
“Não se assustem se vocês me virem num vagão de metrô lotado de São Paulo, na barca Rio-Niterói num horário de pico, ou num ônibus lotado de Belo Horizonte”, prometeu Bolsonaro, mandando às favas as orientações do MS
O presidente Jair Bolsonaro usou a entrevista coletiva, dada junto com seus ministros – todos de máscaras – na tarde de quarta-feira (18), para justificar sua participação na aglomeração de apoiadores que se formou em frente ao Palácio do Planalto no último domingo, dia 15, para pedir o fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF).
Ele disse que não fez nada demais e que estará sempre “ao lado do povo”. “Esse mesmo povo que fez uma manifestação legítima ´para me apoiar”, destacou, insistindo que não convocou a fracassada marcha golpista. “Não fui até o povo, mas o povo é que veio até mim”, argumentou, usando um tom extremamente agressivo com a imprensa.
A maneira como Bolsonaro agiu na entrevista representa um desserviço ao país e atrapalha de muitas formas a campanha desenvolvida pelo Ministério da Saúde para que a população evite aglomerações e impeça a aceleração da transmissão do coronavírus. Ele repetiu que vai continuar fazendo o que fez.
“Não se assustem se vocês me virem num vagão de metrô lotado de São Paulo, na barca Rio-Niterói num horário de pico, ou num ônibus lotado de Belo Horizonte” prometeu. Ou seja, ele não só sustenta que foi certo tirar self com seus seguidores na frente do Palácio, como apontou que vai continuar fazendo a mesma coisa.
Que se danem as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Ministério da Saúde.
Bolsonaro vinha se ombreando com alguns outros idiotas pelo mundo afora, entre eles Donald Trump, que desdenhavam a Pandemia do coronavírus. Diziam que ela era fabricada. Que era coisa do chineses, etc. No entanto, a situação se deteriorou rapidamente. Milhares de mortos se espalharam pela a Europa e outros países. A crise se agravou.
Foi tudo tão rápido que vários chefes de Estado que sustentavam essa posição, abandonaram-na rapidamente. Bolsonaro ficou sozinho na idiotice. Continuou dizendo que tudo não passava de “uma fantasia” e que a mídia, alguns governadores e seu próprio Ministério da Saúde estavam criando “um clima de histeria” no país.
O repúdio a esse comportamento irresponsável e insano foi geral e se alastrou mais rápido até do que o próprio vírus. Até seguidores do “mito” passaram a criticá-lo nas redes sociais. Quando não dava mais para manter a estupidez, ele resolveu falar. Só que ele não sabe se faz autocrítica ou se continua mentindo e falando que estava certo.
Por isso esse seu comportamento em pêndulo na entrevista. Ao mesmo tempo que todos aparecem mascarados, sem que fosse tecnicamente necessário, Bolsonaro diz que vai continuar fazendo o que bem entende e justificando sua irresponsável participação do ato golpista de domingo.
Um outro sinal de que o presidente não anda bem da cabeça – até aí nenhuma novidade – foi o fato dele ter calculado em um milhão os menos de 15 mil manifestantes que foram às ruas pedir o fechamento do Congresso no domingo. Nessa hora houve até quem achasse que Bolsonaro estava com febre. Logo alguém propôs que ele repita o exame do vírus.
Desconcertado com a pergunta sobre o panelaço que levou na terça-feira e o outro que vai levar na quarta, Bolsonaro usou um espaço que deveria ser de orientação da população diante da grave crise do coronavírus, para tentar chamar seus apoiadores para um panelaço a seu favor.
Em suma, Bolsonaro não fez nada até agora a não ser atrapalhar. Atacou o Congresso, o Supremo, os governadores. Ficou enciumado com a atuação do Ministério da Saúde
e tentou enquadrar o ministro na “linha geral do governo”, ou seja, queria que o MS parasse de estimular a “fantasia e a histeria geral”. Parasse de dar munição para a mídia interessada
apenas em desgastar seu governo.
O governo federal não fez nada de importante para combater a crise. Apenas usou-a para atacar desafetos. Seu ministro da Fazenda, Paulo Guedes, por outro lado, queria se aproveitar da crise para acelerar as privatizações, para aumentar os cortes a estados e municípios e para entregar o Banco Central para o cartel do bancos.
Também surtado, Guedes inventou que o Brasil era o único país do mundo que estava crescendo antes de ser atingido pelo coronavírus. Éexatamente o contrário, o país vinha estagnado e dando sinais de recessão desde o ano passado.
Guedes tentou até chantagear o Congresso com uma carta pedindo pressa nas “reformas”. Se deu mal. Pressionado, teve que voltar atrás. Teve até que rever o contingenciamento que estava programado e flexibilizar o arrocho fiscal.
O mundo inteiro está diante da catástrofe econômica desencadeada pela pandemia do coronavírus, mas Bolsonaro e Guedes, aferrados em servir aos bancos, fingiram que a crise não existia. Demoraram o que puderam para perceber a lambança que estavam fazendo.
Por isso Bolsonaro não sabia o que dizer na entrevista e ficou agredindo jornalistas, repetindo que não pode ter pânico, etc. Tentou até jogar confete em seu desgoverno. Uma atitude a essa altura altamente patológica. Até o véio da Havan já percebeu que a vaca foi para o brejo. Demonstrando uma desvinculação quase psicótica com a realidade, ele disse que o que está faltando são elogios ao seu governo, que ele é o máximo e que seu time está ganhando.
“Nosso time está ganhando de goleada. Duvido que quem vier me suceder um dia – acho muito difícil – consiga montar um equipe como eu montei. E tive a coragem de não aceitar pressões de quem quer que seja. Então, se o time está ganhando, vamos fazer justiça, vamos elogiar seu técnico, e o seu técnico chama-se Jair Bolsonaro”, declarou.
Ele estava reclamando que a Rede Globo, a jornalista Vera Magalhães e outros estavam atacando o seu governo e não estavam vendo a maravilha que é a sua administração. Ou seja, até agora se pensava que o coronavírus agia exclusivamente nas vias aéreas. Depois da entrevista de Bolsonaro, já há sérias dúvidas se ele não atinge também o sistema nervoso central.
SÉRGIO CRUZ
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