O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, abandonou uma entrevista coletiva com três minutos de duração, na quarta-feira (4), ao ser perguntado se o delegado Maurício Valeixo sairá do comando da Polícia Federal (PF).
O motivo da irritação com a pergunta é que Jair Bolsonaro, mais uma vez, o atropelou e disse ao jornal Folha de S. Paulo, na terça-feira (3), que está tudo acertado para mudanças na PF. Na semana passada, Moro defendeu Valeixo e disse que ele está realizando um trabalho “extraordinário”.
Moro estava fazendo um balanço da operação que investiga autores de crimes de abuso e exploração sexual contra crianças e adolescentes praticados na internet. Assim que foi perguntado sobre Valeixo, ele levantou-se e disse que precisava deixar o auditório porque tinha um outro compromisso. O repórter insistiu. Moro manteve o silêncio e foi embora.
A Associação Nacional de Delegados da Polícia Federal já se posicionou contra a interferência do presidente Jair Bolsonaro na PF. Para a entidade, uma mudança imposta pelo presidente causaria instabilidade e que é preciso fortalecer a instituição por meio da aprovação no Congresso da autonomia da PF.
“Já falamos o que tínhamos para dizer. Agora é aguardar se vai vir o ato de troca concreto e, a partir daí, sim, nos manifestarmos”, disse na quarta-feira o presidente da associação, Edvandir Paiva.
Jair Bolsonaro pretendia substituir o superintendente da Polícia Federal do Rio de Janeiro, Ricardo Saad, pelo delegado Alexandre Saraiva, hoje superintendente no Amazonas, e que seria ligado a Flávio Bolsonaro, que vinha sendo investigado por lavagem de dinheiro em seu gabinete na Assembléia Legislativa do Rio, no tempo em que era deputado estadual.
A direção da PF reagiu e impediu a nomeação de Saraiva.
Na ocasião, a PF soltou nota pública protestando contra a ingerência de Bolsonaro no órgão e ameaçou com o afastamento coletivo dos superintendentes, caso a troca fosse efetuada. A partir daí, Bolsonaro iniciou uma pressão permanente para trocar a direção da PF.
Moro indicou Valeixo para o cargo e está sendo atropelado pela intenção do Planalto de tentar abafar as investigações de Flávio Bolsonaro. O clima na PF e no Ministério da Justiça é de apreensão. Por isso a fuga da entrevista.