Entregou extratos quando não era mais necessário após quebra do seu sigilo bancário e fiscal. Segundo seu ajudante de ordens, Mauro Cid, dinheiro das joias foi entregue em suas mãos. Em “cash”. “Eu acho que quanto menos movimentação em conta, melhor né?”, falou Cid
Jair Bolsonaro entregou para o Supremo Tribunal Federal (STF) seus extratos bancários dos anos em que foi presidente somente após o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizar a quebra dos seus sigilos fiscal e bancário. Ou seja, quando não era mais necessário.
Além do mais, não mostrou nada de 2023 e ainda pediu sigilo sobre os documentos.
A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, que também teve seu sigilo bancário quebrado, não entregou nada.
A defesa do ex-presidente se apressou a entregar os documentos tentando se adiantar à quebra do sigilo, solicitada pela Polícia Federal e autorizada pelo STF. A PF está investigando o desvio e a venda de joias que foram dadas como presente pela Arábia Saudita e Bahrein.
Mas a PF não espera grandes novidades da quebra do sigilo de Bolsonaro. Pois, segundo mensagens de Mauro Cid, o dinheiro das joias vendidas seriam entregues em mão, em dinheiro vivo, a Bolsonaro, por fora da movimentação bancária.
Em mensagens, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, cita US$ 25 mil, equivalentes a R$ 125 mil, que estavam com seu pai, Mauro Lourena Cid, e deveriam ser entregues ao ex-presidente Bolsonaro.
Mauro Cid ainda falou que era melhor movimentar esse dinheiro por fora das contas bancárias, para não deixar rastros.
‘Tem vinte e cinco mil dólares com meu pai. Eu estava vendo o que, que era melhor fazer com esse dinheiro levar em ‘cash’ [dinheiro vivo] aí. Meu pai estava querendo inclusive ir ai falar com o presidente (…) E aí ele poderia levar. Entregaria em mãos. Mas também pode depositar na conta (…). Eu acho que quanto menos movimentação em conta, melhor né?”, falou para outro assessor, Marcelo Câmara.
Câmara responde: “melhor trazer em cachê”. Ele estava se referindo a “cash”, como tinha feito Mauro Cid para indicar a entrega em dinheiro vivo. As mensagens são do dia 11 de janeiro de 2023.
Parte dos objetos foi levada para os Estados Unidos, no avião presidencial, nos últimos dias de dezembro de 2022 e negociada nos primeiros meses de 2023. A defesa do ex-presidente não entregou nenhum extrato desse período.
A defesa de Bolsonaro disse que entregou os extratos para afastar “a necessidade de se movimentar a máquina pública para apurar os dados bancários em questão”.
A quebra do sigilo bancário faz parte da análise do destino final do dinheiro arrecadado com a venda dos objetos de luxo, mas a própria Polícia Federal não entende como um passo tão importante no inquérito, uma vez que a organização criminosa usou “laranjas” e dinheiro vivo.
“Os valores obtidos dessas vendas eram convertidos em dinheiro em espécie e ingressavam no patrimônio pessoal do ex-Presidente da República [Jair Bolsonaro], por meio de pessoas interpostas [laranjas] e sem utilizar o sistema bancário formal, com o objetivo de ocultar a origem localização e propriedade dos valores”, afirmou a corporação em um relatório.
A investigação já identificou que Jair Bolsonaro recebeu dinheiro vivo vindo da venda das joias quando estava nos Estados Unidos.
Mauro Lourena Cid tinha recebido o dinheiro da venda de dois relógios de luxo, um Rolex e um Patek Philippe.
O Rolex Day-Date de ouro branco foi dado a Bolsonaro pela Arábia Saudita, em 2019. Já o Patek Philippe foi um “presente” que Bolsonaro ganhou em sua viagem ao Bahrein, em 2021.
Os dois foram vendidos em uma loja na Pensilvânia, nos Estados Unidos, chamada Precision Watches, pelo valor de US$ 68 mil (aproximadamente R$ 340 mil), que foram depositados na conta de Mauro Lourena Cid.
Por serem objetos de alto valor, deveriam ter sido imediatamente entregues ao acervo público da Presidência.