Reunião de surpresa entre os presidentes Kim Jong Un (norte) e Moon Jae-in (sul) no sábado (26) decidiu que as duas partes da Coreia realizarão na próxima sexta-feira (1º de junho) conversações alto nível e reiterou a “firme vontade” do norte de realizar a cúpula com os EUA que chegou a ser desmarcada, mas cuja realização, após a resposta serena de Pyongyang a Trump, está de volta à ordem do dia.
Foi o segundo encontro entre Kim e Moon em um mês, com os dois trocando um forte abraço cuja imagem correu mundo. Realizada na Casa da Paz em Panmunjon, na zona desmilitarizada na divisa comum, a reunião avançou ainda mais na reconciliação intercoreana ao definir que, daqui para a frente, os dois líderes irão se encontrar frequentemente. A decisão é marchar adiante na busca da assinatura da paz definitiva e na desnuclearização da península. A Coreia é uma nação com cinco mil anos de história, que ficou dividida pela ocupação dos EUA no sul, após décadas de resistência à anexação forçada ao Japão e libertação em agosto de 1945.
De acordo com a agência de notícias KCNA, Kim agradeceu a Moon “pelo grande empenho realizado por ele para que se celebre a cúpula Coreia do Norte-Estados Unidos programada para 12 de junho em Cingapura”. O líder do sul, por sua vez, disse a Kim esperar que a história de confrontação seja encerrada pela cúpula com Trump.
O porta-voz da Casa Azul – o palácio de governo do sul – revelou que a principal discussão no encontro foi “como fazer a cúpula Coreia do Norte-EUA bem sucedida e sobre como implementar a declaração de um tratado de paz”, que ponha fim formalmente ao estado de guerra vigente desde os anos 1950 e substitua o armistício ‘provisório’ que já dura 70 anos.
CÚPULA RPDC-EUA
A cúpula Coreia do Norte-EUA chegou a ser desmarcada na quinta-feira por Trump, após Pyongyang reagir a declarações provocativas feitas pelo conselheiro de segurança nacional, o belicista, John Bolton, e pelo vice-presidente Mike Pence, o primeiro, sobre que o “modelo de desnuclearização” seria o “líbio”; o segundo, que se Kim não assinasse, aí que teria o destino da Líbia. Para piorar, no exercício militar anual no sul Max Thunder, algum débil mental do Pentágono teve a ideia de enviar bombardeiros estratégicos nucleares B-52.
Como se sabe, a Líbia assinou com os EUA acordo de fechamento do programa nuclear na época da invasão do Iraque, mas foi traída em 2011, sendo bombardeada, seu líder assassinado e o país está em caos e ruína até hoje, questão bastante debatida em Pyongyang.
Assim, não era a Coreia que estava sendo “hostil” – como Trump inclusive alegou – ao recusar a chantagem, que era uma evidente provocação por parte daqueles em Washington que não querem a cúpula. Pelo seu lado, a Coreia Popular (norte) seguiu cumprindo o que prometera e, horas antes do recuo de Trump da cúpula, havia destruído seu único polígono de testes nucleares. Diante da carta de Trump, Pyongyang manifestou sua disposição de discutir todas as questões com Trump, “cara a cara, a qualquer momento e em qualquer lugar”. A declaração norte-coreana também reconhecia o mérito de Trump em ser o primeiro presidente norte-americano na história a se propor publicamente a realizar uma cúpula com a Coreia Popular.
Trump replicou, dizendo que a cúpula ainda poderia vir a se realizar, inclusive até mesmo na mesma data e local.“Nós estamos falando com eles agora. Eles querem muito fazê-la. Nós gostaríamos de fazê-la”, disse na sexta-feira na Casa Branca a jornalistas. Evolução que recebeu o apoio de China, Rússia, França e da ONU. No fim de semana, representantes norte-americanos e norte-coreanos se reuniram em Panmunjon pela retomada da cúpula Kim-Trump.