
Mesmo tendo 70% dos eleitores contra, Nicolás Maduro ficará na presidência da Venezuela por mais 6 anos. Com 20.526.978 pessoas aptas a votar, a abstenção, defendida por parte da oposição, ficou na inédita cifra de 54%, frente a 20% nas últimas eleições presidenciais, em 2013. Pela última atualização até o final da nossa edição, a eleição de domingo, dia 20, teve a participação de 9 milhões e 132 mil votantes, sendo que 6 milhões e 190 mil votos foram para o candidato à reeleição.
Para conseguir o voto de cerca de 30% dos eleitores, Maduro se valeu da proximidade que teve com o ex-presidente Hugo Chávez, cuja herança foi dilapidada nos últimos anos, sendo um exemplo notável a situação da principal estatal, a petroleira PDVSA, que de uma empresa que caminhava para a auto-suficiência e base para a industrialização do país virou um ponto de corrupção, cuja produção vem caindo desde a morte de Chávez e a chegada de Maduro ao comando do país. A média de produção anual caiu de 2,654 milhões de barris em 2015 para 1,86 milhão de barris no início deste ano e mais de 40 dirigentes da petroleira em vários estados do país já tiveram que ser afastados por corrupção.
Gonzalo Gómez, porta-voz do partido “Marea Socialista”, em entrevista publicada pelo HP um mês atrás, fornece mais um motivo da rejeição ao governo venezuelano: “A situação econômica é terrível porque o que vem aplicando o governo de Nicolás Maduro é um profundo e cru plano de ajuste. Medidas de ajuste econômico contra a classe trabalhadora. Dizem que estão contra o neoliberalismo e todas essas coisas. Mas se tens uma situação na qual levam o salário de um trabalhador a um nível de entre 3 a 4 euros mensais, qualquer um pode imaginar o significado. O salário foi esmagado”.
“O governo diz: é a guerra econômica. Começou um bloqueio selvagem. Existem algumas dessas coisas; mas, mais que a guerra econômica o que impera é a lógica do capital, a busca do lucro. E nisso também intervém a burocracia que desfalcou o país, levou recursos para fora do país, tem dinheiro em paraísos fiscais, porque fez transações com as transnacionais e retirou proveito disso, porque está abrindo o caminho à entrada das transnacionais e dos imperialistas emergentes no país, por exemplo no Arco Mineiro”, afirmou.
A jornada eleitoral foi das 6 horas da manhã até às 21 horas, em alguns lugares até mais tarde, quando pela legislação eleitoral os pontos de votação deviam fechar às 18. O tempo extra foi usado, pelas denúncias de muitos eleitores, para diminuir a abstenção e não, como as autoridades falaram, para ‘atender as longas filas de eleitores que se formavam nas seções’. Teve ainda os ‘pontos vermelhos’ nas proximidades dos locais de votação que, para críticos de governo, como o candidato oposicionista Henry Falcón, foram usados para pagamento de bônus oferecidos se escaneassem o chamado Carnê da Pátria, documento relacionado com os programas sociais do Estado, para efetuar o controle social do voto e o chamado ‘voto assistido’, como coação e violação do secreto do voto. Falcón, candidato de centro, segundo colocado na eleição, denunciando a presença desses pontos até dentro das sessões eleitorais e “delitos eleitorais” e de “peculato de uso” desconheceu o processo eleitoral, propondo a convocação de nova eleição.