
Os amotinados cometeram atos de vandalismo, ameaçaram os moradores e comerciantes locais, ocuparam quartéis, inutilizaram viaturas e atiraram em um senador da República
Os governadores do Sul e Sudeste, reunidos neste fim de semana, no 6º Consórcio de Integração Sul e Sudeste (Cosudem), em Foz do Iguaçu, no Paraná, cobraram do ministro da Justiça, Sérgio Moro, presente ao evento, uma condenação mais incisiva da atuação criminosa de setores da polícia do Ceará.
Encapuzados e armados, eles cometeram atos de vandalismo, ameaçaram os moradores e comerciantes locais, ocuparam quartéis, inutilizaram viaturas e atiraram em um senador da República.
Os motins dos PMs começaram no último dia 18 de fevereiro. Pelo menos 230 policiais foram afastados e não receberão o salário por 120 dias. Cerca de 60 deles foram presos por deserção. Além disso, os agentes podem ser expulsos da corporação.
Sérgio Moro respondeu que “de fato essa paralisação é ilegal, é proibida pela Constituição. O Supremo Tribunal Federal já decidiu isso”. “O governo federal vê com preocupação a paralisação que é ilegal da Polícia Militar do Estado. Claro que o policial tem que ser valorizado, claro que o policial não pode ser tratado de maneira nenhuma como um criminoso”, acrescentou o ministro da Justiça.
A demora do ministro de Bolsonaro em reconhecer este fato fez com que os amotinados achassem que tinham espaço para radicalizar e manter o terror sobre a população do Ceará. Um deles, o ex-deputado bolsonarista, Cabo Sabino, expulso da corporação, chegou a dizer em vídeo, após a ida de Moro ao Ceará, que “agora é que a população vai ver o que é violência”.
O ministro de Bolsonaro esteve no Estado durante o carnaval para acompanhar a situação e, para surpresa das autoridades locais, nada disse de forma crítica sobre o comportamento dos amotinados que vandalizaram e aterrorizaram a população do Estado.
Chegou a minimizar a gravíssima situação, onde 195 pessoas foram assassinadas por falta de policiamento no estado durante os motins. Disse que a situação estava “sob controle”, enquanto a população do estado mantinha-se apavorada com a ação desatinada dos encapuzados e dos bandidos e com a explosão da violência.
Ao contrário do que achou o ministro da Justiça de Bolsonaro, quando esteve no Estado, o senador Major Olímpio (PSL-SP), que também esteve no Ceará, afirmou, em vídeo, que não concorda com a forma como os policiais estavam agindo. “Isso não é polícia”, afirmou o senador.
“Não posso concordar com movimento como eu vi, policiais encapuzados feito bandidos black blocs, viaturas arranhadas e depredadas, viaturas de corporações policiais e bombeiros sendo arrebatadas na rua por pseudo policiais mascarados armados”, lamentou. “Isso não é conduta de Polícia”, destacou o parlamentar.
Membros do Poder Legislativo e Judiciário do Ceará se decepcionaram com o comportamento do ministro da Justiça em sua viagem ao Ceará e com a fala de Bolsonaro em sua live. O líder do Governo na Assembleia Legislativa, deputado Julio César Filho (Cidadania), foi enfático.
“Aqueles que cometeram crime, que colocaram a população de refém precisam arcar com as consequências, porque todos aqueles que entraram nas forças de segurança militar sabiam que não poderiam se amotinar”, disse manifestando-se contra a anistia aos amotinados.
O Ministério Público do Ceará pediu a retomada dos quartéis ocupados e abriu uma investigação sobre possíveis crimes contra a segurança nacional praticados pelos policiais militares que fazem o motim no Ceará.