Juristas e movimentos sociais repudiam ataques ao TSE e prestam apoio a Fachin

O presidente do TSE reunido com os representantes das entidades. Foto: Antonio Augusto - Secom - TSE
Mais de 20 entidades que compõem a “Coalizão para a Defesa do Sistema Eleitoral” entregaram carta ao presidente do TSE em que repudiam os constantes ataques do chefe do Executivo à Corte Eleitoral e às urnas eletrônicas

À medida que o presidente Jair Bolsonaro (PL) radicaliza nas falas e ações dele contra o sistema eleitoral, uma coalizão vai se formando entorno da democracia e das instituições que as sustentam para garantir eleições limpas, seguras, confiáveis e sob o sistema eletrônico.

É o que fica evidente com reunião realizada segunda-feira (16) com o ministro Edson Fachin, presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), e a “Coalizão para a Defesa do Sistema Eleitoral”, que entregou carta por meio da qual repudia os constantes ataques que o chefe do Poder Executivo “e seus seguidores vêm desferindo contra o processo eleitoral brasileiro”. 

Edson Fachin recebe a carta das entidades. Foto: Antonio Augusto – Secom – TSE

O grupo é composto por mais de 20 organizações da sociedade civil. 

Bolsonaro já usou discursos para questionar, sem apresentar provas, a eficácia do processo eleitoral brasileiro e o TSE, além de incentivar a adoção do voto impresso em algumas instâncias, algo já derrubado pelo Congresso Nacional. Mas ele continua com a cantilena golpista.

‘INSTABILIDADE INSTITUCIONAL’

Como resposta, o grupo sustenta que as falas e ações de Bolsonaro servem para “gerar instabilidade institucional”. “Tais agressões, bravatas e afirmações desprovidas de respaldo técnico, científico e moral, servem a um único propósito: o de gerar instabilidade institucional, disseminando a desconfiança da população brasileira e do mundo acerca da correção e regularidade das eleições brasileiras”, escreveram no documento.

As entidades ainda solicitaram que Fachin garanta a efetividade das políticas afirmativas de acesso a grupos minoritários da população na participação nas eleições, manifeste solidariedade em face aos ataques contra a Justiça Eleitoral, reafirme compromisso com a integridade e abra edital de chamamento para observadores eleitorais. 

Além disso, a coalizão expressa preocupação em relação à eventual utilização indevida de instrumentos tecnológicos de espionagem e inteligência artificial, pedindo que Fachin consiga informações e, se necessário, abra inquérito sobre o uso dessas ferramentas.

Leia abaixo a carta na íntegra da Coalizão Para a Defesa do Sistema Eleitoral:

 “Excelentíssimo Senhor MinistroEdson Fachin 

Presidente do Tribunal Superior Eleitoral – TSE 

As entidades da sociedade civil abaixo listadas vêm à presença de V. Exª manifestar, inicialmente, sua indignação e repúdio em face dos constantes ataques que o senhor Presidente da República e seus seguidores vêm desferindo contra o processo eleitoral brasileiro, a Justiça Eleitoral e seus juízes e servidores.

É inadmissível que o primeiro mandatário – ocupante do cargo que se situa na cúpula da estrutura hierárquica do Poder Executivo nacional e que, portanto, tem o dever de dirigir os rumos do país com serenidade e responsabilidade – valha-se de seu cargo, para atuar de forma exatamente oposta a seus deveres jurídicos e institucionais, atacando de forma periódica, reiterada e sistemática o sistema eleitoral brasileiro, dirigindo-lhe críticas infundadas, dúvidas e afirmações desprovidas de respaldo técnico e racional.

É isenta de dúvidas a forma como o Brasil vem, ao longo de décadas, aprimorando e fazendo evoluir seu sistema de votação e de apuração de votos. Esse sistema que, em todas as eleições realizadas, entregou seus resultados dentro da mais ampla transparência e lisura, foi, inclusive, o sistema que permitiu que o atual Presidente assumisse seu cargo e fosse diplomado, com mais de 50 milhões de votos, nas últimas eleições.

