Doze das 20 medalhas foram de esportistas femininas. Um décimo terceiro pódio, do judô por equipes, também teve participação importante das mulheres
Com o fim das Olimpíadas no último domingo (11), a delegação brasileira se despediu dos Jogos de Paris 2024 com 20 medalhas conquistadas, sendo três de ouro, sete de prata e dez de bronze. O resultado deixou o país no 20º lugar no quadro de medalhas, sendo a segunda melhor marca de sua história em números totais de pódios alcançados, abaixo apenas das 21 medalhas conquistadas em Tóquio 2020.
Esse desempenho, contudo, quando considerado apenas o número de ouros, ficou bem abaixo das duas últimas edições dos Jogos Olímpicos, quando o país conquistou 7 medalhas de ouro.
Em Paris, foram três medalhas douradas em 2024, todas conquistadas por mulheres: Beatriz de Souza, no judô (categoria acima de 78 kg); Rebeca Andrade, na ginástica artística (solo); além do vôlei de praia feminino, com a dupla Ana Patrícia e Duda.
As medalhas de prata ficaram com o futebol feminino; canoagem C1 1000 m, com Isaquias Queiroz; surfe feminino, com Tatiana Weston-Webb; marcha atlética masculina, com Caio Bonfim; ginástica artística feminina, categoria geral individual, com Rebeca Andrade; ginástica artística feminina, no salto, com Rebeca Andrade; e judô, categoria até 66 kg, com Willian Lima.
Já os bronzes ficaram com o vôlei feminino; 400 m com barreiras masculino, com Alison dos Santos; skate park masculino, com Augusto Akio; surfe masculino, com Gabriel Medina; ginástica artística feminina, categoria geral por equipes, com Rebeca Andrade, Flavia Saraiva, Jade Barbosa, Lorrane Oliveira e Júlia Soares; skate feminino, com Rayssa Leal; judô feminino, categoria até 52 kg, com Larissa Pimenta; judô por equipes; Bia Ferreira no boxe feminino; e Edival Pontes, no taekwondo masculino.
Antes das Olimpíadas, a expectativa para o Brasil era superar o recorde de 21 medalhas conquistadas em Tóquio, com uma projeção de alcançar 22 pódios. No entanto, o recorde de sete medalhas de ouro das últimas duas edições já era considerado difícil de repetir, e a previsão inicial para o número de títulos era de cinco. O grande destaque da delegação foram as mulheres que, pela primeira vez na história, conquistaram mais medalhas do que os homens.
DESEMPENHO HISTÓRICO
Antes mesmo de os Jogos Olímpicos de Paris começarem, as mulheres brasileiras já faziam história. Pela primeira vez em mais de cem anos de participações do país em Olimpíadas, a delegação do Brasil teve mais mulheres do que homens: 163 contra 126, uma fatia correspondente a 56,4% do total. Com isso, a maioria dos vinte pódios conquistados pela delegação foi resultado do empenho feminino.
Ao todo, doze das vinte medalhas foram de esportistas femininas. Um décimo terceiro pódio, o das equipes no judô, não foi obra 100% das mulheres, mas com participação importante delas. Há três anos, em Tóquio, os pódios femininos representaram 43% do total do Brasil. No Rio, há oito, 26%.
Curiosamente, elas também se sobressaíram nos outros naipes de medalhas: houve mais pratas (quatro contra três) e mais bronzes (cinco contra quatro) femininos do que masculinos.
Como era de se esperar, na coletiva de imprensa convocada pelo COB no último domingo para realizar um balanço da campanha brasileira em Paris, o assunto foi abordado.
“Há dois ciclos olímpicos, o COB começou a investir especificamente nas mulheres. Não só atletas, mas também para tentar aumentar o número de treinadoras e gestoras. O que vimos aqui em Paris no esporte reflete o que está acontecendo na sociedade: a mulher cada vez mais se fortalecendo”, disse Mariana Mello, subchefe da Missão Paris 2024 e gerente de Planejamento e Desempenho Esportivo do Comitê Olímpico do Brasil (COB).
O chefe da missão e diretor-geral do COB, o ex-medalhista olímpico Rogério Sampaio, também destacou a performance das mulheres brasileiras.
“Queremos sempre ultrapassar barreiras, quebrar recordes, vencer sempre. Acho que nesses Jogos Olímpicos conseguimos quebrar alguns desses recordes, algumas dessas barreiras, principalmente no que diz respeito ao esporte feminino, o que nos deixa bastante satisfeitos”, afirmou Sampaio.
A cada conquista feminina do Brasil em Paris, o impacto destas medalhas no desempenho geral do país, assim como em seu histórico, se afirmava com mais força. Foi na capital francesa que, por exemplo, a ginasta Rebeca Andrade saiu de um dos principais nomes do esporte brasileiro para se tornar a maior medalhista olímpica do Brasil em todos os tempos. Seus quatro pódios em Paris (um ouro, duas pratas e um bronze) levaram a paulista a seis no total, ultrapassando Robert Scheidt e Torben Grael, antigos detentores da posição.
