
A Agência Internacional de Migração (OIM) da ONU alertou que 1500 imigrantes já morreram este ano no Mar Mediterrâneo, que recentemente foi chamado de “maior cemitério da Europa” pelo capitão de um barco humanitário.
A ONU denunciou, ainda, que, na rota mais letal usada pelos refugiados, a da Líbia até a Itália, 1 em cada 19 morre na travessia. É o quinto ano consecutivo em que o número de mortos no Mediterrâneo chega a 1.500. Só num fim de semana em junho, foram mais de 200 mortes.
Em consequência da política xenófoba do novo governo italiano, que proibiu que barcos humanitários com imigrantes a bordo atraquem em portos italianos, e do acirramento da política do governo anterior, de pagar à guarda costeira líbia para levar os imigrantes de volta para os campos de concentração – alguns, inclusive, de escravos –, o número de refugiados rumo à Itália despencou.
“É importante notar que, apesar dos números incrivelmente baixos de imigrantes chegando à Itália, as mortes per capita ou o índice de mortalidade para cada mil pessoas pode ter atingido seu pico desde que a emergência começou”, afirmou o porta-voz da OIM, Joel Millman, em um comunicado à imprensa em Genebra.
Referindo-se ao saldo de 1.500 mortes, ele disse: “Só uma vez nos últimos quatro anos esta marca foi atingida depois desta data em julho, e isso foi em 2014, quando a emergência só estava começando.”
O que, sem dúvida, se deve ao governo 5 Estrelas-Liga, que vem criminalizando o socorro aos refugiados em alto mar, e chamando as operações de salvamento de naufrágio de “táxi para a Europa”.
No total, 55 mil imigrantes já chegaram às praias europeias em 2018 – nada perto das centenas de milhares empurradas pelas bombas e terroristas pagos por Washington e Riad, com a conivência de Paris. Agora, são principalmente os refugiados da imensa miséria imposta pelo neoliberalismo e neocolonialismo à África. O número é praticamente a metade do total do ano passado, de 111.753.
A Espanha, que superou a Itália como destino preferencial, registrou quase 21 mil imigrantes até agora neste ano, quase mais do que em todo o ano passado. O que em boa parte se refere à orientação do novo governo, que substituiu Rajoy. Madri está cobrando dos demais países “uma solução europeia” para a recepção dos náufragos. Para a Itália foram 18.130 imigrantes chegados pelo mar desde a Líbia neste ano. O restante foi para Grécia, Malta e Chipre.
Nos últimos dois meses, barcos humanitários ficaram dias à deriva em alto mar no Mediterrâneo, aguardando que algum governo europeu se dignasse a cumprir com a lei internacional e dar proteção aos náufragos. O que não vexou a Itália, a França ou a Malta. O capitão de um navio humanitário alemão foi indiciado em Malta e teve de pagar fiança. Milhares de pessoas foram às ruas na Alemanha em seu apoio. Um barco só pôde aportar na Tunísia quando quase já tinha acabado a provisão de alimentos e os náufragos, há duas semanas aguardando solução, à beira da fome.
Enquanto a profecia de Muammar Kadhafi – a de que a destruição da Líbia iria empurrar multidões de refugiados à Europa – é confirmada, no velho continente espraia-se o chauvinismo e a xenofobia contra os egressos do “quintal africano” ou dos países muçulmanos. A União Européia vem discutindo como deportar em massa e mais rapidamente – ainda mais do que já vem acontecendo. Também quer montar campos de concentração para imigrantes fora de suas fronteiras, de preferência na África.
Como disse o Papa Francisco, se o desenvolvimento não chegar às populações africanas, não haverá como parar esse êxodo dos países mais pobres do planeta até alguns dos mais ricos. A independência, advertiu, foi do subsolo para cima, do subsolo para baixo, as riquezas, não.
A mais recente polêmica sobre a imigração atingiu o Asso 28, um barco italiano a serviço de uma petroleira, que socorreu na madrugada de terça-feira (31) a 108 imigrantes no Mediterrâneo e os devolveu – isto é, deportou – a Trípoli, capital da Líbia, violentando a lei internacional e as próprias normas da União Europeia, que ditam que nenhum barco europeu pode desembarcar pessoas na Líbia, deliberação tomada após o escândalo dos campos de escravos e das torturas de refugiados no país devastado pela Otan.
ANTONIO PIMENTA