
Gustavo Bebiano disse, em entrevista ao Roda Viva, que Carlos Bolsonaro queria criar uma ABIN paralela e a deputada Joyce Hasselman confirmou, na CPI das fake news, a existência do “Escritório do Ódio” no Planalto
Estão circulando pela internet dois áudios com um chamamento para um golpe de estado contra as instituições democráticas. A “intervenção militar” seria desencadeada a partir das manifestações do próximo dia 15 de março.
A peça é uma falsificação grosseira que tenta envolver as Forças Armadas numa aventura destemperada e surgiu depois que Jair Bolsonaro passou a convocar o ato contra o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal federal (STF).
A voz, que se faz passar pelo general Walter Braga Neto, atual ministro chefe da Casa Civil do governo, é falsa. Não é ele quem está falando. A pessoa que é apresentada como sendo o general Braga Neto, e que chama para o golpe de estado, não tem a mesma voz do general Braga Neto. É uma falsificação grotesca.
Além disso, o general é apresentado por uma outra pessoa, que fala num outro áudio, como sendo “Secretário Nacional de Segurança, nomeado por Sérgio Moro”. Braga Neto nunca foi Secretário de Segurança. Ele foi Comandante Militar do Leste e interventor na Segurança Pública do Rio de Janeiro.
Em suma, a milícia bolsonarista está tentando ludibriar parte da população, tentando passar a ideia de que possui um núcleo de generais dispostos a provocar uma ruptura democrática no Brasil.
Os falsários revelam com esta atitude que não têm os apoios que eles mesmos alardeiam. Essa fraude é a repetição do que eles já tinham feito antes, e que foi denunciado pelo general Santos Cruz, ex-ministro do governo, com a divulgação de um cartaz com militares convocando a manifestação contra o Congresso Nacional e o STF no próximo dia 15 de março.
No cartaz, foram utilizadas as imagens de generais fardados como se eles estivessem convocando a população contra as instituições democráticas. O general Santos Cruz chamou aquilo de um “montagem irresponsável” e o general Roberto Peternelli, que é deputado federal pelo PSL-SP, e que teve e imagem utilizada, exigiu que tirassem a sua foto do cartaz.
Tanto o cartaz como a montagem sonora de agora revelam que há setores bolsonaristas fabricando notícias falsas para tentar envolver os militares em seus delírios golpistas.
A origem de falsificações grotescas desse tipo certamente está em alguma central de fake news montada pelo bolsonarismo.
A deputada federal Joyce Hasselman (PSL), em depoimento à CPI das fake news, que está em curso na Câmara Federal, informou que uma estrutura com capacidade de fabricação em série de notícias falsas como esta foi criado dentro do Palácio do Planalto. Essa central foi chamada por ela de “Escritório do Ódio”.
Em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, na segunda-feira 02), ex-ministro Gustavo Bebiano também confirmou a existência do “escritório do ódio” e acrescentou que tanto ele quanto o general Santos Cruz foram informados, na época em que estavam no governo, de que Carlos Bolsonaro, filho do presidente, estava montando uma espécie de “Abin paralela”. “Ele chegou certa feita com um delegado e outras duas pessoas e disse que seria montada a Abin paralela”, contou Bebiano.
A iniciativa, segundo o ex-ministro, era porque ele [Carlos] não confiava no esquema oficial de segurança. Segundo Gustavo Bebiano, Jair Bolsonaro não enfrentou adequadamente o problema. Não coibiu o filho. Perguntado se o esquema foi montado efetivamente, Bebiano disse que tanto ele quanto Santos Cruz foram contra a intenção de Carlos. Ele disse que um dos motivos da queda de Santos Cruz foi por isso. Bebiano disse ainda que não sabe se esse escritório de espionagem foi montado ou não.