Fita mostra acerto de valores com a JBS
Marcos Pereira, que presidia o PRB, vendia facilidades na Caixa
A conversa gravada em que um ministro de Temer, Marcos Pereira, acerta uma propina – R$ 6 milhões, ao todo – com Joesley Batista, em troca de facilitar um empréstimo de R$ 2,7 bilhões na CEF para a JBS, não provocou comoção no governo. Trata-se de um governo de bandidos. O ministro tirou férias, porque está muito cansado desse pessoal que não o deixa roubar impunemente. Marcus Pereira também é investigado por receber R$ 7 milhões para que o PRB apoiasse Dilma, dinheiro que veio das propinas da Odebrecht ao PT.
A gravação, agora pública, da conversa do ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Marcos Pereira, com Joesley Batista, da JBS, mostra que Temer não é apenas o chefe de uma organização criminosa formada por Padilhas, Geddeis e Moreiras.
Além disso, seu Ministério é uma quadrilha – ou uma junção de quadrilhas.
A pré-condição para entrar nesse Ministério é ser bandido. Temer cerca-se de bandidos e só consegue nomear bandidos, porque ele mesmo é um bandido. Se faltasse prova disso (não falta, mas elas continuam surgindo), bastaria a total complacência, cumplicidade, aprovação tácita, a um ministro que aparece roubando, de viva voz, o dinheiro e as instituições públicas. Que providência Temer tomou, desde que a gravação foi publicada?
SALDO
Eis alguns trechos do edificante diálogo do ministro com Joesley Batista, da JBS:
JOESLEY: Deixa eu te falar, cê aqui, você lembra? Eu não lembro mais a conta… Como que era?
MARCOS PEREIRA: Meia, cinco, zero.
JOESLEY: Como que era? Não…
MARCOS PEREIRA: Não da última vez..
JOESLEY: Quanto era o saldo? Não lembro mais…
MARCOS PEREIRA: Ah, pera um minutinho…
JOESLEY: Meia cinco zero… Ah…
MARCOS PEREIRA: Seiscentos e vinte pessoas.
O ministro só faltou dizer – como aquele outro corrupto – que eram 620 mil latas de sardinha… No mesmo estilo “codificado”, Pereira lembrou a Joesley que eles já se “reuniram” cinco vezes – ou seja, que já tinham sido passadas cinco parcelas da propina.
JOESLEY BATISTA: Uma… Cinco e quinhentos… Cinco vezes cinco… Cinco de quinhentos dá… Dois e quinhentos, tá. Mais uma, dá mais quinhentos. Três, três seiscentos e cinquenta… Mais seiscentos e vinte… Quatro duzentos e setenta. Menos seis, dá quanto? O saldo. Um setecentos e trinta. Divide por três aí. Dividido por três… Um setecentos e trinta dividido por três.
MARCOS PEREIRA: Cinco, sete, meia.
JOESLEY BATISTA: Mais umas três vezes nós mata essa porra.
MARCOS PEREIRA: Pode ficar tranquilo.
JOESLEY BATISTA: Então, anota aí… Mais seiscentos e vinte.
MARCOS PEREIRA: Seis, é isso aí… É isso aí.
Joesley pergunta, então, por Antonio Carlos Ferreira, vice-presidente da Caixa Econômica Federal indicado pelo PRB:
JOESLEY BATISTA: O Antonio Carlos… Ele é bom, né?
MARCOS PEREIRA: Mantivemos ele (…). Brigamos muito, né? Foi uma queda de braço com seu amigo baiano.
O “amigo baiano” é Geddel Vieira Lima, que, no governo Temer, queria monopolizar os cargos da Caixa Econômica. Antonio Carlos Ferreira já era vice-presidente da Caixa no governo Dilma – como, aliás, o próprio Geddel. Um dos aspectos significativos da propina para Marcos Pereira é que ela começa no governo Dilma e se estende ao governo Temer, em uma perfeita continuidade administrativa.
Apenas para localizar o leitor, que não é obrigado a ser catedrático em corrupção (nem nós, mas, como temos de fazer um jornal, é preciso saber algo desses assuntos): em seu depoimento à Procuradoria Geral da República, em maio, há cinco meses, Joesley Batista declarou:
“… no processo final de aprovação de um empréstimo de 2,7 bilhões de Reais, junto à Caixa Econômica Federal, o vice-presidente da CEF, Antonio Carlos, procurou o depoente e lhe disse que sua permanência no cargo, que era de indicação do PRB, dependia do atendimento a certos pedidos (…);
“Antonio Carlos disse que seria fundamental que o depoente pagasse 6 milhões de reais de propina ao presidente do PRB, Marcos Pereira; Antônio Carlos frisou que o dinheiro não era para si e sim 100 por cento para quem o indicou;
“Marcos Pereira procurou o depoente no início do ano de 2016 e confirmou o crédito de 6 milhões em parcelas de 500 mil reais;
“… desse total já foram pagos 4,2 milhões de reais, restando 1,8 milhão de reais; a última parcela, de 700 mil reais, foi paga no dia 24/03/2017 na casa do depoente, diretamente a Marcos Pereira;
“… no dia 24 de Março de 2017, em reunião na sede da empresa, Antonio Carlos procurou Joesley Batista e cobrou o saldo” (cf. Termo de Colaboração nº 7 e Anexo 12 do depoimento de Joesley Batista).
A conversa de Marcos Pereira e Joesley Batista é sobre esse saldo – e confirma, inteiramente, o depoimento do último.
Temos, portanto, um caso de infecção corrupta, purulenta – e aberta. É verdade que Marcos Pereira, ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior de um governo que é contra o desenvolvimento e a indústria, só pode estar lá para roubar. No que não destoa em um Ministério onde há 15 investigados pela Lava Jato e outras Operações.
O sujeito – quer dizer, um ministro – é apanhado no acerto de uma propina, ao todo, de R$ 6 milhões, para facilitar a concessão de R$ 2,7 bilhões da Caixa Econômica para a JBS. No entanto, não acontece nada, exceto o ministro dizer que não vai dar explicação alguma (v. a sua nota oficial) – e, em seguida, sair de férias, provavelmente porque está muito estressado, devido a esse pessoal (isto é, o povo brasileiro) que não o deixa roubar tranquilamente.
ODEBRECHT
Marcos Pereira – como Temer – não sabe fazer outra coisa que não seja receber propinas. Abaixo, alguns trechos do depoimento de Alexandrino Alencar, diretor da Odebrecht:
“Edinho Silva [tesoureiro da campanha de Dilma] me orientou a procurar os líderes dos partidos PROS, PRB, PCdoB, PDT e PP, que já estavam cientes dos pagamentos de propina, e usar o nome dele para ajustar com cada um a forma de contribuição, via Caixa 2. O interesse do PT era o aumento do tempo de horário eleitoral na televisão (…). Encontrei cerca de três vezes Marcos Pereira (atual ministro de Estado da Indústria e Comércio), presidente nacional do PRB, em julho daquele ano, e fechei com ele as condições de pagamento do valor de R$ 7 milhões, pelo ingresso do PRB na coligação. (…) os pagamentos foram feitos em espécie, mediante entregas em flat, em São Paulo, previamente combinados por mim com o próprio Marcos Pereira”.
Este depoimento foi confirmado pelos dados constantes no “sistema Drousys” – o software do departamento de propina da Odebrecht; pelas anotações no celular de Marcelo Odebrecht; pela agenda de Alexandrino Alencar; e pelos depoimentos de Marcelo Odebrecht e de outro executivo da Odebrecht, Fernando Cunha.
CARLOS LOPES