colocados na sala San Tiago Dantas, onde teriam que permanecer até às 17h, quando seriam, então, guiados ao térreo para acompanhar a chegada de autoridades.
O espaço não tinha cadeiras para se acomodarem e não dispunha de janelas para que os profissionais pudessem ver o que estava acontecendo lá fora. A limitação e o tratamento irritaram os correspondentes. “No mapa, quando você vê o Palácio, acha que poderá filmar as coisas acontecendo na Esplanada. No fim, nos demos conta de que ficamos presos em uma sala de imprensa sem vidro, onde não podemos fazer nada para registrar a chegada de convidados”, descreveu Fanny Marie Lotaire, da rede de tevê France 24.
Depois de muitas queixas, três jornalistas da emissora e um jornalista da agência oficial de notícias da China deixaram o Palácio do Itamaraty, mas não foi fácil deixar o local. Porque, inicialmente, a assessoria do Itamaraty explicou que eles não poderiam sair do ministério até às 20h, quando sairiam os primeiros ônibus que levariam os jornalistas de volta ao Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB).
Após críticas e denúncia de “cárcere privado”, a comunicação do Itamaraty conseguiu um ônibus para levar quem desejasse sair. “Prefiro ter minha liberdade de entrevistar qualquer pessoa passando na rua, mesmo que esteja vazia, do que ficar aqui”, disse Fanny.
A imprensa foi muito destratada pelo cerimonial da posse de Jair Bolosonaro, como relatamos antes. O caso revoltou Miriam Leitão, da TV Globo.
Protesto da Abraji
A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) divulgou nota, protestando contra o tratamento dispensado à imprensa durante a cobertura da posse de Jair Bolsonaro (PSL).
Na nota, a Abraji diz que “um governo que restringe o trabalho da imprensa ignora a obrigação constitucional de ser transparente. Os brasileiros receberão menos informações sobre a posse presidencial por causa das limitações impostas à circulação de jornalistas em Brasília”.
“A Abraji protesta contra este tratamento antidemocrático aos profissionais que estão lá para levar ao público o registro histórico deste momento”, conclui a nota da entidade.