
“Um exemplo que seguirá nos iluminando”, lamentou a ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos
Nesta quarta-feira (4), a arqueóloga Niède Guidon faleceu aos 92 anos. Ela foi uma das mais importantes pesquisadoras do Brasil. Reconhecida internacionalmente, Niède dedicou a vida ao estudo da região do Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí, onde liderou escavações que mudaram o entendimento sobre a presença humana nas Américas.
A arqueóloga foi pioneira ao defender que o povoamento do continente americano teria ocorrido há mais de 50 mil anos, muito antes do que se acreditava até então. A causa da morte da pesquisadora não foi divulgada.
Niède fundou a Fundação Museu do Homem Americano (FUMDHAM) e foi responsável por transformar a região da Serra da Capivara de São Raimundo Nonato em um dos mais relevantes sítios arqueológicos do mundo.
Ela revelou ao mundo as pinturas rupestres do parque que mudaram o conhecimento sobre o povoamento das Américas.
“Com coragem, paixão e compromisso com a ciência, fundou a FUMDHAM e lutou por décadas para proteger e divulgar a riqueza arqueológica do Brasil. Sua trajetória deixa um legado imensurável para a ciência, a cultura e a memória do nosso país. Seu nome está eternamente gravado na história”, diz comunicado do parque Serra da Capivara.
Em nota, a ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Luciana Santos, lamentou o falecimento da pesquisadora. “Pioneira na popularização da ciência no Brasil, sua trajetória é marcada também por um profundo humanismo. Lutou pela preservação do nosso patrimônio natural e cultural e para que a população que mais necessita pudesse se beneficiar do conhecimento gerado em seus territórios”, destacou.
No perfil oficial do MCTI, uma nota destacou o papel de Niède, considerada uma referência na arqueologia mundial.
“Niède foi uma das maiores cientistas brasileiras e referência na arqueologia mundial. Dedicou sua vida à pesquisa e à preservação do patrimônio pré-histórico nacional, especialmente na região do Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí, onde revelou ao mundo vestígios que transformaram o entendimento sobre o povoamento das Américas”, disse.
“Com coragem, rigor científico e compromisso com a educação, Niède construiu um legado que transcende a ciência. Fundadora da Fundação Museu do Homem Americano, membro da Academia Brasileira de Ciências e Grande Oficial da Ordem Nacional do Mérito Científico, foi também uma das vozes mais firmes na defesa da valorização do conhecimento e da presença feminina na ciência. Niède Guidon deixa uma marca indelével na história do Brasil. O MCTI presta solidariedade aos familiares, amigos, colegas e a todos que, direta ou indiretamente, foram inspirados por sua trajetória”, afirmou o MCTI.
CIÊNCIA COMO VETOR DE TRANSFORMAÇÃO SOCIAL
“Sua luta incansável para conectar os sítios arqueológicos à realidade local é um exemplo de como a ciência, quando atenta ao mundo ao seu redor, pode se tornar um vetor de crescimento e transformação social. A ABC lamenta profundamente a perda de Niède Guidon e empresta solidariedade a amigos e familiares”, afirmou a Academia Brasileira de Ciências (ABC).
O governo do Piauí disse que a arqueóloga transformou milhares de vida na caatinga e seu legado estará sempre na memória e no coração dos piauienses. Segundo o comunicado, desde 1973, quando chegou à região da Serra da Capivara, Niède mudou os rumos da arqueologia brasileira e do primeiro registro do homem americano nas Américas, Ali, ela encontrou a riqueza de mais de mil sítios arqueológicos e pinturas rupestres datadas de até 12 mil anos de idade.
“Tornou sua missão o reconhecimento destas riquezas e transformou a vida de sertanejos com diversos programas sociais. Para ela, desenvolver e prosperar o Parque Nacional da Serra da Capivara era sinônimo de melhorar a vida de cada piauiense que por ali se encontrava”, diz o governo.
Também em nota, a Universidade Federal do Piauí (UFPI) afirmou que “Niède Guidon deixa um legado de compromisso com a ciência, com a valorização da memória ancestral e com o desenvolvimento social e cultural do semiárido piauiense. Sua contribuição continuará inspirando gerações de pesquisadores e cidadãs e cidadãos comprometidos com a história e o conhecimento.”
No ano passado, a arqueóloga recebeu o Prêmio Almirante Álvaro Alberto 2024. A premiação, concedida anualmente pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), MCTI e Marinha do Brasil, é um reconhecimento aos cientistas brasileiros que contribuíram de forma significativa para a ciência e tecnologia do país e se deu durante a Reunião Magna da ABC.
Esse foi mais um título para a cientista que já foi condecorada com a Ordem do Mérito Científico, Grã-Cruz, do MCTI; além de ter conquistado o Green Prize, da organização pacificista e ecológica Paliber; o Prêmio Príncipe Klaus, do governo holandês; o Prêmio Fundação Conrado Wessel de Cultura; o prêmio Cientista do Ano, da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC); o Prêmio Chevalier de La Légion d’Honneur, do governo francês.