Para PF, não muda nada. Muitas outras provas da trama golpista foram obtidas pelos investigadores, além da colaboração de Mauro Cid. Manobra de última hora não livra Bolsonaro – que além de tudo teria recebido “Pix milionário” – e ainda piorou situação de seu faz-tudo
O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), saiu do depoimento desta sexta-feira (22) a um juiz substituto do Supremo Tribunal Federal (STF) e teve e prisão decretada por tentativa de obstrução da Justiça. Ele tinha assinado um acordo de colaboração premiada com a PF, tendo feito sete depoimentos e deixou vazar esta semana áudios afirmando que foi coagido. Os áudios teriam sido gravados após o último depoimento de Cid à PF, em 11 de março.
O resultado imediato das falas de Mauro Cid, vazadas pela revista Veja, foi a sua prisão. A médio prazo, o acordo de colaboração poderá ser desfeito. O STF havia homologado o acordo de delação do ex-ajudante de ordens em 9 de setembro de 2023. Os investigadores avaliam que os áudios vazados fazem parte de uma estratégia de Mauro Cid para tentar tumultuar as investigações contra si e o ex-presidente golpista.
O resultado da “manobra do vazamento”, ao invés de confundir as investigações, como parece ter sido a intenção de Cid, teve efeito contrário, segundo a opinião de integrantes da PF. Os áudios apenas prejudicam ainda mais a ele próprio, já que que as informações apresentadas em seus depoimentos já foram corroboradas por outras provas independentes, como diálogos dos telefones celulares e outros depoimentos, inclusive dos ex-comandantes do Exército e Aeronáutica. Por isso, avalia a PF, o seu acordo não é indispensável para as investigações.
Além do depoimento de Mauro Cid, o ex-comandante do Exército general Freire Gomes e o ex-comandante da Aeronáutica, Carlos de Almeida Baptista Jr. confirmaram a trama golpista e deram detalhes da participação de Bolsonaro em todas as fases preparatórias doe golpe. Eles confirmaram, ainda, que Bolsonaro lhes mostrou a minuta do decreto propondo o fechamento do TSE e mandando prender Alexandre de Moraes. Houve reuniões no Palácio do Alvorada, residência oficial da Presidência da República, onde se discutiu abertamente a virada de mesa, ou seja, a intervenção no TSE e anulação das eleições.
A defesa do ex-ajudante de ordem tentou negar que a intenção dele tenha sido questionar a lisura das investigações. Em nota, mais cedo, a defesa havia dito que o tenente-coronel, em nenhum momento, “coloca em xeque a independência, funcionalidade e honestidade” da PF, da PGR (Procuradoria-Geral da República) ou do STF “na condução dos inquéritos em que é investigado e colaborador”. A nota não convenceu ninguém e esse também foi o entendimento de Moraes.
Em nota, o STF afirmou que “após o término da audiência de confirmação dos termos da colaboração premida, foi cumprido mandado de prisão preventiva expedido pelo ministro Alexandre de Moraes contra Mauro Cid por descumprimento das medidas cautelares e por obstrução à Justiça. Mauro Cid foi encaminhado ao IML pela PF.”
A ordem de prisão de Mauro Cid foi determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF. O Supremo informou que o ex-ajudante de Bolsonaro foi preso por descumprimento de medidas judiciais e por obstrução de Justiça. A tentativa de obstrução se deu com os áudios. Nas gravações, reveladas pela revista Veja nesta quinta-feira (21), Mauro Cid estaria conversando com um amigo e afirmando estar sendo pressionado a fazer certas alegações durante seu depoimento.
“Eles já estão com a narrativa pronta. Eles não queriam saber a verdade, eles queriam que eu confirmasse a narrativa deles. Entendeu?”, afirma o ex-ajudante de ordens. Em outro momento, Cid diz que Moraes “é a lei”. “Ele prende, ele solta, quando ele quiser, como ele quiser. Com Ministério Público, sem Ministério Público, com acusação, sem acusação”, afirmou. No áudio, Cid diz que só ele se prejudicou. “Enquanto eu me f***, teve Pix de milhões, ficou milionário, né?”, disse ele, referindo-se a Jair Bolsonaro.
O diretor-geral da Polícia Federal (PF), Andrei Passos Rodrigues, anunciou que ingressará com uma representação contra o tenente-coronel Mauro Cid junto ao Supremo Tribunal Federal (STF) em decorrência dos áudios em que o militar sugere ter sido coagido a dizer o que consta em sua delação premiada. “Vimos com gravidade o que as falas acusam. Representamos ao STF para que ele esclareça, já que somos levianamente acusados. Ninguém acusará a PF e o STF dessa forma e ficará incólume”, disse Andrei Passos.