Os depoimentos do doleiro Lúcio Funaro à Procuradoria-Geral da República (PGR) revelam que Michel Temer agia em conjunto com Eduardo Cunha e tinha poder de mando no grupo do PMDB. “Parte do dinheiro que era repassado, capitaneado em todos esses esquemas que ele [Eduardo Cunha] tinha, dava um percentual também para o Michel Temer”, disse Funaro. Segundo o depoente, Michel Temer não concentrava as negociações em uma única pessoa. Um dos homens de confiança de Temer era José Yunes. Funaro disse que a proximidade entre o seu escritório e os de Temer e José Yunes em São Paulo facilitava tudo. “O cara saía com a mala, ia andando meia quadra e já estava no escritório dele, não tinha problema nenhum”, disse o doleiro.
Além de Yunes, Temer teria outros operadores que intermediariam pagamentos, disse o doleiro. O ex-deputado Eduardo Cunha e Wagner Rossi, que foi ministro da Agricultura nos governos Lula e Dilma, são outros operadores de Temer, mas, Funaro também citou João Baptista Lima Filho, coronel aposentado da PM de São Paulo, e o ex-deputado paranaense Rodrigo Rocha Loures. Segundo Claudio Melo Filho, ex-executivo da Odebrecht, parte do dinheiro que foi pedido por Temer a Marcelo Odebrecht para a campanha do PMDB em 2014 foi entregue diretamente para José Yunes, então assessor especial da Presidência, que deixou o cargo no governo logo após a divulgação dos depoimentos de Melo.
Funaro contou também que, em 2012, a então presidente Dilma Rousseff publicou a Medida Provisória 595/2012, conhecida como “MP dos Portos”, com om objetivo de privatizar os portos. Lúcio Funaro disse à PGR que o texto original da medida provisória prejudicaria o grupo Libra, empresa doadora de propinas a Michel Temer. A empresa tinha débitos fiscais que a impediriam de renovar suas concessões no Porto de Santos (SP). Eduardo Cunha inseriu na MP uma cláusula permitindo essa renovação, sob certas condições – esse trecho acabou ficando na lei sancionada por Dilma.
O depoente descreveu Cunha como um “banco de corrupção de políticos”: “todo mundo que precisava de recursos pedia para ele, e ele cedia. Em troca, mandava no mandato do cara”, disse o doleiro à PGR – ele ainda acrescentou que Cunha nem precisava procurar deputados interessados em entrar no esquema: “Fazia fila de gente atrás dele”. “Na divisão de propinas da Caixa Econômica Federal, a maior parte do bolo ficava com o então vice-presidente de Pessoa Jurídica do banco, Geddel Vieira Lima”, informou.
O doleiro confirmou que o dono da J&F ficou responsável por comprar o seu silêncio na cadeia. Funaro revelou que assinou um contrato fictício de R$ 100 milhões com Joesley para esquentar notas frias que ele já havia emitido para uma empresa do grupo, a Eldorado. Como o contrato tinha de parecer mais antigo, caso fosse submetido a uma perícia da Polícia Federal, ele e Joesley assinaram e rasgaram os originais, ficando só com cópias – porque “com o xerox a PF não tinha como” atestar a data da assinatura. Eduardo Cunha também pediu dinheiro para comprar votos para garantir o impeachment de Dilma, informou Funaro.
SÉRGIO CRUZ