O ex-diretor-geral da Polícia Federal, Leandro Daiello Coimbra, afirmou que o material apreendido durante os seis anos e 10 meses em que chefiou a instituição seriam suficientes para mais “quatro ou cinco anos” de grandes operações.
“Esse negócio não vai parar. O que tinha de papel e dados digitais na polícia quando eu saí era suficiente para quatro ou cinco anos de operações. Não tem outro jeito. Você vai na empresa e acha uma sala inteirinha com papéis, aí começa a cruzar e vem a operação”, disse em entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo”.
Daiello, que se aposentou em novembro passado, disse que o foco das investigações da PF sempre focou no dinheiro. “Quem usou a lavanderia vai aparecer. Porque o doleiro não é mais o tradicional que vendia dólar no paralelo, a cotação até saía no jornal. O doleiro hoje é uma lavanderia. Você paga para receber o dinheiro limpo. Se você mexer no sistema bancário ou financeiro, começa a disparar alarmes”, comentou.
Sobre os setores que acusam a polícia de cometer arbitrariedades na Operação Lava Jato, o delegado aposentado destacou que a instituição age com isenção, mesmo que tenha “suas tendências e preferências pessoais”.
“O que torna a polícia isenta é o fato de ser legalista. Não há outro caminho. Não tem que interpretar lei. Se o Congresso mudar a lei e disser, por exemplo, que a maconha não é mais crime, ela deve sair do radar da polícia. Tudo tem manual, tudo tem regras. Segui-las obriga os integrantes de qualquer instituição a agir com isenção”, afirmou.
O ex-diretor da PF avaliou ainda que o Brasil “não fez o dever para atacar as causas (da corrupção), que seria a reforma política”. “Se não tiver a reforma política, a máquina vai continuar gerando (corrupção). Da maneira que a política é jogada hoje, não sobrevive, não. A fábrica de corrupção está aberta. A doação eleitoral não é ideológica, é estratégica”, completou.