Segundo ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), a chinesa DeepSeek será uma “fonte” que pode aumentar a agilidade no desenvolvimento do modelo brasileiro
A ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Luciana Santos, afirmou em entrevista à CNN que o desenvolvimento de um modelo nacional de inteligência artificial está em curso e que as informações dos brasileiros têm que permanecer em domínio nacional.
Segundo Luciana, a tecnologia chinesa DeepSeek será uma “fonte” que pode aumentar a agilidade no desenvolvimento do modelo brasileiro. “A gente quer desenvolver nossos próprios modelos. Mas é óbvio que a gente bebe na fonte daquilo que é mais avançado, até para ter agilidade no desenvolvimento”, disse a ministra.
“O que eu acho positivo para nós, é que no momento que o Brasil está montando todo o seu plano de inteligência artificial que já está em curso, que já está em implementação, isso anima ainda mais as nossas possibilidades”, ressaltou.
Segundo a ministra, existe a percepção de que a DeepSeek representa um exemplo de como países emergentes, mesmo com menos recursos, podem disputar espaço no setor de IA. Para Luciana, “o aspecto que considero mais importante é: há um debate de que o volume de investimentos necessário para competir em IA seria inalcançável para emergentes. A DeepSeek conseguiu, com menos recurso, ter a mesma resposta que ChatGPT e outras. Isso reforça a viabilidade do que planejamos”.
COBIÇA
A ministra destacou que o desenvolvimento da tecnologia brasileira é fundamental para proteger os dados brasileiros. De acordo com Luciana, existe uma “cobiça” pelos dados brasileiros, e as informações têm que permanecer em domínio nacional.
“Nós precisamos que aqueles dados que são produzidos pela inteligência brasileira, sejam nossos”, continuou.
“Há uma verdadeira cobiça pelos dados brasileiros, pelos SUS, pelos dados da Embrapa, do ministério da Ciência e Tecnologia, dos institutos que pesquisam e desenvolvem vacinas e tudo isso não pode ficar na mão de empresas, tem que ficar na mão de domínio nacional”, adicionou a ministra.
Com a infraestrutura disponível e incentivos adequados, o governo avalia que o Brasil tem condições de competir nesse setor estratégico. A ministra também destacou que o país conta com vantagens comparativas essenciais para o desenvolvimento da IA, como abundância de energia limpa e disponibilidade de água, fatores considerados fundamentais para sustentar avanços na tecnologia.
Para impulsionar a IA no Brasil, o MCTI apresentou, em 2023, um plano de investimentos de R$ 23 bilhões para o período entre 2024 e 2028. Desse total, aproximadamente R$ 14 bilhões serão direcionados para projetos de inovação empresarial, enquanto mais de R$ 5 bilhões serão aplicados em infraestrutura e desenvolvimento de tecnologia. O governo avalia que essa iniciativa pode aproximar o Brasil dos padrões de investimento europeus, embora ainda distante dos volumes investidos por Estados Unidos e China. “Quando concebemos o plano, reforçamos que não havia razão para estar atrás nesta corrida tecnológica”, afirmou a ministra.
DEEPSEEK ABALOU EUA
A DeepSeek, empresa de tecnologia baseada em Hangzhou, lançou recentemente um assistente digital gratuito que se destaca pelo uso reduzido de dados e custos significativamente menores em comparação com modelos de empresas estabelecidas. Essa estratégia colocou em discussão a sustentabilidade dos investimentos elevados que empresas ocidentais, como Apple e Microsoft, têm feito na área.
Poucos dias depois de seu lançamento, o chatbot da DeepSeek se tornou o aplicativo mais baixado na App Store, da Apple, despertando preocupações sobre a liderança dos Estados Unidos em IA e provocando uma derrocada no mercado que eliminou cerca de US$ 1 trilhão no valor das ações de tecnologia norte-americanas.
“Embora seja cedo que, seja uma tecnologia que veio para ficar, já abalou o mercado financeiro nos Estados Unidos, principalmente o mercado de valores voltado para a tecnologia, impressionando pela quantidade de downloads”, analisou Luciana.