
“O que não dá é a gente ficar nesse ‘lenga-lenga’, o Ibama ser um órgão do governo parecendo ser um órgão contra o governo”, afirmou o presidente
O presidente Lula criticou, nesta quarta-feira (12), em entrevista à Rádio Diário FM de Macapá, a demora na liberação de licenças ambientais para a Petrobrás realizar estudos sobre a presença de petróleo na Margem Equatorial, região onde está localizado o estado do Amapá.
Questionado pelo repórter se ele ia mandar liberar logo a pesquisa de petróleo pela estatal na região, ele disse que “não é que eu vou mandar explorar. Eu quero que ele seja explorado”.
Referindo-se aos entraves do Ibama para que a Petrobrás inicie os trabalhos de pesquisa, Lula disse que quer que os trabalhos comecem logo. “É isto que nós queremos. Se depois a gente vai explorar é outra discussão. O que não dá é a gente ficar nesse ‘lenga-lenga’, o Ibama ser um órgão do governo parecendo ser um órgão contra o governo”, afirmou o presidente.
“Agora, antes de explorar, nós temos que pesquisar, temos que ver se tem petróleo, temos que ver a quantidade de petróleo, porque muitas vezes você cava um buraco de 2 mil metros de profundidade e não encontra o que imaginava que ia encontrar. Então talvez na semana que vem ou nesta semana ainda vai ter uma reunião com a Casa Civil e com o Ibama e nós precisamos autorizar que a Petrobrás faça pesquisa”, destacou Lula.
“A Petrobras é uma empresa responsável. Tem a maior experiência de exploração de petróleo em águas profundas. Vamos cumprir todos os ritos necessários para que a gente não cause estrago na natureza. Até porque é dessa riqueza que a gente vai ter dinheiro para construir a sonhada transição energética”, ponderou o presidente, em referência aos diversos investimentos feitos no país em torno de energias renováveis.
O presidente Lula falou ao Norte do Brasil um dia antes de sua viagem ao Amapá. Na quinta-feira (13), ele participa, em Macapá (AP), da cerimônia de anúncios do Governo Federal para o estado do Amapá, que inclui doação da Gleba Cumaú (Área J) para regularização fundiária e urbanização, uma ação aguardada pela população há 35 anos. Também está prevista a inauguração do Conjunto Residencial Nelson dos Anjos e a assinatura da Ordem de Serviço de início das obras do Instituto Federal de Tartarugalzinho.
Durante a entrevista, outros assuntos foram tratados, entre eles o da inflação. O presidente reconheceu que os preços dos alimentos estão muito altos e disse que o governo está discutindo com os empresários para encontrar soluções. Mesmo tendo existido um aumento injustificado e especulativo de 24% do preço da carne, por exemplo, em apenas 2 meses, de setembro a novembro de 2024, depois dos preços ficarem estáveis de janeiro a setembro, Lula disse que confia nos empresários e afirmou que a relação do governo com o agro está muito boa. Ele reafirmou que a solução são as discussões com os empresários.
“O agro produz muita coisa para exportação, seja a carne, a soja, o milho, o etanol. Tudo isso é produzido pelos grandes proprietários de terra, que é importante para o Brasil”, disse o presidente. Ele destacou que o governo tem garantido políticas de crédito para o setor, mas reforçou a necessidade de priorizar também os pequenos e médios produtores.
Lula reconheceu que o Brasil se tornou um grande exportador de commodities, e que não está havendo garantias de abastecimento interno. No entanto, não houve anúncio de medidas de curto prazo, entre elas a volta dos estoques reguladores, para reverter essa situação de elevação dos preços. “Todo mundo quer comprar as coisas do Brasil, de ovo de galinha à pena de pavão, pé de galinha, carne, soja, milho, etanol. Então temos que nos preparar para atender o mercado externo sem criar problema para o mercado interno”, disse Lula, garantindo mais apoio aos produtores. “Assim a gente melhora a capacidade produtiva e garante que o alimento chegará no supermercado a preços acessíveis”, afirmou o presidente.
