O que se evidenciou no comportamento do ministro da Justiça, Sérgio Moro, no programa Roda Viva, da TV Cultura, que foi ao ar na noite de segunda-feira (20), não foi só que ele se transformou num soldado obediente de Bolsonaro e suas milícias.
Não fazer críticas públicas ao presidente é uma coisa, outra muito diferente é calar sobre um atentado terrorista, como o que ocorreu na sede da produtora do Porta do Fundos no final do ano. Um dos responsáveis está foragido e, até agora, não se sabe nada sobre os quatro outros terroristas.
A estranha indiferença do ministro da Justiça em relação à bomba lançada sobre a produtora é acompanhada também de uma solene leniência com escândalos barulhentos de corrupção do governo.
Conviver silenciosamente com ministros que já estão denunciados por corrupção, como é o caso do Ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, responsável pelo desvio de dinheiro público para regar campanhas falsas de candidatas mineiras do ex-partido do presidente, e não ter o que dizer sobre isso, é no mínimo estranho.
Além de Álvaro Antônio, o chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, admitiu ter recebido dinheiro via caixa dois para campanhas e Moro fingiu que não viu. Há algum tempo ele defendeu enfaticamente a tese de que caixa dois era um crime muito mais grave do que os demais. Agora, pelo cargo, pela hierarquia, não advoga mais essa tese.
Não protestar, por obediência, contra o desmonte pelo atual governo das estruturas de combate à corrupção, como é o caso do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), pelo fato do órgão ter denunciado a existência de movimentações financeiras suspeitas do filho do presidente, não coaduna com a narrativa que marcou a imagem de Moro de intolerante contra a corrupção.
Bolsonaro iniciou uma implacável perseguição à direção do Coaf, demitiu seu diretor, tirou o órgão do ministério da Justiça, jogou-o para o ministério da Economia. Não satisfeito, mudou seu nome e lançou-o para o terceiro escalão do Banco Central. Não se ouviu uma palavra de protesto de Moro.
No programa, o ministro disse com todas as letras que não faria críticas ao presidente. “Não contrario publicamente o presidente”, afirmou Sérgio Moro. “Estou no ministério, tenho meus subordinados. Aos meus subordinados, falo com eles, dou orientações e as reprovo quando acho necessário. O senhor, por exemplo, fala publicamente de seus chefes?”, disse o ministro, para justificar seu oportunismo e sua submissão ao bolsonarismo.
Ao que parece, para Moro, “não contrariar o presidente” significa que o ex-juiz não se empenha e nem ordena uma investigação séria a um atentado terrorista explícito como o que ocorreu com o Porta dos Fundos. Significa não se preocupar mais com a punição de corruptos flagrados e denunciados pela Polícia Federal e o Ministério Público, como foi o caso do ministro do Turismo e outros.
Ou seja, agradar o presidente, “respeitar a hierarquia”, significa, para Moro, se render à corrupção que impera no governo Bolsonaro e apoiar o desmonte das estruturas de combate ao desvio de dinheiro público, significa se calar diante da perseguição a funcionários da Receita Federal e apoiar a destruição do Coaf. Para Moro, agradar Bolsonaro é aderir a seus ilícitos.