“Para mim é uma honra ser mulher preta e hoje estar onde eu estou: no topo do mundo”, disse Rebeca.
No surfe, a prata de Tatiana Weston-Webb foi a primeira medalha de uma mulher brasileira na modalidade. Um dos esportes que mais cresce no país, o surfe do Brasil se afirmou como potência entre os homens, com sete dos últimos nove títulos mundiais. No entanto, entre as mulheres, nunca chegou lá. O resultado de Weston-Webb foi o melhor do Brasil em Paris e pode abrir caminho para uma nova era do surfe feminino.
“Sinto nada mais do que orgulho de representar as meninas, especialmente o surfe no Brasil. Espero que isso inspire várias meninas a surfarem e irem atrás dos seus sonhos”, declarou a surfista após a conquista da prata.
O ouro conquistado por Duda e Ana Patrícia deu fim a um jejum de 28 anos sem mulheres brasileiras subirem ao lugar mais alto do pódio no vôlei de praia olímpico. Porém, enquanto a vitória em 2024 era a afirmação do crescente impacto feminino no esporte brasileiro, em Atlanta-1996 as duas medalhas do vôlei de praia do Brasil – ouro para Jacqueline e Sandra e prata para Mônica e Adriana Samuel – eram literalmente os primeiros pódios de mulheres brasileiras em Olimpíadas.
Com mais oportunidades vêm mais resultados. É o que pensa a boxeadora Bia Ferreira, que em Paris acrescentou um bronze à sua coleção olímpica, que contava com uma prata obtida em Tóquio.
“As mulheres sempre trouxeram bons resultados. Temos grandes atletas de referência feminina, só que tínhamos um número menor. Acredito que era por isso que não tinha mais resultados. Então quanto mais oportunidades vierem e mais mulheres se classificarem, automaticamente vamos trazer resultados”, expôs a atleta.
SALDO POSITIVO
Ainda, Rogério Sampaio afirmou que o saldo desta edição dos Jogos no país é positivo, com o Brasil chegando ao top-15 no quadro histórico de medalhas e top-20 em número de ouros (excluindo nações extintas, como a União Soviética).
“Isso nos deixa bastante satisfeitos. Com a apresentação dos nossos atletas, inspiramos a sociedade. Todos que acompanharam as competições se sentiram inspirados. Mesmo aqueles que não conseguiram conquistar uma medalha, tiveram seus melhores desempenhos, também inspiraram nossos torcedores e a população brasileira”, exaltou Rogério Sampaio.
Além das performances dos medalhistas em Paris, o Brasil vê com bons olhos desempenhos de atletas que ficaram a uma vitória do pódio, como, por exemplo, Hugo Calderano, do tênis de mesa, Rafaela Silva e Rafael Macedo, do judô; Jucielen Romeu, Keno Machado e Wanderley Pereira, do boxe, e Giullia Penalber, da luta livre. E também a multimedalhista Rebeca Andrade, que ficou em quarto lugar na trave.
Por sua vez, o diretor de Alto Rendimento do COB, Ney Wilson, destacou o desempenho de atletas que ficaram a uma vitória do pódio, como Hugo Calderano, no tênis de mesa, além de outros seis atletas em esportes como judô, boxe e luta livre.
Ele também lamentou as condições climáticas que acabaram afetando o resultado final de competidores brasileiros, notadamente o caso da semifinal disputada por Gabriel Medina, no surfe masculino, em condições desfavoráveis das ondas do Taiti.
“Pequenos detalhes fazem muita diferença entre uma medalha de ouro, de prata, de bronze, um quarto ou um quinto lugar. Se algumas ondas, alguns ventos e algumas situações não tivessem acontecido, a gente teria ainda mais motivos para comemorar”, exemplificou Wilson.
LOS ANGELES 2028
Por fim, a subchefe da Missão Paris 2024 do COB e gerente de Jogos e Operações Internacionais, Joyce Ardies, detalhou alguns pontos que o Comitê já está atento para as Olimpíadas de Los Angeles em 2028 e mesmo para Brisbane (Austrália) em 2032.
“Em 2023, fizemos a primeira visita a Los Angeles. Temos um consultor local bastante engajado na procura de soluções concretas. Esperamos até o final do ano já termos uma ideia das instalações que irão prover toda a infraestrutura para os atletas”, disse. “Para Brisbane 2032, já começamos a fazer reuniões, uma aqui em Paris, para entender onde será a Vila, perímetro de segurança, e a questão do fuso de 12 ou 13 horas, que exigirá um período de aclimatação bem grande, com estruturas que serão bastante concorridas. Então, temos que trabalhar com antecedência, montar um plano de ação para chegarmos os mais preparados possíveis para esses Jogos”, concluiu Joyce Ardies.