
A mensagem da escola foi de um Cristo irmanado com os mais pobres e a denúncia do uso da fé pelos poderosos para oprimir e explorar
Com um dos enredos mais bonitos dos últimos tempos, a Mangueira emocionou a avenida com sua interpretação da vida de Jesus Cristo.

Com a liberdade que um desfile de escola de samba permite, a escola transpôs o Cristo para os dias atuais e, como diz a letra do samba-enredo de Manu da Cuíca e Luiz Carlos Máximo, trouxe para a Sapucaí o “Cristo da gente”. Pobre, negro, índio, “com corpo de mulher”, morador das comunidades carentes, oprimido e sem direito a quase nada.

Os episódios da vida de Cristo como estão escritos na Bíblia foram respeitados, a manjedoura, o calvário, a morte na cruz, mas Cristo é mostrado antes de tudo como o Jesus insurgente. Sofrido como a maioria do povo brasileiro, mas combativo, contra o comércio e o uso da fé pelos poderosos para oprimir e explorar, contra a intolerância e a favor da liberdade, temas tão atuais no Brasil governado por um “messias de arma na mão”, como também sugere a letra do samba, que já está marcado como um dos mais bonitos da história dos carnavais.

A mensagem do Cristo irmanado com os mais pobres e um igual aparece logo na Comissão de Frente, com Cristo e os apóstolos na favela sendo vítimas da violência policial.
A intolerância religiosa, também tão presente nos nossos dias atuais, principalmente em relação às religiões afro, foi lindamente marcada na passagem das baianas e na ala que uniu lideranças religiosas de vários matizes, em um chamamento para o que há de mais positivo na religiosidade, independente da crença que cada um defende.
A manipulação da fé pelos oportunistas de ontem e de hoje foi repudiada por Jesus no templo.

Com o Jesus de “peito aberto, punho cerrado” de “pai carpinteiro desempregado” e “mãe Maria das Dores Brasil”- uma referência às mães que perdem seus filhos para a violência, em um carro representado pela cantora Alcione e pela cantora, compositora e vereadora em São Paulo, Leci Brandão -, a Mangueira mais uma vez mostrou no Sambódromo uma ode ao povo trabalhador, à defesa dos oprimidos, contra o ódio, o racismo e o preconceito.


Grande Rio
A Grande Rio veio com o enredo sobre o pai de santo Joãozinho da Gomeia. O desfile teve problemas com dois carros.
Um dos destaques da tricolor de Caxias foi a volta de Paolla Oliveira como rainha de bateria, fantasiada de Cleópatra.

Viradouro
A Viradouro fez um desfile que exaltou as mulheres negras de Salvador. O enredo “Viradouro de alma lavada” falou sobre as Ganhadeiras de Itaupã, quinta geração de lavadoras de roupa na Lagoa do Abaeté.
Na comissão de frente, a atleta da seleção brasileira de nado sincronizado Anna Giulia, vestida de sereia, dava mergulhos de até um minuto em um aquário com 7 mil litros de água mineral.

União da Ilha
A União da Ilha do Governador mostrou a vida dura das comunidades do Rio. Não faltaram sinais das dificuldades: armas, ônibus lotados, pessoas vivendo nas ruas, desempregados, famintos…

Tuiuti
O Paraíso do Tuiuti contou a história de “dois Sebastiões” em seu desfile: o rei português que desapareceu no século 16, Dom Sebastião, e o santo padroeiro do Rio, São Sebastião. A comissão de frente imaginou um encontro do santo que viveu no século 3 e o monarca.

Estácio
O primeiro desfile da noite teve como enredo “A pedra”. A escola mostrou carros sobre corpos celestes, pedras preciosas e minerais. A Campeã da Série A em 2019 também fez críticas ao processo de extração dessas riquezas.

Portela
A Portela, a escola mais vitoriosa do carnaval do Rio buscou sua 23ª vitória com um enredo sobre os tupinambás e o “paraíso” que encontraram no Rio de Janeiro antes da colonização.
O desfile apresentou o contraste entre a terra sem maldades dos índios em sua mítica Guajupiá e a selva urbana que a cidade se transformou.

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