Ucrânia usou a zona de segurança do “corredor de grãos” para deslocamento de drones no ataque a Sebastopol, conforme mostrou perícia dos módulos de navegação e recuperação de dados
A violação pela Ucrânia, da zona de segurança do corredor de grãos mediado pela ONU e Turquia, para um ataque com drones aéreos e navais à base russa de Sebastopol, atingindo no fim de semana navios envolvidos na garantia de passagem segura, forçou a Rússia a suspender sua participação no acordo de exportação de grãos de portos ucranianos, anunciou Moscou. Segundo investigação preliminar, drones foram lançados do porto de Odessa e de um dos navios fretados por Kiev oficialmente para o transporte de grãos.
O ataque – considerado “terrorista” pelo porta-voz militar russo – incluiu nove drones aéreos e sete navais, que acabaram abatidos pelas defesas russas. Destroços desses drones foram recuperados e trazidos à superfície para serem periciados. Um caça-minas e uma barreira da baía sofreram danos. Especialistas examinaram os módulos de navegação fabricados no Canadá instalados nos drones navais e, de acordo com os resultados da restauração das informações lidas na memória do receptor de navegação, foi estabelecido que “o lançamento de veículos não tripulados marítimos foi realizado da costa perto da cidade de Odessa”, os drones se moveram exatamente ao longo da zona de segurança do corredor de grãos, após o que mudaram a rota na direção da base naval russa em Sebastopol.
Por sua vez, Andrey Ermak, chefe de gabinete do presidente Zelensky, chamou a reação russa ao atentado que violou o acordo mediado pela ONU e por Ancara de “chantagem primitiva”.
O acordo de grãos visava reabrir as exportações agrícolas da Rússia e da Ucrânia, que haviam sido interrompidas devido ao conflito entre os dois países. Foi saudado pela ONU como crucial diante da crise alimentar global e para prevenir a fome nos países mais pobres do mundo.
Pelo acordo, navios civis podiam fazer o transporte de e para os portos ucranianos, com a Rússia e Turquia fazendo a inspeção das cargas agrícolas, tendo sido delimitado um corredor marítimo seguro para isso.
No ataque à ponte da Crimeia, as investigações aventaram que os explosivos haviam sido transportados desde um porto ucraniano por um navio civil, mas na direção contrária, para subir o rio Danúbio – e a Rússia já advertira que, se isso ficasse provado de forma inquestionável, o próprio acordo estaria em risco.
INGLESES TIVERAM PARTICIPAÇÃO NO ATAQUE
O Ministério da Defesa russo denunciou ainda que o atentado foi preparado por especialistas britânicos, o que Londres, como é praxe, nega. Os referidos militares britânicos operam no 73º Centro Especial de Operações Marítimas em Ochakovo, região de Mykolaiv. Esses mesmos ‘especialistas britânicos’ estão sendo acusados de participação na explosão dos gasodutos Nord Stream em setembro.
Por outro lado, a Rússia já vinha denunciando que o acordo do Mar Negro, no que tange ao alívio das sanções sobre a exportação de grãos e fertilizantes russos, não vinha sendo implementado pelos europeus, e solicitara a Guterres uma solução.
Sem condenar o ataque ucraniano que viola o acordo do corredor de grãos do Mar Negro, o presidente Joe Biden classificou de “ultrajante” a decisão de Moscou, alegando que “exacerbaria a fome”. Comentário que foi repudiado pelo embaixador russo em Washington, Anatoly Antonov, como “injustificado”.
“A resposta de Washington ao ataque terrorista no porto de Sebastopol é que é verdadeiramente ultrajante”, disse Antonov, cobrando que os EUA não condenaram “as ações imprudentes do regime de Kiev”.
Dados os “ataques e provocações contra navios militares e mercantes russos envolvidos na Iniciativa do Mar Negro”, Moscou não pode continuar suas operações sem se preocupar com questões de segurança, enfatizou o embaixador.
Antonov também se opôs a “insinuações” de que a Rússia estava causando uma fome global. Moscou enfatizou repetidamente a importância de fornecer produtos agrícolas aos países mais pobres e se ofereceu para entregar grãos russos mantidos em portos ocidentais aos Estados africanos gratuitamente. No entanto, apenas uma fração do grão exportado da Ucrânia vai para os países mais pobres, ele observou:
“Como parte do programa de grãos, mais da metade de todos os embarques de carga seca foi para os países industrializados. Ao mesmo tempo, Somália, Etiópia, Iêmen, Sudão e Afeganistão receberam apenas cerca de 3% dos produtos agrícolas .”
Quanto aos grãos para os países mais pobres do mundo, o ministro da Agricultura da Rússia, Dmitry Patrushev, sinalizou que Moscou está pronta, com a ajuda de Turquia, para enviar até 500.000 toneladas nos próximos quatro meses. Ele observou que, considerando a colheita deste ano, a Rússia “está totalmente pronta para substituir os grãos ucranianos” e providenciar entregas para “todos os países interessados” a um preço razoável.
“O acordo de grãos não apenas não resolveu os problemas dos países necessitados, mas até os agravou em certo sentido. Podemos ver para onde os navios da Ucrânia estavam indo – Itália, Espanha e Holanda. Para algumas cargas, a participação dos países da UE varia de 60 a 100%. Esses não são os Estados que estão passando por um verdadeiro problema alimentar”, disse o ministro.