
O Ministério Público Federal (MPF) do Brasil apresentou na última sexta-feira (20) uma acusação formal contra o ex-presidente do Paraguai, Horacio Cartes (HC); o “doleiro dos doleiros”, Darío Messer; e outros componentes da sua transnacional do crime.
Apontado como narcotraficante pelo WikiLeaks, HC é indicado como o “promotor e financiador” do criminoso esquema de lavagem de dinheiro, evasão de divisas e câmbios ilegais liderado por Messer, seu “irmão de alma”, que envolve ainda onze brasileiros, sete paraguaios e um uruguaio.
A força-tarefa da Lava-Jato do Rio havia pedido na quinta-feira a condenação de todos os integrantes da organização mafiosa que operava em países do Mercosul pelo menos desde 2011. A investigação contra o grupo nasceu no âmbito das apurações do esquema do ex-governador Sergio Cabral, condenado a 267 anos de prisão.
“A conduta do ex-presidente pode ser enquadrada, no mínimo, como agente promotor e financiador de uma organização criminosa transnacional do megadoleiro”, denuncia o documento, “promovendo sua impunidade e financiando sua existência, em prejuízo da segurança pública, do sistema financeiro e da administração da justiça brasileira”.
O envolvimento de Horacio Cartes – denunciado por entidades populares e pela oposição paraguaia como o “presidente de fato” do país vizinho – ficou fartamente comprovado, entre outras operações, por seu financiamento de US$ 500.000 (meio milhão de dólares!) para Messer, de acordo com a Promotoria.
Os procuradores explicaram que Cartes pertencia ao núcleo político que reunia empresários, políticos e advogados que garantiam as atividades ilegais da gangue e sua completa impunidade.
As autoridades brasileiras também sustentam que as evidências demonstram e comprovam que, apesar dos reiterados pedidos de captura, HC se empenhou em manter bem longe das grades o irmão de alma, envolvido com ele em gigantescos esquemas de corrupção.
Os investigadores recordam que Messer enviou uma carta escrita de próprio punho a Cartes, por meio do contrabandista Roque Fabiano Silveira, solicitando o meio milhão de dólares como apoio para seus “gastos jurídicos”. A montanha de dinheiro, lembrava Messer, lhe permitiria “passar esta etapa”, mas que necessitaria “sempre seu apoio”.
Segundo detalha a acusação, os dólares solicitados a Cartes inicialmente foram ocultados pelo empresário Antônio Joaquim da Mota até serem entregues à mulher de Messer, Myra Athaide.
Como foi demonstrado pela Promotoria, Cartes e Messer mantiveram contato de forma direta mas também por meio de intermediários como Roque Fabiano; Julio Messer, irmão de Messer; e Jorge Cartes, irmão do ex-presidente paraguaio.
Os investigadores também especificaram 17 atos criminosos cometidos pela organização desde 2011 e esclareceram que “certos delitos não se detiveram mesmo depois da prisão de Messer em julho deste ano (2019)”.
Entre outros foram denunciados Najun Azario Flato Turner e Lucas Lucio Mereles Paredes, como doleiros, organização criminosa, câmbio ilegal, evasão de divisas e lavagem de dinheiro; e Myra de Oliveira Athayde, namorada de Messer, como componente de organização criminosa e lavagem de dinheiro.
CRIME E ARROCHO
Além de ser um conhecido vende-pátria, responsável pela política neoliberal de arrocho salarial, privatizações e concessões ao capital estrangeiro, Cartes é denunciado como um narco-presidente, que se utilizou do massacre de Marina Kue, em Curuguaty, para desviar a atenção e incriminar os camponeses, mantendo-os ilegalmente na prisão. O massacre de Curuguaty, em que morreram 17 pessoas – seis policiais e onze camponeses – é considerado o impulsor do impeachment de Fernando Lugo.
Peça-chave na fabricação e falsificação de provas contra os acampados de Marina Kue, elemento central na coerção e chantagem de testemunhas, o promotor-geral do caso e posteriormente vice-ministro da Segurança do governo de Horacio Cartes, Jalil Rachid, atuou para que as lideranças dos sem-terra fossem incriminadas e condenadas a até 35 anos de prisão por “homicídio doloso”, “associação criminosa” e “invasão de imóvel”.
Em 2018, após seis anos, uma ampla campanha internacional conseguiu a libertação de todos os camponeses. Entre outras autoridades, HC ficou, até o momento, impune pelas mentiras e crimes que praticou em relação a Curuguaty.
LWS