
O país inteiro e o mundo jurídico brasileiro estão diante de uma denúncia gravíssima contra o presidente da República. O ex-ministro Sérgio Moro apresentou prova cabal da pressão de Bolsonaro sobre a Polícia Federal. O senador por São Paulo, Major Olímpio (PSL), chegou a afirmar no sábado (25) que a denúncia de tentativa de impedir as investigações da PF, apresentada por Sérgio Moro, é mais grave que a denúncia contra a ex-presidente Dilma Rousseff.

Juristas apontam para a necessidade de esclarecimento imediato das denúncias feitas pelo ex-ministro Sérgio Moro no processo que culminou com sua saída do Ministério da Justiça. Todos eles avaliam como graves as irregularidades que teriam sido cometidas pelo presidente.
Para Carlos Ayres Britto, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), “o fato de Moro ter feito as acusações ainda como ministro dá mais peso às revelações”. O ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Eros Grau, disse que o relato de Moro é grave. “Se forem verdadeiros, os fatos relatados pelo juiz Sérgio Moro ensejarão o fortalecimento de medidas judiciais já em curso no Supremo.”
A prova que Moro apresentou é irrefutável. Bolsonaro envia no dia 23 de abril ao ministro, através de WhatsApp, uma matéria publicada no site “O Antagonista” que diz: “PF na cola de 10 a 12 deputados bolsonaristas”. Abaixo da postagem da matéria, Bolsonaro afirma: “mais um motivo para a troca”.
Sérgio Moro responde: “Esse inquérito é conduzido pelo ministro Alexandre, no STF”, se referindo ao ministro Alexandre de Moraes. “Diligências por ele determinadas, quebras por ele determinadas, buscas por ele determinadas”, acrescentou Moro. Naquele momento, Bolsonaro estava publicamente defendendo a troca do comando da Polícia Federal e a troca de mensagem deixa claro qual e a sua motivação.
Outros aspectos poderão ser apurados e investigados, mas esta troca de mensagem não deixa nenhuma dúvida de que Jair Bolsonaro tem como objetivo central intervir na Polícia Federal e paralisar as investigações em curso e que podem atingir membros de sua família, particularmente seus filhos.
Não foi por acaso que o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF) determinou que os delegados responsáveis pelas investigações nos inquéritos por ele conduzidos, que investigam os ataques do chamado “gabinete do ódio” aos membros do Supremo, e os atos contra a democracia, não sejam retirados dos casos.
As decisões de Jair Bolsonaro, que se seguiram logo após a demissão de Sérgio Moro, reforçam a necessidade de acelerar a apuração destas denúncias.
Ele nomeou para diretor-geral da Polícia Federal, o atual chefe da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem, que era segurança do então candidato Jair Bolsonaro e é intimamente ligado ao filho Carlos Bolsonaro, chamado de “zero dois”, e que é o coordenador do “gabinete do ódio”, estrutura semi-clandestina que está sendo investigada pela PF.
O ministro do STF, Celso de Mello, já foi sorteado como relator deste inquérito e o procurador-geral da República, Augusto Aras, sugeriu que a primeira diligência feita neste inquérito seja uma oitiva com o ex-ministro Sérgio Moro.