Japoneses protestam contra despejo de efluente não biodegradável atirada pelos integrantes da base de Okinawa no sistema de esgoto do Japão uma vez que as autoridades do país só foram avisadas com uma hora de antecedência
O despejo no esgoto da cidade de Ginowan, em Okinawa, de 64 mil litros de água contaminada com uma substância tóxica e perigosa, o ácido perfluorooctanossulfônico (PFOS), realizada unilateralmente pelo comando da base de marines de Futenma em agosto, sem conhecimento das autoridades locais, está causando um escândalo no Japão.
Funcionários do Ministério da Defesa e do Ministério do Meio Ambiente visitaram Okinawa esta semana para discutir a questão com o governo da região e com a prefeitura de Ginowan.
O governo japonês apresentou um pedido de desculpas formal ao prefeito da cidade afetada. O despejo, sem o conhecimento e sem o consentimento das autoridades locais, ocorreu em 26 de agosto. Em Okinawa, estão instalados milhares de soldados norte-americanos desde o final da II Guerra, e há um movimento pela retirada das bases que já dura duas décadas.
O próprio governo de Tóquio foi comunicado pelo comando da base norte-americana do despejo do lixo tóxico no esgoto da cidade vizinha apenas uma hora antes do crime ambiental ser cometido.
No início de julho, o comando norte-americano havia contatado Tóquio sobre seu plano de remoção do ácido via esgoto. A alegação norte-americana era de que a água seria tratada para garantir que o conteúdo de PFOS estivesse bem abaixo do que os padrões japoneses para água potável e ambiental exigem.
Assim, a base norte-americana simplesmente passava ao largo do problema representado pelo PFOS, por ser um dos chamados poluentes orgânicos persistentes, que são notoriamente resistentes à degradação natural e podem se acumular nos organismos vivos por muito tempo, causando problemas de saúde.
De acordo com a Convenção de Estocolmo sobre Poluentes Orgânicos Persistentes, um tratado da ONU que visa combater seu uso, o PFOS é considerado um produto químico restrito.
Sua produção está proibida no Japão desde 2010, e atualmente só é permitido seu uso apenas em alguns processos de fabricação e para fins de combate a incêndios.
O método usual no Japão para eliminar esse tipo de ácido tóxico é a incineração.
As autoridades de Okinawa queriam realizar um estudo de impacto ambiental sobre o plano de despejo dos EUA, mas os marines não esperaram pela permissão, argumentando que não podiam aguardar mais porque os tanques de água, nos quais os resíduos eram armazenados, estavam quase cheios e apresentavam um risco de derramamento se chovesse muito.
O despejo de poluentes não é a primeira das contradições entre os marines e o povo do Japão. Por outras razões, incluindo comportamento hostil de soldados norte-americanos estacionados na base de Okinawa, poluição sonora causada pelo pouso de aterrissagem de aviões de grande porte da Força Aérea dos EUA, já houve manifestações dos japoneses exigindo o fechamento da base na região.
Por outro lado, o escândalo dos 64 mil litros de água contaminada com ácido de Okinawa foi recebido com certo sarcasmo na China, como evidenciado por uma charge da CGTN, que faz um paralelo com o descaso que levou à decisão do governo japonês, de abril, de descartar no Oceano Pacífico mais de 1 milhão de toneladas de água contaminada no desastre do reator nuclear de Fukushima de 2011.
Segundo Tóquio, o descarte do mais de 1 milhão de toneladas de água contaminada radioativamente seria “perfeitamente seguro”, apesar da oposição dos países da região. Inclusive a China, que sugeriu que Tóquio enviasse a água para Washington, que manifestara aprovação à medida.