Lula explicou que são as pequenas propriedades rurais, até 100 hectares que abastecem o país. “Nestas propriedades é que se produz 70% ou mais dos alimentos que vêm para a mesa do trabalhador, e nestas propriedades que nós precisamos fazer mais investimentos, mais tecnologia, mais financiamentos, mais assistência técnica”, destacou Lula, sem comentar como enfrentar a dolarização dos preços de produtos produzidos e consumidos dentro do país, como é o caso da laranja, por exemplo. Especialistas apontam que a exposição dos preços às variações internacionais é um problema que interfere intensamente na inflação, além da própria valorização do dólar.
Para o longo prazo, o presidente falou do Plano Safra e do programa Mais Alimentos, que oferecem crédito e financiamento para máquinas e implementos agrícolas, como medidas para aumentar a produtividade no campo. “Se o cara produz 10 litros de leite, vamos fazer com que ele produza 20. Assim a gente melhora a capacidade produtiva dele e garante que o alimento chegará ao supermercado a preços acessíveis para que o povo possa viver bem”, afirmou o titular do Planalto.
Lula demonstrou estar convencido de que pode resolver esses problemas conversando com os empresários, apesar deles estarem exportando em excesso e dolarizando seus preços para os consumidores brasileiros. “Estamos em diálogo com setores empresariais e ministérios para encontrar soluções que barateiem os alimentos e, ao mesmo tempo, permitam o aumento dos salários”, disse Lula.
“Somente com o aumento do salário e uma certa redução do preço é que a gente vai permitir que a comida chegue na mesa do trabalhador a preços compatíveis com o salário que ele ganha”, acrescentou Lula, negando qualquer controle de precos..
Sobre os juros altos, que seguramente agravam a inflação, aumentando os custos financeiros das empresas, Lula voltou a criticar o antigo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto que, segundo ele, não gostava do Brasil. “O Roberto Campos foi um cidadão que teve um comportamento muito ‘anti-Brasil’ no Banco Central. Era um cara que falava mal do Brasil o tempo inteiro, passava descrédito para os empresários, inclusive no exterior”, afirmou Lula.
Ele repetiu que o novo presidente do BC, Gabriel Galípolo, não pode dar um cavalo de pau nos juros, porque o Brasil é um navio muito grande que não pode fazer isso. “Isso você faz com um fusca, não com um navio do tamanho do Brasil”, afirmou. “Temos que dar tempo para o Galípolo resolver os juros. Eu tenho certeza que ele vai consertar os juros no Brasil”, prosseguiu. O problema, no entanto, é que o novo dirigente do BC não só não pretende dar cavalo de pau como anunciou, em ata do BC, que vai aumentar ainda mais os juros.
Em relação ao desemprego, Lula afirmou que ele está baixo, mas reconheceu que o povo não está demonstrando satisfação com sua situação. Primeiro afirmou corretamente que “o povo brasileiro quer paz, sossego, quer trabalhar, receber um bom salário e cuidar da sua família”. Mas, depois teorizou, como vem fazendo a mídia neoliberal, que os jovens no Brasil não se preocupam mais com emprego formal e nem com carteira assinada.
“O jovem hoje não está mais disposto com a vontade que eu tinha há 60 anos de trabalhar em uma fábrica para ganhar um salário mínimo. Ele quer ser empreendedor, fazer alguma coisa que lhe dê mais tranquilidade, que exija mais da inteligência dele”, afirmou. “Nós precisamos colocar o empreendedorismo na nossa cabeça para a gente oferecer às pessoas oportunidade”, prosseguiu Lula.
Aparentemente, Lula deixou de lado a análise de que a desindustrialização do país e a precarização das relações de trabalho impostos ao Brasil pela cartilha neoliberal é que estão empurrando os jovens para se virarem com Pjs, uberizações, entregas de comida e outros “serviços autônomos”. Estão acabando com os empregos de qualidade e reescravizando a mão de obra brasileira. Esse foi o resultado da “Reforma Trabalhista” de Temer e Bolsonaro. É contra isso que, efetivamente, a juventude brasileira luta.
Trabalhar em condições precárias e sem direitos não atrai ninguém. Mas, Lula conclui que os trabalhadores é que não querem mais carteira assinada. “É preciso saber qual é a causa das pessoas não quererem entrar no mercado de trabalho. Possivelmente o salário seja baixo, possivelmente a juventude não tenha mais o sonho que eu tinha, de assinar uma carteira profissional e trabalhar em uma fábrica das 7h às 18h, possivelmente essa juventude queira ser empreendedora, fazer uma prática empresarial, queira trabalhar por conta própria”, insistiu o presidente.