Tais agressões, bravatas e afirmações desprovidas de respaldo técnico, científico e moral, servem a um único propósito: o de gerar instabilidade institucional, disseminando a desconfiança da população brasileira e do mundo acerca da correção e regularidade das eleições brasileiras, e, por consequência, desacreditar o próprio país, como nação democrática, colocando em xeque a segurança jurídica, em momento especialmente delicado, em que se faz essencial a tranquilidade e a isenção de ânimos, para que o processo eleitoral transcorra sem sobressaltos ou mesmo atos de violência.

Tal necessidade se atrela não apenas à vida democrática e institucional do povo brasileiro, mas igualmente à sua imagem e reputação no cenário internacional, em que a segurança jurídica é condição primeira para a construção de um clima de confiança, no qual o desenvolvimento social, econômico e político do país possa ser retomado.

Não aceitamos a condição de reféns de chantagens e ameaças de ruptura institucional após pouco mais de três décadas em que a normalidade democrática foi restabelecida em nosso país, com o custo de muitas vidas, sofrimentos, privações e lutas.

Nessa medida, manifestamos a V. Exa. nossa solidariedade, em face dos ataques que as instituições da justiça eleitoral vêm sofrendo de forma reiterada e sistemática. 

Também registramos nossa preocupação com a utilização indevida, pelo Governo Federal, de instrumentos tecnológicos de espionagem e inteligência artificial, tais como o Pégasus, DarkMatter e o Córtex com a finalidade de obtenção de informações sigilosas, ao arrepio da legalidade, com a finalidade de interferir no processo eleitoral.

Nessa preocupante conjuntura, organizadas em forma de “Coalização para a Defesa do Sistema Eleitoral”, as organizações e entidades abaixo listadas comparecem à presença de V. Exa. para: 

a) Reafirmar seu compromisso com a lisura e integridade do processo eleitoral e com as instituições da Justiça Eleitoral;

b) Manifestar sua solidariedade em face dos ataques infundados que as instituições da justiça eleitoral vêm sofrendo sistematicamente; 

c) Requerer a imediata abertura de edital de chamamento público para a composição de uma grande “Missão Internacional de Observadores Eleitorais”, com experiência comprovada em observações dessa natureza, nos moldes de experiências bem-sucedidas de outros países;

d) Que essa presidência solicite informações ao Poder Executivo e, se necessário, requisite a abertura de inquérito acerca do uso, pelo Governo Federal, de instrumentos tecnológicos de espionagem e de inteligência artificial, tais com o Pégasus, DarkMatter e Córtex, com a finalidade de obter informações sigilosas, de forma ilegal, e interferir na regularidade do processo eleitoral; 

e) Reivindicar a efetividade das políticas afirmativas de acesso de grupos minoritários aos fundos eleitorais com o fito de incentivar a participação política de mulheres, povos indígenas e pessoas afro-brasileiras.

Na oportunidade, renovamos cordiais saudações democráticas. 

Brasília (DF) 16 de maio de 2022. 

Assinam o presente documento: 

Articulação dos Povos Indígenas do Brasil – APIB 

Associação Advogadas e Advogados Públicos para a Democracia – APD Associação Americana de Juristas – AAJ 

Associação Brasileira de Estudos do Trabalho – ABET 

Associação Brasileira de Juristas pela Democracia – ABJD 

Associação de Juristas pela Democracia – AJURD 

Associação Juízes para a Democracia – AJD 

Associação Nacional dos Defensores Públicos – ANADEP 

Coalizão Negra por Direitos 

ColetivA Mulheres Defensoras Públicas do Brasil 

Coletivo Transforma MP 

Comissão Brasileira Justiça e Paz – CBJP 

Comissão Justiça e Paz de Brasília – CJP-DF 

Comissão Pastoral da Terra – CPT 

Federação Nacional dos Estudantes de Direito – FENED 

Fórum Social Mundial Justiça e Democracia – FSMJD 

Grupo Prerrogativas Instituto Brasileiro de Direito Urbanístico – IBDU

Instituto de Pesquisas e Estudos Avançados da Magistratura e do Ministério Público do Trabalho – IPEATRA 

Movimento dos Trabalhadores Sem Terra – MST 

Sindicato dos Advogados de São Paulo – SASP”

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